FYI.

This story is over 5 years old.

Música

Como o Diplo e o Hollerboard Mudaram Tudo

"Nós definitivamente antecipamos os hipsters", diz Diplo, no hoje extinto fórum de internet conhecido como Hollerboard. "Era como um clube secreto."

"Nós definitivamente antecipamos os hipsters", diz  Diplo, no hoje extinto fórum de internet conhecido como Hollerboard. "Era como um clube secreto."

Durante os anos 2000, o fórum do Low-Bee, também conhecido como Hollerboard, foi um espaço online de encontro para DJs, nerds de internet, produtores e party kids trocarem músicas, falarem besteira, curtirem muito, flertarem e meter muita zuera. Ele surgiu a partir de uma pequena comunidade que havia migrado de outros fóruns de indie rock e hip-hop da Filadélfia, ligado a uma festa chamada Hollertronix, que era organizada por um então relativamente desconhecido Diplo e seu grande amigo, DJ Low-Budget ou Low-Bee.

Publicidade

"O que o fórum fez foi solidificar a nossa cena na Filadélfia e em Nova Iorque – [organizadores de festas como] Hollertronix, The Rub, etc. – gente com ideias bem parecidas", continua Diplo. A comunidade que se formou em torno da Hollertronix e da Hollerboard incluía os futuros heróis da Mad Decent, da Fool's Gold, e outros prestes-a-se-tornar-gigantes da dance music: Nick Catchdubs, Flosstradamus, Dave Nada, Treasure Fingers, Jokers of the Scene, Louisahhh, DJ Sliiink, Four Color Zack e toda a galera do Spank Rock. Foi também o primeiro lugar onde se ouviu falar de gente como Jacques Greene, Jerome LOL, Rizzla, Bok Bok e Proper Villains.

Na época (anos 90 e início dos 2000), fóruns como o Hollerboard eram onde as comunidades de dance music se juntavam. Numa época anterior a Twitter, Facebook, MySpace (ou mesmo da EDM), era lá que os DJs iam para dar seus likes, compartilhar suas opiniões e queimar o filme dos seus amigos. Cada cena tinha seu fórum predileto: os fãs de drum'n'bass tinham o Breakbeat Science e o Dogs on Acid (recentemente relançado como DOA:Reborn), enquanto sites como TranceAddict, Ravetrash, mnml.nl e Buzz Board eram janelas das suas respectivas subculturas.

"Era o Soundcloud antes do Soundcloud", explica o DJ e produtor de Chicago Willi Joy. "As ideias e os sons daquele fórum ativamente fixaram e aceleraram o caminho da dance music, levando ela a sua aceitação no mainstream dos EUA."

Publicidade

Os membros originais do fórum foram reunidos por um revolucionário interesse em loucos mash-ups transgênero, anos antes do "formato aberto" e da mixagem multi-gênero serem alguma coisa. Claro, haviam DJs de mash-up como Z-trip e 2manyDJs que se destacaram anteriormente, mas no início dos anos 2000, DJs de hip-hop remixando Solid Groove com Elephant Man com David Banner com Rod Lee com The Gossip era algo de vanguarda.

Lá pro meio dos 2000, um estilo completo de DJing estava borbulhando na Costa Leste – captado em seu melhor pela mix Never Scared do Low-Bee – e havia surgido por causa do Hollerboard e de fóruns adjacentes como o Turntable Lab. "Definitivamente eu aprendi muito sobre tudo", diz o inabalável DJ de Nova York Cousin Cole, "desde o [selo] DanceMania até o yacht rock – ou como Cosmo Baker chama, o 'white heat' – até as cenas locais de rap e especialmente o clube de Baltimore."

"Minha descoberta favorita foi 'Hey Girl' do Curtis Vodka", diz o criador do Hollerboard Filadélfia, Dirty South Joe. "Era uma releitura emo do Baltimore club de uma faixa do Chris Brown que eu não sacava na época. Devo ter ouvido ela umas 20 vezes seguidas quando ele postou."

O favorito da comunidade Hollerboard era o Naeem Juwan, aka Spank Rock, cujo estilo, sonoridade e qualidade de produção levaram o rap aos clubes de uma forma que mudou a dance music para sempre. Quando a carreira do Spank Rock decolou no final dos 2000, ele levou o Hollerboard junto e quase todos os seus membros dirão algo como "nós devemos tudo ao Spank Rock" ao refletirem sobre o legado da Hollerboard.

Publicidade

No seu auge, o fórum teve postagens de DJs e produtores celebridades como Duke Dumont, Bok Bok, Erol Alkan, Teki Latex, Sinden e o tardio Disco D. Interações online muitas vezes terminavam em festas e colaborações offline, e houveram muitos agendamentos de shows, contratos com selos, turnês e mesmo escândalos sexuais que começaram no fórum.

"Eu marquei nossos primeiros shows com promoters que assumiram o risco de marcar eu e o Low-Bee por causa da agitação e do burburinho do fórum", explica Diplo. "Fizemos turnê na Califórnia, Calgary, Austrália – acho que isso me ensinou o poder primodial que a internet tem para internacionalizar um artista."

Por causa do fórum, uma rede intercontinental de festas e promoters pôde emergir. Haviam festas ligadas à Hollerboard em "todas as cidades", diz o Low-Bee. "Parecia que todo mundo teve sua vez de tocar neste e naquele lugar", ele diz. "As festas eram todas influenciadas pela música sobre a qual se falava no Hollerboard."

"Para as pessoas do fórum que estavam ativamente fazendo música e shows, ele criou e amplificou relacionamentos da vida real de uma forma legal", diz Nick Catchdubs, cabeça do selo Fool's Gold. "Quando você pintava pra fazer um show em uma cidade aleatória, você não estava tocando com estranhos – estava tocando com amigos que você 'conhecia' há muito tempo, como um Four Color Zack em Seattle ou um Morse Code em São Francisco."

Publicidade

A DJ, rapper e organizadora de festas de Nova York Roxy Cottontail usou a Hollerboard para marcar apresentações em suas festas únicas e em suas infames noites de segunda-feira na Sway em Nova York – enquanto também moderava a "Jawn Doe", uma seção do fórum exclusiva para garotas. "Tudo que estamos ouvindo agora esteve naquele fórum em algum momento", ela diz.

"Ele ajudou a criar um circuito de verdade", continua Nick Catchdubs, "uma comunidade que estabeleceu as bases daquilo que o Diplo levaria em frente com o Mad Decent, e do que o A-Trak e eu faríamos com a Fool's Gold."

Mas nem tudo foi um mar de rosas na Hollerboard. Com seus membros sinceros e geralmente sensíveis, o fórum muitas vezes foi palco de encrencas de DJs tão épicas que são lembradas até hoje. Diplo lembra de antigos tópicos agitados quando houve "uma facada na porta da festa Hollertronix no Ukie Club", ou "quando alguém pixou meu Oldsmobile e arranjamos pra que uma gangue rival quebrasse a cara dele."

Algumas discussões se tornaram guerras incontroláveis sobre raça e gênero. Outras vezes membros do fórum se juntaram contra internautas e DJs que despertaram sua ira. Usuários fake eram criados para perseguir inimigos online. Havia bastante humilhação, trolagem e choradeira sobre DJs que usavam softwares relativamente novos como Serato e Ableton.

Faixa da Uffie zuando o Hollerboard.

As encrencas do Hollerboard chegaram a fazê-lo atrair atenção exagerada uma ou outra vez. "Um dos destaques foi o drama entre o fórum e a [cantora da Ed Banger] Uffie", diz Willy Joy. "Ela ficou tão louca com isso que chegou a gravar e lançar uma música ["Dismissed", de 2007] que sacaneava nominalmente o Hollerboard. Pra te dar uma ideia do quão improvável foi isso, o equivalente atual seria algo como Iggy Azalea fazendo uma música para zuar um pequeno grupo de Facebook. Isso não aconteceria de jeito nenhum hoje em dia."

Publicidade

"Ela disse pra gente ir fumar nosso cachimbo de crack", Roxy relembra a música.

Com a fragmentação das plataformas online, o cenário volúvel da cultura da dance music e o grande sucesso das carreiras de muitos dos membros da Hollerboard, o fórum começou a se desintegrar à medida que terminavam os anos 2000. "Eu diria que a morte foi em 2010", diz Ian Meyer, que era o moderador do fórum nos seus últimos anos. "Ele sobreviveu em coma até 2012 e acho que está agora em estado vegetativo com baixa atividade cerebral". Hoje sua antiga URL redireciona para uma página de erro.

A Hollerboard pode ter terminado, mas não foi esquecida. Em um mundo onde "Express Yourself" e "The Harlem Shake" podem se tornar virais em poucas horas, o fórum será lembrado como um lugar onde curadores, selos e agentes – e mais importante, fãs –  não se importavam com quantos likes seu grupo tinha. Era puro amor e entusiasmo e uma pequena comunidade de internet feita de pessoas que agora são nomeadas para o Grammy.

"Hoje em dia alguns membros do Hollerboard seguiram suas vidas", diz Willy Joy. "Outros se tornaram DJs mundialmente famosos. Mas naquela época nós éramos apenas um grupo de pessoas entusiasmadas por encontrar outras com quem tínhamos afinidades musicais. Foi realmente uma época pura e especial na história deste canto da dance music."