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Tecnologia

Enfim, É Hora de Dar Adeus ao Orkut

No final de setembro, finalmente o Orkut poderá ser enterrado em paz, com caixão aberto, flores e discurso da Katilce.
Crédito: Flickr/prithviz

Depois de anos de silêncio misturado com certo desdém, o Google finalmente anunciou que irá “descontinuar” (ou seja, irá fechar) o Orkut no final de setembro, a rede social que completou 10 anos em 2014. Pelo menos um enterro digno foi permitido.

A notícia surgiu hoje pela Folha de São Paulo, que mostrou que já não é mais possível criar perfis novos na rede social, e a carta de adeus surgiu pelo Olhar Digital, que confirmou uma data: 30 de setembro será o último dia de existência daquele fundo azul bebê que você cansou de ver durante tanto tempo.

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O anúncio do Google, em um texto intitulado “Adeus ao Orkut”, mostra pelo menos uma dose de respeito ao site que era povoado por milhões de brasileiros em seus tempos mais áureos. Nos últimos anos, quando o Orkut perdeu o espaço de vez para o Facebook, o Google simplesmente largou a ferramenta, mesmo com uma presença considerável de usuários.

Isso causou estranhamento: é como se nos últimos três ou quatro anos o Orkut fosse um zumbi, ou apenas estivesse enterrado em uma vala comum, sem o direito de ser celebrado com caixão aberto, coroa de flores e discursos de criadores de comunidades e da Katilce. A situação era ainda pior porque o Google foi limando funções do Orkut, limitando a possibilidade, por exemplo, de buscar conteúdos em comunidades – ou seja, além de não liberar um enterro digno, a empresa ainda foi tirando os anéis e os dedos da moribunda rede social.

No início do ano, quando o Orkut completou 10 anos, as diversas homenagens eram saudosas e emocionadas, como se falássemos de alguém que já se foi, mas ele estava lá, respirando por aparelhos. Agora, no dia 30 de setembro, poderemos prestar nossas homenagens mais calorosas e emocionadas.

Orkut Buyukkokten, à esquerda, criador da rede com seu nome, em visita ao Brasil, em 2007. Crédito: Flickr/Wagnertamahana

O fim do Orkut marcará também o fim de uma certa web mais ingênua que existia no início da grande expansão da internet no Brasil. Das limitações técnicas ao conceito das comunidades, o Orkut foi a transição entre a internet mais voltada para fóruns e descobertas aleatórias e a construção de um “você” virtual, de imagem digital que esperamos passar.

O Orkut fortalecia a ideia (cada vez mais distante) de que a internet é um lugar para conhecer estranhos e explorar coisas novas. Você podia simpatizar com alguém numa comunidade, trocar alguns scraps, talvez até um depoimento, e muita gente sabe de uma amizade ou algo do tipo que surgiu ali, nas páginas do Orkut. Num mundo pós-NSA e com o Facebook cada vez mais querendo que você conheça apenas seus amigos e nada mais e continue sendo um produto a ser vendido para anunciantes, o Orkut pode ficar aliviado por pelo menos ter evitado esse cinismo digital que nos persegue.

Por conta disso, hoje é mais fácil entender o motivo da derrocada do Orkut: ele não era uma ferramenta pensada para vender anúncios, nem transformar seus usuários em produto para marcas, nem para "monetizar" vídeos, cliques e compartilhamentos. Ele era só uma rede social criada por um figura chamado Orkut. Por que o Google investiria em algo que não aumentava sua receita?

Pelo menos, agora, teremos o direito de enterrar o corpo e falar palavras bonitas. Se até o Google Wave e o Google Buzz tiveram o direito de um fim mais digno, o Orkut merecia muito mais do que isso. Que venham as homenagens.