Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência BrasilApós uma das sessões mais longas que se tem notícia na história recente do Senado brasileiro, a presidente Dilma Rousseff está afastada por até 180 dias do cargo após a casa aprovar a abertura do processo de impeachment por 55 votos a favor e 22 contra.Começando na manhã desta terça-feira (11), o debate pré-votação seguiu até quase 6h da manhã da quinta-feira (12). 71 senadores se inscreveram para falar, e cada um contou com um tempo máximo – muitas vezes extrapolado – de 15 minutos para discursar.
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Diferentemente da conturbada e já folclórica votação na Câmara, o processo de abertura de impeachment no Senado foi mais civilizado. Atentou-se muito para os crimes de responsabilidade relacionados aos decretos de crédito suplementar, base do pedido de impeachment, mas também falou-se muito da situação econômica do país, numa admissão ampla de que o julgamento do impeachment será, antes de tudo, político.É claro que não faltaram discursos fantasiosos, como o de Magno Malta (PR-ES), declarou ter saudades das aulas obrigatórias de OSPB (Ordem Social e Política Brasileira), doutrinação ufanista da época da ditadura. Do lado do governo, não faltou quem chamasse o processo de "golpe" – Telmário Mota (PDT-RR) chegou a evocar Renato Russo e "Que País É Esse?", da Legião Urbana (por sorte ninguém respondeu, como parece ter virado costume nos shows do Capital Inicial, "é a porra do Brasil").A votação em si ocorreu às 6h30 da manhã de quinta, e marcou uma derrota importante para Dilma e o PT. Apesar da falta de três senadores e da abstenção de Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, o placar contou com mais de dois terços a favor da admissibilidade do processo – para afastar permanentemente a presidente ao final do julgamento, a oposição precisa de 54 votos. O PMDB se esforçou para cravar o placar, levando de última hora os senadores Edison Lobão e Rose de Freitas ao plenário – a capixaba Rose estava em São Paulo em um tratamento de saúde.O acordo foi costurado de última hora por Michel Temer, que temia que uma revolta do PMDB no Senado atrapalhasse sua recém-iniciada presidência. Na ponta do lápis do seu mutante gabinete ministerial achou espaço para Fernando Bezerra Filho no Ministério de Minas e Energia, e ainda prometeu ao Senado a indicação (ainda sem nome) do ministro da Integração Nacional, azeitando as relações com a casa.Agora começa efetivamente o julgamento de Dilma. As sessões no Senado serão presididas por Ricardo Lewandowski, presidente do STF, com direito a testemunhas de acusação e defesa. O Senado tem até 180 dias para encerrar o julgamento - se estourar o prazo, Dilma volta automaticamente à presidência. Para confirmar o impeachment ao final do processo haverá uma votação final, na qual dois terços dos senadores (54 votos), pelo menos, precisam votar pela saída da presidente. Com tudo contra, o PT vai ter que correr atrás do prejuízo para reverter esse implacável placar.