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Música

Discos: Helm

Imaginar como poderiam ter sido as sessões electro-acústicas de um Klaus Kinski às portas da demência.

The Hollow Organ EP

Pan

Apenas uma letra separa Helm de Hellm: é esse o acaso que me serve para tentar explicar como a música de Luke Younger, com Helm na cabeça, vive geralmente paredes-meias com o inferno. Por mais safanões que a noção de “inferno” possa sofrer, nas mãos de diferentes crenças e culturas, a ideia geral remete para um espaço onde o Mal impera sem dar contas a ninguém. Imaginemos agora que um músico orientava a sua selecção de sons da mesma maneira que uma super-entidade separa os puros dos pecadores. Já encontrámos C. Spencer Yeh nesse posto de semi-deus, durante a mais imponente fase do seu projecto Burning Star Core, e de há uns anos para cá esse é um papel que assenta na perfeição a Luke Younger, metade dos Birds of Delay e senhor de si próprio no pacto de agressão Helm.

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Que presenças tão medonhas habitam então em Helm, para que seja anunciado como uma maldição? Incidindo principalmente nos discos gravados para a PAN (o LP

Impossible Symmetry

 e os EPs

Silencer

e este novo

The Hollow Organ

), diríamos que as atmosferas de Helm encontram-se dominadas por sons retorcidos e funestos, entre os quais podemos encontrar carradas de electro-acústica, feita com recurso à violência, e drones opacos, que ninguém ousaria transmitir no sistema de som de uma ala psiquiátrica. Se o anterior

 Silencer

dava uns quantos passos no sentido de uma música mais decifrável, por via dos seus padrões de ritmo,

The Hollow Organ

 deita abaixo a aproximação conseguida e devolve Helm à sua forma mais estranha.

Mas o estranho obscuro de

The Hollow Organ

atrai-nos para o seu interior com um magnetismo semelhante ao de Leyland Kirby ou dos Demdike Stare, dois nomes que, por mais que utilizem recursos tortuosos, nunca cortam por completo a corda que os liga a um volume imenso de referências na música de dança. Talvez seja por isso que “Carrier” (primeiro grande tema de 2014) aproveita os seus três minutos para uma meditação techno em tudo próxima da estética de Gas, mas gravada como música javanesa feita de encomenda para suicídios colectivos. Se esta definição aponta para lá das fronteiras do bizarro, fiquem avisados de que descreve apenas o início do disco. Neste caso, um disco que nos faz imaginar como poderiam ter sido as sessões electro-acústicas de um Klaus Kinski às portas da demência (como era seu costume), com Werner Herzog no lugar de produtor.