Fotos da Intervenção Inglesa na Irlanda do Norte que Levou às Revoltas de Coalisland em 1992

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Fotos da Intervenção Inglesa na Irlanda do Norte que Levou às Revoltas de Coalisland em 1992

As fotos que você vê aqui são tudo que me restou daquela intervenção de emergência no Condado de Tyrone, a missão em que decidi que estava de saco cheio de ser soldado.

O ano era 1992. Eu tinha acabado de fazer 20 anos e estava de volta a Aldershot com a Brigada Airborne 5 quando nos deram ordens para nos prepararmos para uma intervenção de emergência no Condado Tyrone, Irlanda do Norte. Qual exatamente era a "emergência", ninguém sabia fora da sala de operações. Mas eu sabia que muita atividade do IRA estava acontecendo, e Tyrone era um reduto do IRA.

Eu tinha sido treinado recentemente como fotógrafo militar no curso de Assistente de Fotografia em Wolverhampton. Esse novo papel significava tirar fotos dos terroristas do IRA (ou "players") para propósitos de inteligência antes de as patrulhas saírem. Era minha segunda missão na província, e eu estava feliz por ser mandado até um lugar onde estava sempre chovendo, especialmente depois de voltar de uma missão de três meses no Quênia com um bronzeado de corpo inteiro.

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Antes da mobilização para a Irlanda do Norte, todo o pessoal militar foi mandado para Tin City, em Lydd, Kent, para treinamento especial. Agora, eu era o fotógrafo da unidade, então meu treinamento foi diferente: treinei em roupas civis e aprendi diferentes manobras militares com armas caso as coisas acabassem em tiroteio num posto de controle ilegal do IRA. Aprendia a segurar e disparar uma pistola com um SAS assustador chamado "Lobo Cinzento".

Fomos levados por um helicóptero Chinook voando baixo desde o continente; quando chegamos a Tyrone, todo mundo estava enjoado. Também estava chovendo muito. Todos tínhamos de ficar em posição de defesa em volta do helicóptero, então decidi tentar algumas fotos com a minha Nikon. "Abaixe essa câmera, Griffiths", ordenou um sargento. Eu soube aí que essa seria uma missão de teste para mim, o fotógrafo designado que não tinha permissão para usar seu equipamento fotográfico.

Minha rotina se passava principalmente na sala de operações, fazendo chá e esperando. De vez em quando, me mandavam sair numa picape civil, o que significava que eu tinha de carregar uma arma na calça jeans. Eu levava uma Nikon com lentes de 200 mm, no caso de cruzar com algum "player" conhecido do IRA que eu pudesse fotografar para a inteligência.

Esses trabalhos disfarçados não duraram muito; era muito mais difícil fotografar terroristas conhecidos em ermos rurais do que nos centros urbanos. Em vez disso, me mandaram para uma patrulha a pé de cinco dias, carregando equipamento pesado de ECM (Medidas de Ataque Eletrônico) – o tipo de coisa usada para interromper o sinal remoto de explosivos improvisados.

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Não vi nenhum player do IRA que eu poderia fotografar nessa longa patrulha; além disso, minha moral estava lentamente se desintegrando com todo aquele peso e eu estava levando choques no saco ao pular as cercas elétricas das fazendas. Assim, em vez disso, comecei a fotografar os solados - só para me manter são. Cheguei a uma ideia mais ou menos baseada em "um dia na vida", o que meus superiores aprovaram na época. Isso seria um registro visual da intervenção.

No começo, ninguém pareceu ter problemas com as fotos; no entanto, alguns oficiais começaram a dificultar meu trabalho. Sempre que me viam fotografando, eles aproveitavam para me passar um "treinamento físico corretivo": correr carregando uma bala de "Wombat" de 13,6 quilos.

Eu estava na sala de operação um dia, lendo um artigo de jornal que sugeria que estávamos em Tyrone para reforçar o voto nos conservadores tories nas Eleições Gerais de 1992, quando ouvi palavras num tom de pânico pelo rádio. "Contato, espere." Uma patrulha tinha se envolvido numa explosão e havia vítimas. Um soldado novo tinha pisado numa mina terrestre do IRA no reduto republicano de Cappagh e perdido as pernas. Então os soldados começaram um ataque perto de Coalisland, diziam as notícias na TV, com filmagens de batalhas acontecendo nas estradas principais entre civis e soldados armados. A coisa foi piorando depois disso, e os confrontos foram responsáveis pela única vez na história da Irlanda do Norte que um oficial sênior do exército britânico foi disciplinado.

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Morar na nossa base em Cookstown foi como estar na cadeia. Ninguém podia sair, só se estivesse pesadamente armado. Na sua folga, você recebia duas latas de cerveja e podia assistir a televisão até cumprir sua cota. Minha namorada hippie da época me mandou livros de Manchester – coisas como O Almoço Nu, de William Burroughs. Dentro das páginas, ela tinha escondido becks prontos, o que ofereceria algum alívio, mas não era exatamente fácil fumar maconha confinado numa base das forças de segurança.

Depois de algum tempo, o funcionário de pagamentos me entregou meus papéis para renovar meu contrato de serviço ou pedir dispensa e me tornar um homem livre. Eu não queria mais ser um soldado, então pedi dispensa. Foi uma chuva de merda – fui tratado como um traidor por deixar a irmandade.

Mandaram todos na base pegarem seu equipamento quando o alerta BIKINI foi elevado para "Black Alpha" (agora conhecido como Black Special), significando que a ameaça de ataque tinha aumentado. Mandaram todo mundo "inundar" a área, e fui colocado num posto de guarda fora dos portões com sacos de areia e uma metralhadora. Decidi fotografar os soldados que passavam por mim. "Finalmente", pensei, "alguma ação para fotografar".

Fotografei dois rolos de filme preto e branco, mas tive de passar pela sala de guarda para entrar de novo na base. Lá, me mandaram entregar o filme da câmera. Tive de protestar que aqueles filmes eram meus, porém o sargento só rosnou: "Não dou a mínima, Griffs. Você é só um número aqui – você ainda não saiu. Entregue o filme logo, seu puto, ou vou jogar você na cela mais próxima".

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Sempre imaginei onde esses rolos de filme foram parar. Anos atrás, depois de repetidas FOI (solicitações de liberdade de informação), alguém que trabalhava no Ministério da Defesa disse que eu estava perdendo meu tempo: os rolos deviam ter sumido junto com outras fotografias "secretas" da província. Não havia nada nos Arquivos Nacionais ou no Imperial War Museum.

As fotos que você vê aqui são tudo que me restou daquela intervenção de emergência no Condado de Tyrone, a missão em que decidi que estava de saco cheio de ser soldado.

Veja mais do trabalho de Stuart em stuartgriffts.net e mais fotos de 1992 abaixo.

Tradução: Marina Schnoor