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Outros cientistas que merecem cine biografias

Se podemos tirar alguma conclusão dos vencedores dos Óscares deste ano, é que estamos a entrar na era de filmes sobre cientistas.
Lovelace, via Wikipédia

Se podemos tirar alguma conclusão dos vencedores dos Óscares deste ano é que estamos a entrar na era de filmes sobre cientistas. A Teoria de Tudo, o filme sobre Stephen Hawking, foi indicado a cinco prémios e ganhou um, e O Jogo da Imitação, que conta a extraordinária história de Alan Turing, foi indicado a oito, e levou uma estatueta para casa.

O interesse pela ciência está na moda, e com ele vem também a curiosidade sobre as histórias íntimas dos maiores pensadores da humanidade. Mas isso levanta uma questão: que outros cientistas merecem estar no grande ecrã? Este é um campo extremamente fértil. A história da ciência está repleta de figuras que, para além de nos terem brindado com importantes descobertas científicas, tinham vidas íntimas extraordinariamente dramáticas. Não é assim tão surpreendente que, por exemplo, as histórias de Hawking e Turing tenham comovido tanta gente. Nenhuma das duas biografias precisou de licença poética. Cada uma é, do ponto de vista narrativo, interessante por natureza.

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Com estes critérios em mente, a minha primeira sugestão para a próxima grande cine biografia científica seria a vida de Jacks Parsons, o engenheiro espacial com uma queda pelo ocultismo. Parsons é um dos mais importantes engenheiros espaciais da história, que também abraçava crenças relacionadas com o oculto bastante excêntricas. Acabou por morrer cedo, numa misteriosa explosão. Para rematar, era super giro. Ou seja, perfeito para um filme.

Jack Parsons em 1938. Crédito: The Los Angeles Times/Wiki

Aparentemente, Ridley Scott também partilha esta opinião, já que há rumores de que ele esteja a produzir uma mini série sobre Parsons na AMC.

Outra cientista que merece um filme biográfico é Émilie Du Châtelet, uma vivaz matemática nascida em 1706. Era tão talentosa que o seu pai resolveu educá-la como se fosse um rapazinho — com aulas de esgrima e tudo mais. Tornou-se numa grande matemática, utilizando os seus conhecimentos para optimizar os seus lucros em apostas, que por sua vez financiavam os seus livros e equipamentos de laboratório.

Obcecada com a física Newtoniana, Châtelet traduziu a Principia de Newton para o francês, e escreveu vários tratados de matemática e física, incluindo a base do que se tornaria a equação E=mc^2 de Albert Einstein.

Um retrato de Émilie Du Châtelet. Crédito: Maurice Quentin de La Tour

Não admira que a sua vida pessoal tenha sido igualmente pirotécnica —Châtelet era uma namoradeira incurável – teve casos com diversas figuras importantes, incluindo um extenso romance e parceria intelectual com Voltaire. Tal como o seu prestigiado amante, Châtelet era também conhecida pela sua espiritualidade. As discussões do casal tinham uma certa fama dentro dos círculos intelectuais franceses, assim como o hábito de Châtelet de se disfarçar de homem para ter acesso a ambientes exclusivamente masculinos. A questão não é se Châtelet deveria ter uma cine biografia — porque a resposta é óbvia— mas sim quem a interpretaria. Chloë Grace Moretz? Emma Stone? Anna Kendrick? Tanto faz, mas Hollywood, dá-lhe aí nesse filme.

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Châtelet não é a única cientista francesa do século XVIII que merece o seu próprio filme. O astrónomo francês Guillaume Le Gentil, nascido em 1725, também teve uma vida digna de adaptação cinematográfica. No entanto, enquanto a história de Châtelet foi cheia de festas e festins da alta sociedade e prazeres hedonistas, a vida de Le Gentil foi o oposto: uma história de acção/aventura trágica.

Um dos grandes desafios da astronomia do século XVIII era observar a rota de Vénus desde diferentes pontos do mundo, e assim conseguir medir a distância entre a Terra e o Sol. Le Gentil disponibilizou-se entusiasticamente a fazer parte de um grupo de dezenas de astrónomos enviados para terras exóticas durante o evento.

A expedição de Le Gentil passou por alguns percalços, de caminho a Pondicherrry, uma colónia francesa na Índia. Guerras, tempestades e problemas de navegação atrasaram o seu grupo, e quando chegaram ao destino, os britânicos tinham dominado a região e mandaram Le Gentil dar meia volta. Ele assistiu à rota de Vénus número 6.1761, em junho, numa noite de céu aberto no seu navio, incapaz de fazer qualquer anotação por causa das ondas. Depois disso decidiu esperar oito anos até à próxima rota. Em junho de 1769 desanimou uma vez mais quando, depois de uma noite de céu aberto e bom tempo, uma nuvem enorme obstruiu o seu campo de visão.

Le Gentil quase enlouqueceu (e com razão).

As ruínas do observatório DE Pondicherry. Crédito: Wiki

Mas a história fica ainda melhor (ou pior, pelo menos para Le Gentil). Quando finalmente voltou a França, em Outubro de 1771, Le Gentil descobriu que toda a gente achava que estava morto. A sua esposa tinha casado novamente, as suas terras tinham sido saqueadas, e ele ia precisar da intervenção do rei para reintegrar-se na Academia Real de Ciência. Le Gentil seguiu em frente. Se alguém quisesse adaptar uma espécie do Livro de Jó para o cinema, a vida de Le Gentil seria uma boa escolha.

Seguindo esta linha, é divertido imaginar outros tipos de narrativa que poderiam ser utilizados em adaptações de outras histórias científicas. A parceria entre Charles Babbage e Ada Lovelace daria um óptimo filme sobre uma relação de mentor/discípulo, por exemplo, e um filme sobre Humphry Davy poderia ter um tom meio "Delírio em Las Vegas"— toda a gente sabe que Davy apreciava ficar on fire com gás do riso, na companhia dos seus amigos.

Eu não sei como é que alguém contaria a história de Wernher von Braun - um engenheiro espacial nazi, visionário do Programa Apollo e estrela da Disney — tudo numa só vida. Mas uma coisa é certa: seria muito difícil transformar a sua vida em algo desinteressante ou aborrecido.

Este artigo foi inicialmente publicado em Motherboard.