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Drogas

Como seria fumar maconha em Marte?

Uma resposta muito difícil para uma pergunta muito maconheira.
MS
Traduzido por Marina Schnoor
Image of a red planet with cannabis leaves superimposed on top.
Evan Dalen / Stocksy

mais de um século, os humanos vêm sonhando com um futuro hipotético colonizando Marte. Nesse meio tempo, imaginamos desde as praticabilidades de criar habitats no planeta vermelho – cientistas vêm imaginando isso em detalhes faz uns 40 anos – até possíveis inovações políticas e sociais que poderíamos implementar lá. Mas de toda a criatividade que nossa espécie colocou em sonhos coloniais extraplanetários, ainda não examinamos um aspecto do nosso futuro marciano em profundidade: Como seria fumar maconha em Marte?

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Pode parecer uma pergunta absurda considerando que, apesar do hype todo cercando gente como o fundador da SpaceX Elon Musk, não vamos colonizar Marte tão cedo – se é que um dia vamos. E mesmo se eventualmente os humanos fizerem uma colônia marciana, esse assentamento provavelmente será pequeno e frágil, diz Mark Shelhamer, professor de otorrinolaringologia da Universidade Johns Hopkins e especialista nos efeitos do espaço no corpo humano.

Shelhamer, que também é ex-chefe de pesquisa humana do Centro Espacial Johnson da NASA em Houston, Texas, diz que “colonos terão tarefas tão críticas para a missão que não os vemos usando qualquer coisa que possa deliberadamente alterar seu estado mental, e portanto sua habilidade de responder a uma emergência”. (A mesma razão dada pelo astrofísico celebridade Neil deGrasse Tyson para repórteres alguns meses atrás, respondendo por que seria uma ideia pra lá de ruim chapar no espaço.)

Mas tem uma razão para insistir na pegunta: alguns pesquisadores preveem que é quase certo que, em algum ponto, alguém vai tentar trazer a erva para Marte, argumenta Mike Dixon, professor da Universidade de Guelph que estuda sistemas de produção de alimentos para exploração espacial.

As forças governamentais ou privadas por trás da colonização podem tentar introduzir cannabis como medicamento, enquanto a utilidade medicinal da maconha se torna cada vez mais clara na Terra. Shelhamer diz que eles podem ter interesse principalmente no potencial de lidar com ansiedade em isolamento e confinamento prolongados das viagens espaciais de longa distância, e da vida num habitat compacto em Marte, se a cannabis continuar a mostrar promessas nesse campo – mesmo achando essa ideia um tiro no escuro.

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Os colonizadores também podem pressionar para levar cannabis para Marte, ou contrabandear sementes, visando o uso recreativo, diz Dixon. Ele aponta que fez lobby para colocar cevada na lista de candidatos a cultivo para a exploração espacial humana, explicitamente para que os colonos possam fazer álcool. Estudiosos de agricultura extraterrestre como Karin Kloosterman, que fundou a Mars Farm Odyssey e trabalha no setor de pesquisa da cannabis legalizada, diz que cultivar sementes pode ser mais fácil que fazer bebidas alcoólicas, especialmente no começo da existência da colônia.

Seria possível cultivar maconha no espaço?

Independente do motivo para levar maconha para Marte, podemos dizer que os colonos teriam que cultivar a erva lá em vez de importá-la da Terra, já que importar qualquer coisa seria insanamente caro. Marte tem um meio ambiente incrivelmente hostil para qualquer coisa terráquea, e modificar a atmosfera e paisagem do planeta para receber vida da Terra ainda é coisa de ficção científica. Então o cultivo de cannabis teria que acontecer nos habitats fechados e controlados construídos para os colonos sobreviverem lá. Todos os especialistas com quem falei concordaram que nessas bolhas, o cultivo de maconha pareceria muito com estufas ou instalações hidropônicas da Terra – mas com grandes sistemas de reciclagem de água e resíduos, considerando o acesso limitado a água potável, solo viável e nutrientes vitais para as plantas. (Marte tem água e solo, mas ainda não sabemos se eles são seguros para agricultura, quanto mais para contato e consumo humano.)

Mas mesmo num espaço controlado parecido com a Terra, pode haver problemas para o cultivo de cannabis. Não podemos criar gravidade artificial confiável e constante, por exemplo – e Marte tem apenas um terço da gravidade da Terra. Isso provavelmente não teria um efeito colateral na fisiologia da cannabis ou qualquer outro tipo de planta, diz Dixon. Plantas são incrivelmente adaptáveis a uma ampla variedade de condições ambientais; nas experiências dele, muitas plantações se desenvolveram bem com até um décimo da pressão atmosférica da Terra, por exemplo.

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Mas as diferenças gravitacionais podem complicar coisas como troca de gases entre a folha de uma planta e o ar ao redor, ele explica. Também podemos descobrir que temos problemas para bloquear toda a radiação que atinge Marte, um planeta sem o mesmo campo magnético que protege a Terra – e isso pode ter consequências imprevisíveis para a estabilidade genética de qualquer plantação. Várias outras complicações podem surgir para os primeiros colonos, considerando quão pouco realmente entendemos a vida em Marte agora.

Felizmente, aponta Dixon, quando descobrirmos como cultivar cannabis em Marte, provavelmente teremos aprendido como contorna bugs gravitacionais, radiológicos e outros, já que teremos trabalhado muito em agricultura marciana para produtos bem mais vitais que maconha. Pesquisadores já estão analisando essas questões; a NASA conseguiu cultivar com sucesso a primeira plantação espacial (alface) quatro anos atrás. E várias empresasestão pesquisando como a cannabis em particular vai reagir a ambientes extraterrestres. A startup Space Tango, que fabrica laboratórios do tamanho de caixas para cientistas espaciais, recebeu muita atenção da imprensa ano passado quando lançou um projeto para estudar o cultivo de plantas de cânhamo em gravidade zero.

Então, quando os pesquisadores descobrirem como a agricultura funciona em Marte no geral – uma perspectiva com que pessoas como Dixon estão bastante otimistas – então provavelmente poderemos pensar em sistemas para cultivar cannabis de maneira similar, se não idêntica, a que temos na Terra.

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Como fumar maconha no espaço afetaria o corpo humano?

Mas usar a maconha marciana poderia ter resultados diferentes em Marte e na Terra. Gravidade reduzida, mesmo não tendo muitas consequências para plantas, tem um grande impacto no corpo humano, mexendo com a densidade muscular e óssea, pressão sanguínea e contagens de células, sistema imunológico, padrões de sono e muito mais – mesmo quando tornarem o resto do ambiente lá parecido com o da Terra.

Não sabemos tudo sobre como essas mudanças vão interagir com os efeitos conhecidos da cannabis, diz Shelhamer. Nem como os níveis de radiação de Marte, mesmo com a proteção de habitats fechados, pode afetar nosso cérebro e o jeito como ele reage aos canabinoides. Além disso, a gravidade menor que a da Terra parece diminuir a pressão sanguínea. Mitch Earleywine, um pesquisador de cannabis da Universidade do Estado de Nova York em Albany, e membro do conselho da organização para reforma das leis de cannabis NORML – argumenta que a cannabis já tende a baixar a pressão sanguínea, então podemos pelo menos presumir que “sem intervenções extensivas, uma tragada normal já poderia fazer a maioria das pessoas desmaiar, o que estragaria o potencial de se divertir dando pulos de 2,5 metros no ar sem muito esforço”.

Deixando a física pura de lado, Earleywine também suspeita que a psicologia da vida num habitat marciano poderia prejudicar o barato de cannabis. “Isolamento raramente é um bom companheiro para experiências com uso de cannabis”, ele explica. “Pessoas com tendência a ruminar vão precisar de distrações melhores para evitar uma espiral depressiva relacionada com a solidão” em outro planeta.

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Poderíamos abordar algumas dessas preocupações criando novos padrões para o consumo de maconha em Marte. Usar principalmente ou apenas comestíveis, por exemplo, poderia resolver qualquer problema gravitacional sobre a capacidade do pulmão de processar fumaça de maconha com eficiência – e provavelmente seria mais seguro que fumar num ambiente fechado delicado. (Mas ainda não estudamos comestíveis o suficiente para saber como essa nova forma de consumo pode interagir com as variáveis da vida em Marte.)

Mas não temos como controlar todas as maneiras como Marte pode foder com os humanos chapados de maconha até aprendermos mais. Não só sobre o planeta vermelho, mas sobre a própria maconha.

Dixon aponta que a cannabis é uma substância complicada com mais de 500 componentes, incluindo mais de 140 canabinoides, “e sabemos só um pouco sobre dois ou três deles”. Quando entendermos como cada um deles nos afeta em isolamento, e em combinação com os outros componentes da cannabis, poderemos modificar a maconha para se incorporar à vida em Marte – por exemplo, reduzindo os efeitos na pressão sanguínea.

Os inacreditáveis controles ambientais associados com a agricultura marciana provavelmente tornarão mais fácil, ou, pelo menos, rotineiro, controlar consistentemente as qualidades de uma cepa. Cepas de maconha cultivadas no estilo marciano podem acabar sendo mais confiáveis e personalizadas para cada necessidade do que as cepas terrestres modernas.

Se pudermos alcançar esse nível de conhecimento e controle sobre a composição e cultivo da cannabis, poderemos dar aos colonos de Marte um barato similar ao da Terra. Ou podemos descobrir que, controlando as complicações de Marte, há um novo barato muito diferente do que experimentamos na Terra. É difícil saber exatamente como será chapar o coco em Marte neste estágio embrionário, tanto da exploração espacial quanto da pesquisa legítima de cannabis. No mínimo, podemos dizer que se os humanos têm um futuro em Marte, provavelmente teremos um futuro viável viajando de maneira segura num habitat marciano.

Matéria originalmente publicada no Tonic.

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