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Música

Estivemos lá e vimos: Radio Moscow

A história de uma noite de rock'n'roll.

Hard Club
Porto
7/10 Sou uma gaja que curte peso (a sério, piadinhas ficam à porta, até porque já foram gastas). Metal, doom, post-metal, stoner, punk e o que mais houver. Por isso, uma semana com Cult of Luna e Radio Moscow só podia ser boa. Cheguei ao Hard Club ainda nem eram nove e a fila já chegava cá fora. Assustada — as pessoas intimidam-me, em especial se forem mais altas do que eu: ou seja, 70 por cento da população nacional —, refugiei-me no bar do antigo mercado da Ribeira. Aí, encetei uma experiência que viria a mudar a minha vida. Provei pizza de francesinha (VERDADE, ISTO EXISTE). Não, a sério, não estão a perceber. É qualquer coisa do outro mundo, é Deus na terra Nosso Senhor no meu estômago. Não deu para tirar fotos porque estava demasiado ocupada a mastigar, mas façam um favor a vós mesmos e experimentem isto para a próxima. Na minha mesa, um grupo de belas e simpáticas raparigas que despejavam álcool como se não houvesse amanhã, falava-se daquilo que as gajas falam quando estão juntas. Vou desvendar-vos o mistério de uma vida: os temas eram gatos, gatinhos e gajos. Havia lá dois gajos connosco, mas acho que se sentiram mal e decidiram bazar para irem falar à vontade sobre coisas de homens. Seja lá o que isso for. Por isso tudo, e como os finos estavam mais belos do que o habitual, deixei-me estar e perdi os ALTO!. Desculpa lá, Joca. Ouvi dizer que foi do caralho e, como já vos vi 346 vezes ao vivo, tenho a certeza de que foi mesmo bom. Uma rápida visita ao WC, um shot para a viagem (fui a única que dispensou a tequila: caso contrário, não estaria a escrever este texto hoje) e abriu-se caminho para a frente do palco. Os Radio Moscow tinham começado, naquele preciso momento, a abrir a matar. Uma miúda qualquer ao meu lado, com ar de má, só dizia: “Ei, que cena! Que cena!” Lamentei a minimal amplitude lexical do seu vocabulário e comecei a mirar o outro gajo que tinha ao meu lado: um bacano com um chapéu esquisito, que fumava ganza como eu fumo cigarros. Na boa, nada contra. Mas aquele bafo (combinado com o calor) estava a irritar-me. Por isso, decidi usufruir dos privilégios de ser jornalista e esgueirei-me até ao palco. O segurança ficou a olhar para mim, mas respondi-lhe que ia só apanhar ar e que já voltava. Afinal, até tenho jeito para mentir. Outro dos motivos que me fez querer ir para o palco prendia-se com a vontade de perceber se o Parker Griggs era tão giro quanto parecia. Errei: o verdadeiro gajo a sério daquela banda é o baixista. Que nível! Ora topem: O melhor ângulo que consegui captar foi este. Desculpem lá. Mas, se queremos falar de musicalidade, há que saudar o baterista. Até lhe tirei uma foto com o meu telemóvel que não é um iPhone e que nem tem Instagram: A certa altura, só sobrou meia baqueta. True story. Quanto aos Radio Moscow, há qualquer coisa neles que me eleva a dopamina, mesmo dentro da sobriedade. Há a figura central de Parker, o arquitecto que faz qualquer um quebrar o pescoço. Há o ritmo rock’n’roll dos 60’s e dos 70’s, com um travo a blues nostálgico improvisado. Há o culto às melhores bandas de sempre, com uma impressão digital pessoal, com o gozo de se estar a criar algo “próprio”. É uma muralha sonora, por vezes intencionalmente repetitiva, que abre portas a uma nova dimensão: a da música em ácidos. Um orgasmo do riff, poder-se-ia resumir. Ou, se preferirem, uma reincarnação de Jimi Hendrix. A certa altura, achei que já estava a viajar demais no palco e fui dar valência às minhas capacidades. Sentei-me na banca a vender a merchandise dos Radio Moscow. Como estava toda a gente entretida a ouvir música, não tive clientes. Se calhar, não tenho olho para o negócio. A prova!!! Há bocado, falava dos privilégios de se ser jornalista. Mas isso paga-se caro: especialmente, quando a organização acha que, em troca, devemos distribuir flyers de concertos vindouros. Foi lindo, comovente até, ver um concerto de uma banda independente tão cheio. A mudança para a sala 1 foi produtiva. Tão produtiva que, a distribuir panfletos, levei com mais 600 pessoas nas trombas (não há fotos disto, porque estava demasiado ocupada para tal). Mas é na boa, mereci. Fotografia por Miguel Oliveira