Qual É Desse Novo Ranking de Músicas Lançadas Apenas em Vinil?
Marielle Plomp

FYI.

This story is over 5 years old.

Música

Qual É Desse Novo Ranking de Músicas Lançadas Apenas em Vinil?

Esse é um ranking que traz uma mistura de tiozões aposentados com saudade do rock e uma molecada com cortes de cabelo descolados.

Com ou sem razão, um dos maiores mitos românticos desse mundo é o da relação entre dance music e vinil - que abrange de tudo, desde um techno em escala de cinzas até uma cosmic disco ultra-colorida, graças a indústria mutável da EBM e um EDM açucarado. Independentemente das evoluções tecnológicas, ainda vemos os DJs como uns caras com headphones permanentes que valorizam suas técnicas mais do que suas amizades.

Publicidade

Fui no Centro de São Paulo comprar vinis e coletâneas funk

Uma vez por semana ouvimos de alguém que O VINIL ESTÁ DE VOLTA, que TODOS ESTÃO APAIXONADOS POR VINIL NOVAMENTE e que VINIL É A PARADA MAIS FODA DO UNIVERSO mesmo que comprar um vinil novo seja uma afetação tão grande quanto comprar um uniciclo ou uma cópia de uma revista avant-garde inglesa, mas quem se importa, afinal O VINIL ESTÁ DE VOLTA, GALERA. Então não foi nenhuma surpresa quando ontem nos deparamos com o nascimento do oficial "Top 40 Singles em Vinil", mais uma entre os inúmeros rankings que atraem cada vez menos público uma vez que os domingos (ou agora sextas) prosseguem, inexoravelmente, em direção ao futuro.

Essa mais nova necessidade de uma variação de interpretação da qualidade artística dos lançamentos através de uma análise de quantas pessoas julgam comprar discos como algo importante é interessante porque, infelizmente, nos mostra que o mercado de vinis não é o porto seguro dos technos de 12" como gostaríamos. Surpreendentemente, a parceria dos caras da banda britânica Underworld com o Heller & Farley está na primeira posição, mas apesar de não esperarmos ver os singles do Raime entre os primeiros, ainda existe uma falta desconcertante de 4/4 nas primeiras posições do todo poderoso "Top 40".

Top 10 funk das antigas do Emerson Sheik

Em vez disso, o que temos é uma visão terrivelmente precisa do mercado de vinis como um todo. Um relançamento desnecessário de "Rebel Rebel" do David Bowie fica ao lado do novo single igualmente desnecessário do Pete Doherty, o qual nós nem sequer ouvimos porque ouvir um novo single do Pete Doherty em 2015 é provavelmente tão prazeroso quanto se depilar. Uma música do Metallica chamada "Lords of Summer" ficou na 34ª posição, e o Noel Gallagher's Flying Birds não apareceu apenas uma nem duas, mas três vezes e parece que o Brian Jonestown Massacre ainda existe. Este é um ranking que traz uma mistura asquerosa de tiozões aposentados com saudade do rock e uma molecada com cortes de cabelo descolados e dinheiro emprestado no bolso que acha que tem noção do que é "música de verdade". No mundo desse "Top 40", Mojo é um lançador de tendências em vez de um caixão cultural. Este é o Reino Unido do David Cameron em um plástico preto caríssimo em grande escala: desanimado, assustado, retrógrado e tão revigorante quanto uma meia bomba. Lulu ficou na 5ª posição, pelamordedeus.

Publicidade

Isso não é necessariamente inesperado. Me lembro de ter comprado uns indies 7" terríveis na Virgin quando era um moleque de 12 anos impressionado, gastando um pouquinho a mais para descolar uma versão exclusiva da Evening Session de uma faixa do Datsuns e várias outras paradas antes de me ligar que ouvir bandas era meio tosco. O mercado da dance music, em sua maioria, sempre existiu e sempre existirá levemente fora da sombra do mainstream - pegue como exemplo dois ou três hits de verão que bombavam nas cabines dos DJs ou na rádio todo ano. O DJ que toca e consome apenas vinil e faz compras ainda existe e as lojas especializadas em vinis também e tem compradores devotos prontos para gastar os tubos em 12" de labels que não têm, querem, ou sequer precisam do tipo de marketing pesado das grandes gravadoras.

Essencialmente, rankings como esses são, na maior parte, irrelevantes para qualquer pessoa que tem um interesse genuíno em um tipo específico de música. O tipo de faixa dance que chega ao "top 5" nas 'principais' paradas de sucesso não é a que costuma tocar nas festas onde a verdadeira cultura de balada está presente. Minha intenção não é fazer juízo de valor sobre faixas ou dizer que elas não contam como dance music 'de verdade', mas sim apontar o abismo entre uma crítica convincente e uma comercialmente viável. A maioria de nós esquece essas listas por volta dos 15 anos de idade. Parece que esse novo ranking, sofisticado e só de vinis, decidiu, basicamente, renunciar a dance music por completo.

Siga o Josh no Twitter

Tradução: Stefania Cannone