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Os benefícios pessoais e científicos de não te masturbares

Decidi não ter um orgasmo durante três semanas e falei com um especialista no assunto sobre o que estava a sentir.

O conceito de castidade não me é desconhecido. Em mais de uma ocasião tive relacionamentos nos quais, por diversas razões sexuais, a minha companheira e eu tivemos de nos submeter a períodos de abstinência.

O período mais longo foi de três semanas; 21 dias sem ter relações sexuais e sem masturbação. Ou seja, sem orgasmos. Esta experiência foi um ponto de viragem na minha vida: consegui terminar uma série de tarefas pendentes, limpei a casa e acabei projectos pessoais que, por culpa da procrastinação, tinham ficado a meio caminho. Percebi que um período forçado de abstinência pode ser mais benéfico para o corpo, para a mente e para a alma do que eu podia imaginar.

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Mas atenção, é extremamente importante ter uma conversa séria com as nossas ferramentas de vez em quando, é uma prática muito saudável recomendada por muitos especialistas. Como por exemplo, Jim Pfaus, professor de neurociência da Universidade de Concordia em Montreal, que diz:

"A masturbação é a maneira ideal de reduzir o stress. Existem provas que demonstram que a prática do sexo ou da masturbação pode diminuir o ritmo cardíaco em repouso durante um período de até 12 horas. Também nos permite conhecer os nossos ritmos sexuais. Através da masturbação evocamos actos que muitas vezes aparecem nos estímulos visuais eróticos ou pornográficos. Assim alimentamos as nossas fantasias e enriquecemos o nosso processo criativo".

Ou seja, embora seja importante continuar a dar umas, algumas semanas de abstinência ocasional podem ser bastante benéficas. Quero partilhar convosco as vantagens e, ao mesmo tempo, acompanhá-las de dados científicos fornecidos pelo professor Pfaus.

Tornas-te numa versão de ti mesmo muito mais produtiva

Durante essas três semanas sem sexo, escrevi 20 artigos, construí uma cama, comecei a trabalhar num livro e ganhei o hábito de comer salada, como qualquer adulto moderadamente preocupado com o colesterol. Assim que retomei o sexo, toda essa produtividade desapareceu, projectada contra a parede por uma pronunciada parábola espessa de potencial perdido.

Sou praticamente um leigo nesta matéria, mas vi que havia algum tipo de ligação; o sémen contém testosterona, por isso, se reténs toda essa quantidade de hormonas, eventualmente, vais acabar por sentir-te mais activo, não é verdade? Mais ou menos.

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"Reter sêmen não aumenta a possibilidade de que os seus componentes voltem para a corrente sanguínea", explica o professor Pfaus. "No entanto, ao fazê-lo aumentas a excitação perante a expectativa de praticar sexo real. Essa talvez seja a energia de que falam os praticantes de sexo tântrico. Aprender a manter uma erecção e a retardar a ejaculação faz com que o orgasmo seja mais intenso. Foi verificado tanto em humanos como em ratos. Portanto, o aumento de 'energia' é mais um factor psicológico e de auto-convicção do que outra coisa".

Esse foi o aumento de energia que eu senti. Depois de aceitar o desafio pessoal de não me masturbar, apercebi-me logo que precisava de outros estímulos para ocupar a minha mente. E que melhor distração do que tentar montar uma cama cujo único propósito na vida é de destruir relacionamentos duradouros?

Pela primeira vez , como adulto, acordas sem vontade de chorar

Era uma vez, há um milénio atrás, em que ao acordar pela manhã o mundo parecia-me um lugar fantástico e cheio de oportunidades interessantes. Ao chegar a maturidade, as manhãs são uma lembrança constante das muitas dores que sofro e dos 20 e-mails que ainda tenho para ler, tudo isto antes de ter sido capaz de escovar os dentes.

No entanto, durante essas três semanas de abstinência tudo era cor-de-rosa. Por alguma razão, cada novo dia era muito menos merdoso do que o anterior. A não masturbação trouxe-me uma sensação de leveza, de pureza. "Há homens que experimentam um grande sentimento de culpa ao masturbarem-se", afirma o professor Pfaus. "Outros, de forma quase obsessiva, tentam atingir o orgasmo várias vezes por dia. E há aqueles que sofrem os dois extremos. A sua natureza obsessivo-compulsiva faz com que se masturbem com frequência, talvez demasiado, já que tanto o pénis como os mecanismos de ejaculação acabam num constante estado refractário. Não ser capaz de controlar o pénis é uma experiência bastante miserável. É como uma castração realizada pelo mesmo orgão que representa e define a tua masculinidade.

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Estás quase sempre com uma erecção

Este é um dos aspectos físicos que terás de aceitar. Pode ser que não te masturbares seja bom porque te mantém desperto, puro e pronto para enfrentar o mundo, mas vais passar a maior parte do tempo com uma barra de Twix no bolso, mesmo que estejas ao telefone com o teu pai. Segundo o Professor Pfaus:

"Tanto no homem como na mulher a erecção requer a activação simultânea da secção simpática e parassimpática do sistema nervoso autónomo. Em primeiro lugar, o coração tem de bombear mais sangue para os tecidos. Então, uma vez que o sangue enche o corpo cavernoso do pénis e do clitóris, o sistema nervoso parassimpático assume o controlo e contrai os vasos sanguíneos para manter o sangue nos órgãos genitais (como nos mamilos e outros tecidos erécteis). Existe um mecanismo medular que se activa na região lombar inferior e é responsável por mudar de parassimpático a simpático, que por sua vez produz o orgasmo (e a ejaculação nos homens). Enquanto tens uma erecção, este mecanismo está inibido por (entre outras coisas) uma diminuição dos níveis de serotonina.

"Assim, se te masturbas com frequência, entras num estado de refracção, que provoca esse declínio de serotonina sem impedir que o fluxo sanguíneo flua para os órgãos genitais, já que o tônus parassimpático mantêm-se (que é o que contrai os vasos sanguíneos). Por essa razão, se passas umas 24 ou 48 horas sem sexo, possivelmente terás erecções mais duras e prolongadas. Mesmo assim, é diferente para cada pessoa, porque o estado ideal de uma pessoa pode ser a disfunção da outra. O primeiro deve ser determinado para cada indivíduo dependendo das circunstâncias".

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Então, se queres experimentar um período de abstinência, vais precisar de ter tempo para ti. E se o vais fazer durante muito tempo e não queres que as pessoas olhem para ti no metro, podes sempre usar a bela da fita cola para prendê-la à perna.

Podes sentir-te sexualmente um pouco frustrado

Esta é a parte mais horrível, desprezível, vergonhosa, e grotesca da abstinência. Privados de sexo por um período superior a 48 horas, a maior parte dos homens que conheço iriam transformar-se numa espécie de macacos lascivos e idiotas.

As distrações que encontramos no trabalho e nos nossos interesses serão úteis, por isso o melhor é que não faltem. Mas não é de estranhar que, por não te masturbares, sintas mais desejo sexual. Portanto, pelo menos no meu caso, o melhor para desfrutar da castidade é, paradoxalmente, ter uma namorada. Se o fizeres sozinho, como um desafio pessoal sádico, ou pelos benefícios que oferece, e notas que começas a olhar para toda a gente, pára imediatamente. Ao fim e ao cabo, a masturbação não é nenhuma vergonha; antes pelo contrário, é uma parte natural da expressão sexual.

"Nós não vamos morrer por não nos masturbarmos durante um tempo", conclui o professor Pfaus, "mas essa abstinência vai impedir de nos descobrirmos. Todos nós sabemos que a abstinência na área sexual normalmente é imposta por pessoas obcecadas pela 'pureza' e por 'uma conduta moral adequada', pessoas que não suportam o prazer dos outros".

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