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Fui num Bailão da 3ª Idade no Interior do RS

Fui num pico aqui de Caxias do Sul (minha cidade) chamado Velho Fogo de Chão. Ruteza total, o local funciona das 15h às 4h da matina.

Aqui no interior do Rio Grande do Sul existe uma cultura muito forte de tradicionalismo que chega a ser chata quando flerta com o bairrismo. Mas tirando esse lance babaca, dançar um vanerão pegado ao som de música gaúcha é um dos lances mais afudês (como a gente se refere a coisas legais) dessas bandas. Quando tinha 13 anos, fui ao primeiro e um dos únicos bailões da minha vida, em Cambará do Sul, grota desgraceira aqui da região. Como usava um brinco de afrescalhado, no dialeto bagual, virei alvo de chacota e traumatizei desde então. Mas como todo churrasco de final de semana da minha família é embalado por artistas como Xirú Missioneiro e Porca Véia, não jeito de eu negar minhas raízes. Mais afudê que isso, só a galera da 3ª idade dançando e conversando ao som da gaita comendo solto. Fui num pico aqui de Caxias do Sul (minha cidade) chamado Velho Fogo de Chão. Ruteza total, o local funciona das 15h às 4h da matina, mas o barato mesmo é ir pela tarde, quando a frequência é da turma dos aposentados. Fodam-se suas festas hipsters do caralho e seus mimimis porque o episódio legendado de Game of Thrones demorou dois dias pra ser disponibilizado em rmvb, nunca me diverti tanto e tirei tanta lição de vida quanto nesse dia que conversei com velhinhos cheios de disposição. Lógico que no início foi complicado de tirar algumas palavras do pessoal, principalmente dos homens, porque tem muito sujeito casado que vai lá pro dançar um chora-morena embalado pelo competente Musical Velho Fogo de Chão (mesmo que às vezes eles apelem pro sertanejo universitário, apesar de não ser muito bem visto pelos tios).

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A Dona Dilce tem 62 anos e conheceu o Jorge, 45, no próprio Fogo de Chão, fazendo jus àquela máxima “panela velha é que faz comida boa”. Ou ela pode ser a godmother of all cougars e a gente nem sabe.

A Dona Heloci tem 63 anos e foi a primeira a dizer o que ouvi repetidamente depois – a motivação é a dança e fazer novas amizades. Ela foi a primeira opção pra dançar comigo, até eu conhecer a Dona Isis.

Dona Isis é a melhor pessoa do mundo. Cheia de vitalidade aos 72 anos, disse que “a melhor coisa que inventaram foi o bailão da 3ª idade. Aqui é uma família, a gente tá em casa”. Foi eleita rainha em outros bailões e princesa do Fogo de Chão em 2010. E querida que só ela, me concedeu uma dança.

Apesar de ser pé duro pra caralho, até que não saí tão mal dançando com a musa do lugar. Ela me abraçou tanto que voltei com cheirinho de vovó pra casa, mas bem de boa, acho que ela não me viu como um neto em nenhum momento – vide o beijo no pescoço que ganhei.

O Seu Antonio, 74 anos, e a Maria Aparecida, 48 anos, namoram firme há 12 anos.  Seu Antônio curte tanto o bailão que fez festa de aniversário e casamento da filha no Fogo de Chão. A Maria Aparecida, que recebeu a faixa de princesa da Dona Isis em 2011, me ofereceu um copo de cerveja tão quente que parecia um chimarrão. Mas trago (como a gente chama bebidas de álcool por aqui), nunca se nega.

Seu Adão (77) e Dona Auri (64) namoram há três anos e desde então frequentam com regularidade a casa. Nem sei o que comentar porque vai soar Jornalismo Wando demais. Mas é muito amor isso. :~

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Seu Vercidino é um gaúcho véio grosso e surdo, mas muito gente boa. Único pilchado (indumentária tradicionalista) a caráter, só rendeu uma foto massa porque a audição dele não ajudou muito.

Dona Miriam tem 80 anos e tava ali mais solita que indie rocker em 2012 (amo/sou pessoa que adapta ditos populares gauchescos à realidade atual). Joguei um charme (confesso que usei a cantada da idade com todas que entrevistei) e trocamos umas ideias legais. Frequenta a casa há 25 anos, idade da maioria das gurias que eu pego.

Esqueci de perguntar a idade do Seu Luís e não lembro muito do que a gente conversou, mas olha esse chapéu que style. Muito mestre.

A Flora é a garçonete gata e gente boa que trabalha na casa há 15 anos. Ela também me ajudou a abordar o pessoal (nem sempre com sucesso, tinha uns caras me olhando muito feio, apesar de todo poder que ela exerce sobre a rapaziada). Prometi pra ela mandar o link da reportagem. “Só quero ver minha foto, na real.”