Bosconi
8/10 É engraçado reparar em como um detalhe da cultura pop pode alterar por completo a noção do mundo em relação a determinadas coisas. Numa altura em que era apenas mais um aspirante, Sylvester Stallone protagonizou um softcore intitulado The Party at Kitty and Stud’s. Decorrido em Nova Iorque, o filme de baixíssimo orçamento colocava Stud (Stallone) no lugar do principal responsável pela satisfação sexual das mulheres de uma das zonas da cidade. Depois do sucesso gigantesco de Rocky, esse primeiro trabalho obscuro de Sylvester Stallone foi recuperado com o título de Italian Stallion (O Garanhão Italiano) e, desde aí, essa tornou-se também numa das alcunhas mais famosas do actor. Bem longe de Nova Iorque e de Hollywood, os cavalos italianos passaram a ter a sorte de serem globalmente reconhecidos pela sua virilidade e capacidade infalível de cobrir, tal como o Stud do filme. Se esse dado científico é verdadeiro ou não, cabe a um especialista dizer. Para comemorar o seu quinto aniversário, a Bosconi Records fez bom uso da fama do garanhão italiano para uma caixa de quatro doze polegadas a que chamou de Bosconi Stallions. As fotografias dispersas pelo artwork mostram os cavalos como se fossem modelos fotográficos prontos a exibir as suas melhores partes do corpo. A opção estética da Bosconi faz sentido se pensarmos que Itália é um daqueles países em que as pessoas são especialmente vaidosas (e as mulheres maquilham-se até mesmo só para dar um saltinho à padaria). Por outro lado, acreditamos que a Bosconi esteja particularmente orgulhosa da pura raça das malhas que escolheu para esta sua compilação comemorativa. Terá sido por isso também que os patrões da label (aqui designados por Bosconi Soundsystem) misturaram as várias faixas num CD com o título de Bosconi Stallions Mixed, que vem como complemento para as quatro rodelas de vinil. Bosconi Stallions Mixed está carregado de motivos para orgulhar os criadores que andaram a alimentar estes cavalos. A seu favor podemos começar por referir que é um mix pronto para correr lado a lado com criações semelhantes por parte de outras casas europeias dedicadas à techno e house. E o segredo disso talvez esteja no equilíbrio obtido com a presença de uns quantos nomes mais experientes (A Guy Called Gerald ou Eduardo de La Calle) e de algum sangue novo (como é o caso da dupla Life’s Track, que está ligada à Bosconi e que aqui ressuscita um pouco dos inevitáveis Basic Channel). O destaque, mesmo assim, vai para “Quanto Tempo Ci Remane (Fabio’s Consolation Edit), que corta aos bocados a irresistível “Audrey’s Dance”, de Angelo Badalamenti, para fazer disso uma espécie de techno cerebral para Twin Peaks. Só por este último Stallion, a compilação merecia uma nota alta, mas são muitas as outras faixas que gostaríamos de ter a tocar num iate, com uma modelo húngara de perna aberta e a dar pãozinho às gaivotas.