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Música

Discos: Chihei Hatakeyama

O mar, a solidão e a melancolia.

Alone by the Sea
White Paddy Mountain
8/10 A sorte de ter o disco de estreia, Minima Moralia, aclamado pela Pitchfork (deu-lhe, na altura, a nota de 8,1) contribuiu bastante para que o nome de Chihei Hatakeyama ganhasse relevo desde cedo. Contudo, a Pitchfork, que adora ser a primeira a badalar o nome dos seus favoritos, nem sempre é a publicação mais atenta à continuidade do percurso daqueles que enalteceu precocemente. Minima Moralia é, de facto, um óptimo disco para quem estiver interessado em seguir a música minimalista por diferentes vias, mas depois desse foram vários os discos em que Chihei Hatakeyama merecia a mesma atenção ou até mais (Ghostly Garden e A Long Journey confirmam, por exemplo, a excelente forma do compositor japonês, em 2010, ano especialmente dedicado a uma sonoridade mais atmosférica). Três anos depois do seu “ano atmosférico” e sete passados sobre a surpresa de Minima Moralia, este Alone by the Sea incide em dois temas românticos (o mar e a solidão) para chegar a um sentimento de pura melancolia que Chihei Hatakeyama expressa através de loops repetidos durante faixas com mais de dez minutos. Falar de melancolia e loops sem mencionar o trabalho do compositor William Basinski é quase uma traição, e não existem quaisquer dúvidas de que a marca da sua música nunca esteve tão próxima de Chihei Hatakeyama como em Alone by the Sea. E onde a música de Basinski ilustra uma Nova Iorque envelhecida e em decomposição, os loops igualmente entristecidos de Hatakeyama parecem apontar para um tempo em que mar pertencerá apenas a uma vasta praga de nomuras (uma espécie de alforreca japonesa) e à memória do que já lá vai.