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Μodă

Nathan Farb Fez o Comunismo Parecer uma Brasa, Mora?

Não olhava o Russians, um livro de fotografia do Nathan Farb publicado em 1978, há três anos.

Não olhava o Russians, um livro de fotografia do Nathan Farb publicado em 1978, há três anos, até que um dia suas imagens apareceram num sonho. Foi como se tivesse acordado com uma música na cabeça, mas ao invés duma música era um monte de fotos de russos.

No dia seguinte voltei à loja de antiguidades em Amsterdam onde vi o livro pela primeira vez e dei mais uma olhada. Conforme ia examinando essas fotos bizarras tiradas detrás da Cortina de Ferro, percebi que muitos dos retratos não correspondiam com a imagem séria que eu fazia de russos dos anos 70. Pensava que eles eram um bando de caipiras vestindo macacões que iam de tratores e a cavalo para suas fazendas comunais, e que comiam batatas e depressão no jantar. Mas, julgando pelas fotos de Farb, era o contrário. Essas pessoas eram cheias de vida.

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As fotos funcionam como uma cápsula do tempo pra dentro de um subsistema inexplorado da sociedade russa. A introdução do livro explica que as fotos foram tiradas como parte de um programa de intercâmbio cultural do governo de Jimmy Carter. Especificamente, elas foram tiradas em uma exposição de fotos norte-americanas na cidade siberiana de Novosibirsk. A exibição mostrava os grandes nomes da fotografia norte-americana da época, e o Nathan Farb foi lá pra documentar.

Na época, o Farb tinha 30 e poucos anos. Nova-iorquino e filho de um ator dos palcos ídiches, o Nathan andava pelas ruas tirando Polaroids de turistas em troca de um dólar. Ele depois ficou amigo da Diane Arbus, que o convidou para viajar à Rússia com ela. Por conta de sua natureza exótica, a exibição atraiu dezenas de milhares de russos. O Farb fez retratos do público e dava a eles uma cópia. Sem o conhecimento dos indivíduos de quem tirava fotos (e das autoridades russas), o Farb desenvolveu uma técnica que fazia com que ele criasse um negativo de cada Polaroid que tirava.

“Contrabandeei os negativos pra fora do país com uma bolsa diplomática na embaixada dos EUA”, o Farb me disse quando o procurei pra saber mais sobre as fotos. “Os russos não teriam me deixado sair com as fotos se soubessem”, disse. Mas quase no final acabaram descobrindo. “Quando estava saindo do país, ouvi os responsáveis por mim dizendo: ‘Não importa mais, as fotos já estão fora do país’.” Ele acha que espiões na embaixada informaram a eles, mas não tinha medo de ser pego. “Eu tinha uma missão. Senti que estava fazendo algo que poderia ajudar reduzir o medo entre a Rússia e os EUA. As pessoas tinha medo que a guerra nuclear começasse. Era a mesma maneira que as pessoas temem o mundo islâmico hoje. Acho que minhas fotos ajudaram a reduzir o medo, porque mostrou que os russos são pessoas normais também.”

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O que achei estranho foi o Farb mencionar que, apesar de fotógrafos de renome participarem da exposição, os russos estavam mais interessados nas fotos de revistas como Better Homes and Gardens e da Vogue.

“O governo dos EUA colocou essas revistas em exibição para mostrar como era melhor a vida no estado capitalista. Mas o que pareceu interessar aos jovens foi a moda. Eles foram à exibição com suas roupas costuradas em casa, e depois do show voltavam para casa para copiar as roupas usando suas máquinas de costura.”

TEXTO POR JAN VAN TIENEN VICE STYLE
TRADUÇÃO POR EQUIPE VICE BR