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Tá Tendo: Feira Plana 2

O evento, que neste fim de semana ocupa os ambientes interno e externo do MIS, revela uma amostragem bem diversa e numerosa da produção editorial alternativa e independente no país.

Uma viagem a Nova York, em 2012, inspirou Bia Bittencourt na criação da Feira Plana. O evento, que neste fim de semana ocupa os ambientes interno e externo do MIS (Museu da Imagem e do Som), revela uma amostragem bem diversa e numerosa da produção editorial alternativa e independente no país. Bem na época em que ela estava por lá, a loja/editora Printed Matter realizava a NY Art Book Fair, uma espécie de feira gigante do gênero no MoMA PS1. "Foi bem quando eu estava indo embora, nem consegui ver direito", conta a organizadora. "Mas fiquei encantada com a possibilidade, com os zines, com as publicações independentes, com todas aquelas coisas lindas e coloridas. Aí eu quis copiar."

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Envolvida há milianos com fanzines e publicações independentes, a atual dona da Kaput Livros, que também vai ter sua banquinha na feira, escreveu o projeto em um mês ao chegar no Brasil e saiu em busca de um lar para acolher sua ideia. "Na minha cabeça, tinha que ser um espaço público e democrático, mas ninguém dava bola nem respondia meus e-mails. Até que a Bebel Abreu, amiga querida, me passou o contato do MIS, que foi super receptivo. Eles acreditaram em mim e a feira aconteceu tranquilamente no ano passado", conta ela.

Participam, com stands montados para venda e exposição de material, editoras pequenas ou fictícias. São fanzines, publicações de pequenas tiragens, livros artesanais e livretos. Esta é a segunda edição, que se pretendia semestral na gênese da ideia, mas que seguirá acontecendo anualmente, diante da quantidade de trabalhos inscritos para selecionar. "Senão eu fico maluca!", me disse a Bia num desabafo empolgado.

Vão rolar também shows e workshops. No sábado, o Auditório recebe gratuitamente show de Tilda Flipers, da Argentina, às 19h. No domingo, é a vez do Objeto Amarelo subir ao palco, às 16h, dentro do projeto Cinematographo, para show embalado por imagens da cineasta, animadora e artista plástica Amy Lockart — os ingressos custam R$ 6. A Amy vem de Toronto para um workshop (ministrado em inglês) no sábado, das 14h às 18h, no Lab MIS. Já a oficina da dominguera vai abordar, no mesmo espaço e horário, a produção queer em fanzines desde os anos 1970, com foco nas publicações norte-americanas, com Eloisa Aquino. Os participantes vão botar a mão na massa e produzir zines coletivos ou individuais.

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Troquei uma ideia com a Bia sobre a proposta da iniciativa e a expectativa dela para este ano. Se liga aí:

VICE: Qual é seu envolvimento pessoal com a cultura das publicações independentes? Você vem daquela turma que fazia/faz fanzines?
Bia Bittencourt: Super faço! Sempre fiz, mandava pelo correio. Continuo fazendo. Este ano, vou até fazer minha própria banquinha na feira, a da Kaput Livros. Parece que a feira é quase um motivo gigantesco que inventei para poder fazer circular meus próprios zines e os dos meus amigos. Mas aí que eu percebi que eles são muitos! Conheci um monte de gente interessada em publicar independente todo tipo de coisa, e aí ficou monstruoso.

O que esta segunda edição trará de diferente ou de destaque em relação à primeira?
Acho que vai ser bem diferente. Este ano, a feira vai ficar dividida entre dentro e fora do MIS, não só dentro, como no ano passado… Menos sufocante! O Bowie tá espaçoso lá e não coube todo mundo que eu selecionei. Ah sim, tem isso! Ano passado eram 90 editores/artistas/zineiros/fictícios/guerrilheiros, este ano, são 140. Também haverá workshops para o pessoal que se inscrever antes, vai ser muito legal. Vem artista de fora do Brasil, como a Amy Lockhart, do Canadá, que tem uns desenhos doentes e umas animações absurdas. Hummmm… no Auditório continua tendo música experimental do pessoal que faz zine, como o Tilda Flipers e o Objeto Amarelo. Este ano, contamos com vários apoiadores, como os parceiros da IdeaFixa, as gráficas e editoras Pingado-Prés e Meli-Melo Press, o designer Sometimes Always, que está cuidando de todas as peças gráficas e a Adidas Originals, que está bancando o Zine Feira Plana, feito em risograph, a ser distribuído gratuitamente aos presentes, e os dois workshops internacionais no Lab MIS.

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Zine da Companhia Rapadura.

O firmamento das plataformas digitais de comunicação nem de longe acabou com o barato que as pessoas têm com o papel ou mesmo os experimentos estéticos possíveis de serem explorados nesse campo editorial. Exemplo disso é que a própria estreia da Feira Plana surpreendeu os apaixonados por arte, design e formas pouco convencionais de comunicação, não é?
Sim, é isso mesmo, mas não é só artista e designer. Acho que todo mundo gosta de impresso. Não tem como, livro é cada vez mais fetiche. Pena que é difícil de fazer pelos meios tradicionais, vender também. E comprar, então, estão caros, né?

Você acha que publicações com um sentido de vanguarda ou artesanal podem atrair um público cada vez mais jovem a se interessar e contribuir criativamente com o futuro da comunicação impressa?
Eu não sei dizer direito se esses artistas influenciam a mídia tradicional. Devem influenciar, de certa maneira, porque o pessoal tá sempre de olho em tudo o que tá acontecendo. As pessoas se inspiram aqui e ali, mas acaba virando outra coisa, né? Zine é um objeto de espírito livre. Nas bancas de jornal, o feio tem que existir para que o lindo seja lindo. Se tudo for lindo, aí no fundo a gente vai achar tudo feio mesmo sendo lindo. Eu faço curadoria sentimental para a Feira Plana e seleciono as coisas que EU acho bonitas, promissoras e interessantes de se ver.

Quantas publicações participam este ano e em que "categorias" elas poderiam ser divididas? Com a repercussão da proposta entre a primeira e a segunda edição, quantas pessoas a Feira Plana espera receber?
Quantas publicações é uma pergunta impossível de responder. Pensa que quando o mano é selecionado, ele tem dois zines, aí ele fica emocionado, vai lá e faz mais dez, porque é assim, né? Zine é assim, pá pum. A Feira Plana é uma grande surpresa. Mas, digamos que tem zine de xerox, fotolivros, de desenhos e colagens, espaciais, mais artísticos, quadrinhos, os mais pobrinhos em sulfite e os mais riquinhos em papel dourado. Não tenho ideia de quantas pessoas irão. Ano passado, eu tive uns sonhos, um dia antes da feira, que não ia ninguém e todo mundo comia sushi no final. E foram, tipo, quatro mil pessoas em um dia. Para este ano, não sei o que esperar… espero que vá um monte de gente.

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O zine Causa Mortis.

A galera que frequenta o evento em geral sai de lá com uma porção de publicações compradas, ou o público é mais curioso do que consumidor?
Compra, viu! Fiquei sabendo que compra bem. Eu não fiz banquinha ano passado e não senti em dinheiros o quanto venderia, mas o pessoal deu soldout em quase tudo. Cinco da tarde pessoal já tava limpando a mesa, colocando plaquinha de que foi passear porque tinha esgotado.

Que outros eventos/iniciativas/coletivos podem ser considerados irmãos ou parceiros da Feira Plana e que você recomendaria para que nossos leitores acompanhem e fiquem de olho?
Tem a Feira de Impressos Tijuana, da Galeria Vermelho. No Rio, a Rachel d'A Bolha Editora, junto à Comuna, faz a Feira Pão de Forma, que inclusive está com as inscrições abertas. E em outro evento mais pontual e mensal que chama Fatia, eles convidam os artistas que publicam zines para fazer uma exposição com os trabalhos que geram as publicações. A Tarde Abstrata, evento de música abstrata que meu namorado organiza na galeria Logo é mensal e sempre organizo banquinha de zine. Daí vão acontecendo coisas por aí que o pessoal se organiza, convida, a gente vai se virando. Aí tem as gringas: agora em abril vou para Madri, na feira de Libros Mutantes, e ano passado participei da NY Art Book Fair, a inspiradora da Feira Plana como expositora. Foi bem emocionante!

Clique na próxima página para sacar melhor alguns dos zines que estarão na feira:

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Ugra Press

Do material que a editora, loja virtual e produtora de eventos paulistana Ugra Press levará para a Feira Plana, além de muita coisa brasileira, destacamos as publicações importadas de quadrinhos. Nesse campo, eles selecionaram material de editoras como Stripburger, Retrofit, Space Face Books e Birdcage Bottom. E, na banquinha da Ugra, também vai ter coisas relacionadas às artes visuais (Last Gasp), música (Bazillion Points, PM Press, Re/Search) e até cinema (como o zine sueco Horrophobic, especializado em gore/splatter e transas afins).

A Bolha Editora

A editora independente especializada em títulos traduzidos para o português também publica autores brasileiros, a fim de serem divulgados na América do Norte. Alguns dos destaques na edição deste ano são os zines Quadratura #1 e #2, do Rodrigo Martins.

Amy Lockhart

Amy, a menina canadense que vai dar workshop no evento, também participa com suas publicações. Cineasta, animadora e artista plástica, ela é autora de séries de desenhos e zines.

Beleléu

Focado especialmente em quadrinhos e artes gráficas, o selo carioca de publicações independentes é conhecido por trabalhar com experimentação narrativa. Não raramente, surge com projetos que exercitam a criação coletiva, com autores convidados de todo os país. Exemplos disso são as publicações Dominó Beleléu, as séries Monstros e Tension de La Passion, e o Calendário Pindura.

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Fera Vischer

Gabriel Finotti apresenta o projeto coletivo composto por publicação, CD e uma totebag. Ele apresenta o trabalho como sendo "uma monografia criada em cima de Fera Lúcifer Vischer, um antigo demônio brasileiro e uma das mais famosas pragas do país. Tratada como a representação do mal, em sua forma original de atriz responsável por uma extensa obra pseudo-dramaturga".

Causa Mortis

Zine com vários artistas editado pela dupla Dimas e Chaino. O projeto traz trampos de nomes como Herbert Baglione, Alexandre Sesper, Yusk, e os gringos Hell'O Monsters (FRA), Cleon Peterson (EUA) e Daan BoTlek (HOL). Nesta edição, eles levam também zines individuais dos dois criadores, além de coisas de Wagner Olino, Carlos Cruz e Marcio Moreno.

Companhia Rapadura

O coletivo de fotógrafos é formado por 13 jovens brasileiros que se reuniram por meio do Flickr. O trampo deles é marcado pelo uso da tecnologia analógica como opção estética. Produzem zines, calendários e posteres.

CONTRA

Encabeçada pelo designer Guilherme Falcão, funciona como uma plataforma editorial colaborativa, unindo produção cultural visual pautada pelo inconformismo e a sofisticação. Na banquinha da CONTRA, os visitantes da feira vão encontrar fanzines "politicamente fofos com papel sem revestimento". Nesta Feira Plana, haverá lançamento da nova publicação de Carlos Issa, Detrito, e Interstício, de Laura Gorski.

Tomas Spicolli

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Verdadeira entidade da cultura underground em seu país, o argentino produz zines, discos, shows, roupas, vídeos, intervenções urbanas, exposições e obras de arte. Seu trabalho é reconhecido pela distorção de diferentes técnicas de reprodução de imagens, manipulando imperfeições da fotocópia, do stencil, da serigrafia e da cópia carbono para amplificar suas pinturas, desenhos e colagens. Ele é aquele cara que fez as capas de disco do Fun People e artes em geral pro 7MAGZ e Tilda Flipers. Lembrou?

Meli Melo Press

Pequena editora e estúdio de design da dupla Beto Galvão e Anne-Sophie, publica trabalhos gráficos criativos de ilustradores, artistas e autores. A boa qualidade das pequenas e médias tiragens vem da duplicadora própria que eles adquiriram, uma Risograph RZ 370. Assim, é possível viabilizar pequenos livros e peças mais complexas com uma qualidade similar à serigrafia e a agilidade do offset. A foto é uma interna do zine Dois (DW Ribatski).

+ info:

Feira Plana 2 @ MIS

Av. Europa, 158, Jardim Europa

8 e 9 de março. 12h às 20h.

Entrada gratuita.

feiraplana.org