Mulheres falam quais foram as piores coisas que ouviram sobre seus corpos

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Mulheres falam quais foram as piores coisas que ouviram sobre seus corpos

“Já me disseram que eu parecia um réptil e que minha pele era repulsiva.”

A sociedade não tem medo de estabelecer padrões de beleza irreais – especialmente para mulheres – e julgar duramente aquelas que ficam muito longe deles. A pressão para muitas se conformarem é constante, independente de se elas são capazes de mudar qualquer coisa sobre sua aparência, ou mesmo se querem.

Falei com cinco mulheres sobre suas experiências com body shaming – desde ter passado por mastectomia, ter uma doença de pele ou por não perder peso. Falamos sobre como elas se sentiram, como lidam com o julgamento e sobre os efeitos disso em suas vidas.

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Theo, 27 anos

VICE: Oi, Theo. Qual parte do seu corpo passa por maior escrutínio?
Theo: Ouço muitos comentários sobre minhas cicatrizes de autoflagelação nas mãos e ombros. As pessoas acham que elas são um pedido imaturo de atenção, mas eu as fiz quando era mais jovem e sofria emocionalmente. Eu não conhecia outro jeito de comunicar esse sofrimento. Eu tinha vergonha dessas marcas, mas depois que consegui ajuda de um terapeuta, percebi que elas são parte de quem sou. Não sinto mais necessidade de escondê-las de pessoas ignorantes – e gostaria de encorajar todo mundo passando por isso a procurar ajuda.

Que tipo de comentários você ouve?
As pessoas dizem que as cicatrizes são feias, que eu deveria escondê-las para não afastar as pessoas. Esse tipo de comentário geralmente vem dos caras, enquanto as mulheres querem detalhes do que aconteceu comigo, o que pode ser tão irritante quanto. Agora sei como ignorar o que as pessoas dizem, até o ponto em que sinto pena de quão amargas elas podem ser.

Como as cicatrizes afetaram sua vida pessoal e profissional?
Tenho sorte de ter as pessoas certas ao meu redor. Meu parceiro atual e meus ex-namorados não tinham problema com isso. Meus amigos me apoiam e, no geral, minha família é ótima – com algumas exceções.

Infelizmente, isso é mais difícil profissionalmente. Quando eu trabalhava num restaurante, me disseram para sempre usar camisas de manga longa para não perturbar os clientes, mesmo quando estava muito calor. Decidi aceitar porque não queria confrontar ninguém no trabalho. E, sendo honesta, os gerentes eram severos com tudo, especialmente tatuagens, então eu não sentia que eles estavam pegando só no meu pé.

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Fotini, 29 anos

VICE: Oi, Fotini. Qual a parte do seu corpo que as pessoas mais criticam?
Fotini: Minha pele, que é coberta de psoríase desde que eu tinha 16 anos. É uma doença autoimune que pode ser desencadeada por stress e outros fatores psicológicos.

Que tipo de comentários você ouve?
O mais irritante é quando as pessoas acham que é contagioso. Depois os olhares de pena e nojo, que, depois de todos esses anos, aprendi a diferenciar. Finalmente, os comentários – já me disseram que eu parecia um réptil e que minha pele era repulsiva. Os comentários normalmente vêm de mulheres – os homens geralmente só ficam encarando com desaprovação.

Como você se sente com seu corpo agora? Você se sente confortável indo à praia, por exemplo?
Estou confortável o suficiente. Ainda não superei totalmente minhas inseguranças, mas na maioria dos dias estou bem com isso. Terapia me ajudou muito – isso me fez aceitar que este é meu corpo e devo tomar posse dele. E mesmo se ele incomoda outras pessoas, até eu mesma às vezes, agora eu o amo.

Como isso afetou seus relacionamentos sexuais e amizades?
Sei de caras que me rejeitaram no passado por causa disso, mesmo não dizendo explicitamente. Mas meus amigos e parceiros sempre foram uma grande fonte de força, porque sei que eles me veem, não minha condição. Por causa deles, agora consigo lidar muito melhor com os comentários. Antes, qualquer observação era suficiente para me chatear. Mas agora não dou a mais ninguém o direito de decidir o que é normal e o que não é, quando se trata do meu corpo.

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Despina, 33 anos

VICE: Que tipo de coisas as pessoas dizem quando descobrem que você passou por uma mastectomia?
Despina: Teve gente que já fez piada sobre como deve ser legal fazer uma “cirurgia plástica de mama grátis”. Colegas literalmente já me disseram para “esconder o seio cancerígeno” quando eu estava tentando aplicar tratamento pós-radioterapia no banheiro do trabalho.

Como você lida com comentários assim?
Primeiro fiquei chocada, mas com o tempo você acaba se acostumando. E como vejo agora, ninguém é imune ao câncer – pode acontecer com qualquer um. Aprendi a aceitar e amar meu corpo.

Como isso afetou seus relacionamentos pessoais e profissionais?
Um efeito colateral da quimioterapia foi que o tratamento basicamente matou minha libido. Mas do lado positivo, eu estaria completamente perdida sem o apoio do meu parceiro, minha família e amigos. Sou muito grata a eles porque sei que muitas pessoas na minha posição não têm uma rede de apoio forte.

Elina, 28 anos

VICE: De que parte do seu corpo as pessoas tentam te fazer ter vergonha?
Elina: Tenho lutado com meu peso nos últimos anos, e geralmente escuto comentários específicos sobre o tamanho das minhas coxas e bunda.

Que tipo de comentários?
Não são só comentários, mas olhares. Basicamente a primeira coisa que meus pais olham quando me veem é meu peso. Isso normalmente leva a brigas sobre quanto eles acham que engordei ou emagreci. Também tive colegas me dizendo que eu deveria perder peso se quisesse ser promovida, enquanto alguns amigos insistiam em me lembrar que eu não arranjaria um namorado até ficar mais magra. Geralmente, os homens tendem a tirar sarro das minhas coxas e bunda, enquanto as mulheres tentam me convencer de que eu seria mais feliz se perdesse peso.

Os comentários e olhares obviamente me fazem sentir ainda mais insegura com meu corpo, e meio que desenvolvi um complexo com a coisa toda. Mas não tenho problema em confrontar as pessoas quando preciso. Uma vez eu estava almoçando quando um colega chegou e disse que eu deveria dividir a comida com ele pro meu próprio bem. Deixei claro que o que ele tinha dito era inapropriado e ele se afastou.

Como isso afeta seus relacionamentos pessoais?
Comecei a conscientemente andar com pessoas que me fazem sentir confortável e não julgam minha aparência. Isso inclui parceiros sexuais que não me dizem para emagrecer, mas que me mostram quanto amam meu corpo. Claro, ainda me sinto insegura às vezes. Por exemplo, se vou à praia com um grupo de pessoas que não conheço bem, uso algo que cubra meu corpo inteiramente.

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Tradução do inglês por Marina Schnoor.