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Tecnologia

​O Que São Aqueles Pontinhos Azuis em Marte?

Parecem oásis ricos em água, mas são detritos.
Crédito: European Space Agency

Na manhã de domingo, a Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês) divulgou uma fascinante imagem de satélite de Marte, tirado pelo Mars Express. A foto retrata a região de Arabia Terra do Planeta Vermelho, que talvez seja familiar aos fãs do romance O Marciano, de Andy Weir.

Este pedaço de terra cheio de crateras, com cerca de 4.500 quilômetros de diâmetro, tem dois pontos azulados que, em um primeiro momento, parecem oásis ricos em água em meio ao deserto marciano.

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Parecem, mas não são.

Na realidade, os pontinhos não passam de uma miragem causada pela perspectiva do satélite que tirou a foto e o próprio processamento da imagem; são, a bem dizer, acúmulos de sedimentos ricos em basalto levados pelo vento. Esses minerais são depositados nas crateras pelas tempestades de poeira que podem cobrir todo o planeta durante semanas. Eles levantam quantidades absurdas de detritos e erodem grandes porções da superfície marciana.

Arabia Terra é um excelente local para se estudar as consequências geológicas das tempestades. É uma das regiões mais antigas do planeta. Bilhões de anos de erosão cumulativa e depósitos sedimentários se espalham pelo horizonte e oferecem uma visão ampla de seu passado tumultuoso.

Vista mais ampla da foto de Arabia Terra tirada pelo Mars Express. Crédito: European Space Agency

As crateras mais recentes da região — como a criada por um meteorito cerca de 12 anos atrás — tem extremidades mais pontiagudas que as antigas, alteradas com o passar de tempo. Essa variada coleção de relevos faz de Arabia Terra uma das regiões mais distintas de Marte para estudo.

De acordo com artigo de 2007 publicado no periódico Icarus, Arabia Terra conta com canais de escoamento misteriosos sem origens óbvias, ao passo que estudos recentes sugerem que a região serviu de lar para supervulcões há cerca de 3,7 bilhões de anos atrás, o que serviu para dar ainda mais à mística do lugar. Em resumo: Arabia Terra é um misto de bizarrices geológicas que contextualiza o passado de Marte de forma que poucas outras regiões poderiam.

Por mais esquisito que o território seja, imagens como esta do Mars Express deixam claro que outros mundos também estão sujeitos aos mesmos processos naturais pelas quais a Terra passa. De fato, Marte não é o único ambiente extraterreno que foi modificado por ventos e tempestades — Titã, satélite de Saturno, também foi esculpido por meio destes processos.

Enquanto nenhum desses mundos é habitável para humanos, o fato de que os cientistas continuam observando fenômenos familiares em nosso próprio sistema solar nos dá esperanças de encontrar locais similares à Terra em outros pontos do universo.

E por mais que agora só astronautas da ficção tenham visitado Arabia Terra, isso logo pode mudar: as ambições da NASA são colocar um homem em Marte por volta de 2030. Se a região já é atraente o bastante a partir da visão do Mars Express, então talvez seja hora de olharmos mais de perto para irmos nos acostumando às suas peculiaridades, não?

Tradução: Thiago "Índio" Silva