Sabes fazer amigos fora da Internet?

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Sabes fazer amigos fora da Internet?

Os millennials estão a abandonar o mundo online e a voltar às ligações da vida real.

Este artigo foi originalmente publicado na nossa plataforma i-D.

Não é segredo para ninguém que as redes sociais estão a sofrer uma enorme reacção negativa nos últimos tempos. Um capítulo recente desta história teve como protagonista a campanha viral lançada pela estrela adolescente do Instagram Essena O'Neill, que denunciou o que considera ser uma fraude da plataforma e aproveitou a sua influência para criar um "fórum de colaboração positiva para que as pessoas falem das coisas do MUNDO REAL".

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Quer acredites neste movimento, ou vejas a coisa como um mero truque publicitário, é certo que a direcção que estão a tomar as novas amizades dos jovens adultos revela que a posição de O'Neill, apesar da polémica, tem alguma coerência. Os millennials estão a abandonar o mundo online e a voltar às ligações da vida real.

Durante os últimos 10 anos, muitas das nossas interacções aconteceram dentro dos ecrãs dos computadores e dos smartphones. "Tuitámos", enviámos mensagens instantâneas, escrevemos em blogs, metemos fotos no Instagram, distribuímos "likes", usámos o snapchat e fizemos "match".

Algumas carreiras e personalidades nasceram (e morreram) sem sequer terem posto um pé fora de casa. Agora que a nossa capacidade de utilizar estas plataformas para construir realidades falseadas está mais que provada, os jovens procuram algo mais profundo e autêntico.

Fora da Internet, a geografia faz com que as ligações na vida real sejam um desafio. A Vox, por exemplo, diz que, aparentemente, as principais cidades nos Estados Unidos estão desenhadas de forma a manter as pessoas distantes, porque os jovens adultos não se podem dar ao luxo de viver nos bairros mais movimentados. Elimina-se, assim, a oportunidade de criar uma ligação espontânea e saudável.

Além disso, o aumento de grupos dedicados a seguir raparigas famosas transformou a própria ideia de amizade numa espécie de fetiche.

No The Female Friendship Myth, Phoebe Maltz Bovy argumenta que devido à nossa obsessão com os grupos de amigas incondicionais de celebridades, como a pandilha da Tayor Swift, ou as Jenner/Hadid, "querer pertencer a um grupo de amigas é um estigma que supera o de estar solteira". Se antes sentíamos inveja da rapariga com namorado, agora a nossa raiva dirige-se às raparigas com muitas amigas".

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Quando vemos imagens de uma união forte entre miúdas, temos a sensação de que toda a gente está a passar um bom bocado sem nós. Felizmente, existe uma aplicação para solucionar este grande problema: "Squad", que já conseguiu um financiamento de mais de 1,6 milhões de euros, ajuda homens e mulheres a ampliarem os seus círculos sociais e a conseguirem criar a grupeta dos seus sonhos. A aplicação conecta grupos de amigos com outros grupos de amigos e aproveita o fenómeno impulsionado pelo Instagram para que selecciones cuidadosamente com quem queres estar.

De certa forma é a resposta à inveja causada por estes grupos. O director executivo, Adam Liebman, explica que a aplicação foi desenhada para imitar a forma como nos encontramos com amigos na vida real. "De forma deliberada, não criámos uma opção de uma só pessoa, porque queremos que as pessoas passem tempo com os seus amigos, que se divirtam, e que conheçam gente nova quando já se sintam seguros e confortáveis", assegura.

Liebman diz que a "Squad" se utiliza para todo o género de conexões, desde adeptos de desporto em busca de novos companheiros para verem a bola, até grupos que se juntam em bares e continuam a fazê-lo depois do primeiro encontro.

"Até agora, vimos uma percentagem muita alta de 'matches' que acabam por conhecer-se na vida real", confirma Liebman, e acrescenta: "Os seres humanos são criaturas sociais por natureza e o Squad aproveita-se disso".

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Segundo uma sondagem recente da Gallup, cada vez mais jovens adultos (com idades entre os 18 e os 29 anos) permanecem solteiros e vivem sozinhos, com um aumento significativo deste grupo, que passou dos 52% em 2004, para os 64% em 2014. De qualquer forma, estamos a falar de um grupo muito sociável, criado num ambiente onde se comunica constantemente, daí o uso do termo "Geração FOMO", cuja sigla em inglês significa algo como o medo de se perder algum hype.

Se juntarmos à equação um mercado de aluguer caro e competitivo, vemos que chegou o momento de partilhar casa. Hoje em dia, três ou mais pessoas sem qualquer relação vivem juntas, e estão unidas por objectivos e interesses comuns.

Imagem via @omarrahmed

Recentemente, um artigo publicado na revista The Atlantic, propunha esta forma de vida como uma "possível solução para os millenials solitários". Na verdade, esta espécie de conceito de "residências para adultos", vem um pouco dos espaços de co-working, levando-os a um outro nível, oferecendo por um preço acessível, pequenos apartamentos equipados com cozinha, quartos e casas de banho, para além de espaços comuns para lazer, cozinhar e outras actividades.

Commonspace, uma nova comunidade de partilha em Syracuse, nos Estados Unidos, coloca assim a questão no seu site: "Somos criaturas sociais e as melhores versões de nós próprios mostram-se quando estamos em grupo"

Segundo o seu fundador, Troy Evans: "Os millennials estão à procura da melhor forma para se conectarem uns com os outros. Desde o êxodo em massa dos centros das cidades para os subúrbios, que podemos ver na diminuição da zona urbana, até ao aumento da população de trabalhadores independentes que trabalham essencialmente sozinhos, à agitada vida do mundo ocidental e ao auge das redes sociais, tudo isto foi causando erosão na nossa capacidade para ter relações cara a cara".

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A visão de Evans de uma sociedade mais intimamente ligada, não só é atractiva, como é quase utópica na sua senda de combinar design, tecnologia e cultura de uma forma que permita às pessoas viver em espaços pequenos, desfrutar da cidade e interagir de forma natural.

Não obstante, há já outras versões desta comunidade, como a Krash, em Boston, Nova Iorque e Washington DC (uma startup que afirma que mais de 200 empresas nasceram dentro das suas paredes); Podshare, em Los Angeles (onde alguns dos seus membros fizeram tatuagens tribais semelhantes); Pure House, em Williamsburg (que foi comparada a uma "comuna de millenials"), e o projecto pioneiro em Berlin, R50 Baugruppen (dirigido por arquitectos e financiado pela própria comunidade).

Cada comunidade tem o seu próprio estilo, mas todas oferecem acessibilidade e oportunidades para socializar num mundo cada vez mais distanciado. Esta forma de casa partilhada é uma opção extrema, mas nem sempre adequada para todos.

A maioria continua a optar por mudanças de comportamento menos drásticas, como guardar o telefone durante um jantar para pôr a conversa em dia com os amigos, ou ligar a alguém em vez de enviar um sms pouco pessoal. Allie, uma directora de marketing que trabalha em Los Angeles para uma popular marca de calçado, prepara-se para uma viagem à Colômbia com os seus colegas de trabalho.

Estarão acompanhados por um fotógrafo profissional contratado pela El Camino Travel, empresa cuja missão passa por oferecer experiências autênticas e livres de distracções, que permitam aos viajantes deixar os telefones em casa e viver o momento.

O fotógrafo envia-lhes mais de 20 imagens todas as manhãs, para que possam partilhar imediatamente nas suas redes sociais. "Assim asseguramo-nos que passamos o tempo imersos na experiência, e não a tirar a melhor fotografia para o Instagram", explica Allie.

Com tudo isto não queremos denegrir o valioso papel das redes sociais no novo clima social em que vivemos. Apenas queremos mostrar que, se calhar, só conheceremos todo o seu potencial quando as utilizarmos em conjunto e como catalizador de uma interacção humana real, de carne e osso, e não como o seu substituto.