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Entretenimento

As Mulheres do Movimento pelos Direitos dos Homens

Conheça as ADHs (ativistas pelos direitos dos homens), mulheres que querem defender homens e meninos de equívocos sociais, discriminação e feminismo.

Logo depois de ter seu primeiro filho, Janet Bloomfield percebeu que não queria voltar ao trabalho e pagar uma babá qualquer para criar suas crianças. Ela tinha estudado teoria do cinema na faculdade e achava, como praticamente toda mulher norte-americana, que começaria sua carreira antes de se casar e formar uma família, mas não foi assim que as coisas aconteceram. Ela conheceu um homem, se apaixonou e ficou em casa.

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Ela não teve vergonha da sua decisão nem sentiu que estava perdendo nada – uma amiga da faculdade, que tinha o apelido de Pixie, tinha acabado numa situação similar quando o filho foi diagnosticado com vários problemas graves de saúde. Mas outras pessoas, especialmente outras mulheres, aparentemente tinham um problema com a escolha de Janet. Ela sentiu que suas amigas estavam desdenhando dela, que a achavam louca ou idiota por confiar num homem para se sustentar; insinuavam que o marido de Janet podia “trocá-la por uma mulher mais jovem” e que ela ia acabar pobre e abandonada.

Janet e Pixie começaram a trocar cartas enquanto o filho da última estava na UTI, onde ela não podia usar o celular. Elas falavam sobre como as donas de casa tinham caído em desgraça cultural e como Janet foi “vítima de alienação parental”: ela diria depois que seus pais tinham passado por um divórcio feio e sua mãe tinha voltado os filhos (ela e seus três irmãos) contra o pai. Em outubro de 2012, essas cartas viraram um blog, JudgyBitch.com, com Janet escrevendo e Pixie fazendo os gráficos e a manutenção do site.

Cartas colecionáveis. Cortesia de Europa Phoenix, que faz ilustrações para o Podcast Honey Badger.

Com o site, Janet começou a procurar na internet respostas para o desprezo das colegas por mães que ficavam em casa e de como sua mãe teve o poder de separá-la do pai. Ela se viu explorando uma parte da internet cheia de teorias complicadas sobre hierarquia social, propaganda e preconceito de gênero; no processo, leu histórias e mais histórias de homens sendo discriminados em tribunais de família e batalhas por custódia. O respeito pelas estruturas familiares tradicionais estava em declínio. Na verdade, o próprio conceito de família hoje é considerado um meio pelo qual os homens oprimem as mulheres.

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Quanto mais ela lia, mais fios disparatados começavam a se ligar: todas essas coisas eram o resultado da vilificação sistemática do gênero masculino. A desinformação, as mentiras, o veneno, tudo isso vinha do feminismo radical. Mesmo seu curso de teoria do cinema a tinha ensinado a assistir a filmes através de um filtro feminista. Ela foi gradualmente adquirindo um conjunto de crenças com ajuda de uma comunidade online de pensadores e escritores frouxamente organizada conhecida como Movimento pelos Direitos dos Homens (MDH).

Sua nova visão de mundo ia contra a maneira como as pessoas deveriam pensar e falar sobre gênero e sociedade. E quando ela usava seu site para contra-atacar o feminismo, as pessoas ficavam furiosas, o que era bom: quanto mais animosidades ela recebia por cruzar fronteiras, mais fronteiras ela cruzava.

Janet Bloomfield. Todas as fotos por Alex Brook Lynn.

Hoje, Janet é uma loira esguia que acaba de entrar na meia-idade, uma mulher muito mais afável pessoalmente do que na internet, onde que ela é feroz, confiante e incisiva. Mesmo no começo, enquanto adotava suas visões estridentes, ela não compartilhava isso com seus vizinhos de cidade pequena com medo das consequências. “Meu marido podia perder o emprego”, ela me disse. “Não preciso de todos os professores dos meus filhos e os pais dos amigos deles os tratando diferentemente por causa dos meus pontos de vista.”

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Em 2013, Janet encontrou um novo lar para esses pontos de vista no A Voice for Men (AVFM), um site popular do MDH fundado em 2009 por Paul Elam, conhecido por sua posição e linguagem provocadoras. Ela começou comentando em algumas postagens. Depois que ele leu o blog dela, Elam entrou em contato com Janet para republicar alguns de seus trabalhos, dando-lhe uma plataforma.

Outras mulheres estavam aparecendo no site a convite de Elam, e ele começou a se referir a algumas dessas mulheres ADHs (ativistas pelos direitos dos homens) como Honey Badgers (ratel), uma referência a um vídeo do YouTube sobre a “indomável criatura” que luta com cobras e abelhas e “não dá a mínima”.

Mais tarde naquele ano, três dessas mulheres formaram a Brigada Honey Badger, um site e um podcast emque elas discutem direitos dos homens, feminismo e cultura geek. Janet se tornou presença regular no podcast, o que a colocou no coração dos canais do YouTube, blogs, vlogs, subreddits, grupos do Facebook e contas do Twitter que formam o MDH. O movimento pode se basear em defender homens e meninos de equívocos sociais, discriminação e feminismo; mas, ironicamente, são as ativistas mulheres – enraivecidas, com amplo conhecimento e famintas por uma briga – que estão dirigindo a conversa.

Retratos de algumas das Honey Badgers numa mesa na conferência pelos direitos dos homens em junho.

As origens do Movimento pelos Direitos dos Homens são obscuras. É possível encontrar menções a grupos como a Liga pelos Direitos dos Homens em Londres, no final do século 19 (um grupo que lutava contra a “invasão das mulheres”), e, em 1926, o Der Bund für Männerrechte (ou Federação pelos Direitos dos Homens), formada em Viena com foco em direitos de divórcio e paternidade – mas também objetivando “lutar contra todas as monstruosidades que vieram com a emancipação da mulher”.

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A versão moderna do Der Bund für Männerrechte se formou como uma reação à segunda onda do feminismo e às garotas independentes que queimavam sutiãs nos anos 70. A organização mais notável da era foi a Coalizão Nacional pelos Homens, que ainda existe e hoje busca “promover a conscientização de como as expectativas baseadas em gênero limitam os homens legalmente, socialmente e psicologicamente”. A ideia de que o homem é oprimido pela sociedade seria defendida depois por Warren Farrel no livro The Myth of Male Power, de 1993, inspirado em Elam e em muitos outros ativistas dos direitos dos homens de hoje.

As preocupações mais comuns do MDH incluem:

1 – O sistema dos tribunais de família, que, segundo os ativistas, força os homens a pagar pensões alimentícias muito altas enquanto desconsidera os sentimentos deles na luta pela custódia dos filhos;

2 – Programas do governo que assistem apenas mulheres em vez dos dois gêneros, especialmente aqueles que fornecem ajuda às mulheres vítimas de violência sexual – o MDH afirma que os homens que sofrem o mesmo abuso são frequentemente ignorados;

3 – O direito de optar por não criar um filho, já que, para alguns ativistas, as mulheres podem optar por interromper a gravidez

4 – Acusações falsas de estupro que não receberiam atenção suficiente numa cultura cada vez mais inclinada a acreditar em mulheres que dizem coisas horríveis sobre homens;

5 – Combater o feminismo radical, o maior mal de todos, de acordo com o movimento.

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Essas não são questões mainstream, mas o MDH moderno ganhou um público online que seus antepassados jamais poderiam sonhar. “Estamos crescendo exponencialmente por causa das comunicações modernas”, me explicou Janet.

A internet, claro, tornou possível transmitir suas ideias para o mundo sem as restrições de se encontrar uma editora ou ser parte de uma organização maior. As comportas se abriram: todo mundo é livre para escrever e disseminar manifestos, formar grupos de discussão e romper com eles, formando outras facções sempre que desentendimentos surjam.

Sendo assim, agora existem ADH como os leitores do AVFM, mas também uma constelação de fenômenos relacionados: os pick-up artists (PUAs), que concatenam sistemas elaborados de interação para seduzir mulheres; os antiPUAs, que romperam com os gurus PUAs, que prometiam transformar caras tímidos em garanhões, mas não cumpriram a promessa (eles ganharam notoriedade recentemente porque Elliot Rodger, o atirador de Isla Vista, frequentava esses fóruns); Men Going Their Own Way (MGTOWs), que juram ficar longe das mulheres por serem sexualmente traumatizados ou por terem sofrido algum tipo de abuso; e o Red Pill, um termo genérico para aqueles que veem o mundo como dominado por mulheres e opressivo aos homens. Estes mostram a linguagem mais extrema entre os afiliados do MDH. Nem todos os homens que adotam esses rótulos pertencem a organizações, mas o grupo mais proeminente nos EUA é, sem dúvida, o AVFM.

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Karen Straughan.

Karen Straughan, também conhecida como GirlWritesWhat, é uma das personagens mais polêmicas da esfera MDH. Seu canal no YouTube tem mais de 67.000 assinantes e seu vlog de 2011 sobre “Feminismo e o Homem Descartável” já foi assistido mais de um milhão de vezes, a tornando parte da realeza das mulheres ADH. De dia, ela é uma garçonete divorciada de 41 anos mãe de três filhos. Uma bissexual autodidata que costumava ganhar dinheiro escrevendo romances eróticos para mulheres, Karen descobriu o MDH quando ela e alguns outros escritores decidiram trollar um fórum de questões masculinas – onde ela acabou sentindo que tinha mais em comum com os membros do fórum do que com os colegas trolls.

Você provavelmente já está familiarizado com os direitos dos homens e a reação que isso inspira entre as feministas e aqueles que pensam que o MDH é só uma nova linguagem para justificar crenças velhas e escrotas. Quase todo mês, uma onda de postagens em blogs de certa importância é desencadeada pela última polêmica desenterrada pelo MDH e seus oponentes, e quanto mais veneno é jogado neles, mais os ADH – e as Honey Badgers, em particular – cospem de volta.

Por exemplo, percebi durante uma conversa minha com Janet que ela era a autora de uma postagem particularmente doentia intitulada “Por Que Não Temos Um Registro de Vadia Idiota? Isso Sim Seria Justiça”, um texto que ela escreveu em resposta ao julgamento de 2013 de dois jogadores de futebol de Steubenville, Ohio, condenados por estuprar uma garota de 16 anos que desmaiou depois de beber numa festa. “Isso é uma tragédia para os garotos, para a justiça e para as vítimas reais de estupro”, ela escreveu sobre o veredito, acrescentando que “comparar uma vadia bêbada idiota que é dedada numa festa com uma vítima de estupro real é um completo absurdo”.

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Quando falei com ela sobre isso, ela usou o caso para ilustrar a necessidade das mulheres de ter cuidado com as situações em que se colocam. Ela me disse que rejeita a “noção feminista de que as garotas devem poder se comportar como quiserem e nada de mal vai acontecer a elas”. Janet continuou: “Se tentamos dizer que as garotas devem ter consciência dos perigos lá fora e serem responsáveis, nos dizem que estamos fazendo slut-shaming ou culpando as vítimas”.

Conseguimos ter um diálogo acadêmico sobre o assunto durante nossas conversas, o que é bem raro, já que tanto os ADH quanto seus detratores tendem a apelar para a hipérbole assim que se encontram. “Há pouca boa vontade por parte das feministas de se envolver num debate real”, disse Kristal Garcia, uma Honey Badger que brigou com várias amigas por causa de seu envolvimento com os direitos dos homens.

Pode parecer estranho que Kristal acuse o outro lado de ser pouco razoável, quando pessoas de seu time se referem a adolescentes vítimas de abuso sexual como “vadias” – mas os membros do MDH dizem que estão apenas respondendo à lama que é jogada neles, e nos homens em geral, pelas feministas. Dentro da bolha da internet onde eles habitam, isso é simplesmente um modo de falar.

Paul Elam.

Quando conheci Janet e as Honey Badgers na internet, como muitas pessoas, achei boa parte do que elas diziam ultrajante, perturbador até. Mas eu não conseguia deixar de assistir a briga online entre essas mulheres e as feministas que as detestam. O ridículo circo da guerra dos sexos na internet era melhor que qualquer coisa passando no Netflix, então continuei clicando, preparada para torcer pelos mocinhos e vaiar os bandidos.

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Lendo as postagens delas e assistindo seus vlogs, me pareceu que as ADH, especialmente Karen e Janet, estavam articulando sua tese surpreendentemente bem, muito mais que seus equivalentes homens. Como a maioria dos ADH, elas são essencialmente igualitárias a favor de descartar os papéis tradicionais de gênero; Janet é uma liberal convicta que apoia os direitos LGTB, a legalização do aborto e liberdades civis para todos. Eu queria descobrir como essas mulheres claramente inteligentes podiam dizer as coisas que dizem. O editor do AVFM, Dean Esmay, me ajudou a contatá-las por telefone. Logo eu estava conversando com as Honey Badgers sobre tudo, desde Jay-Z e Solange até charia e alegações de estupro. Acabei sendo convidada para o podcast da Brigada Honey Badger por Alison Tieman, uma das fundadoras, e vim a conhecer muitas ADH.

É impossível defender pessoas que usam palavras como vadia, puta e piranha para falar sobre gênero, mas devo admitir que minhas conversas com as Honey Badgers chamaram minha atenção para coisas que nunca tinha pensado antes, e até me convenceram de que algumas de suas queixas são legítimas. Agora acredito que circuncisão masculina pode ser descrita como “mutilação genital”, e que não deveríamos aceitar isso tão casualmente. Também acho que a sociedade não está muito disposta a aceitar que as mulheres também podem ser fisicamente violentas em relacionamentos, e que precisamos começar a falar sobre processo legal em falsas acusações de estupro, mesmo que essa conversa seja desconfortável.

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Quase contra a minha vontade, me vi gostando do grupo e me maravilhando com sua diversidade. A Alison, por exemplo, é uma pessoa extremamente doce ao vivo – ela tende a levantar os ombros e se inclinar para frente quando sorri – mas na frente da webcam, ela é confiante, engraçada e expressiva. Ou a Kristal, uma voluptuosa mulher negra que vloga de seu apartamento rosa em Nova York; em sua carreira anterior como trabalhadora sexual, ela descobriu que seus clientes “não podiam ser eles mesmos no mundo exterior”, e que “slut shaming vem principalmente de outras mulheres”. Havia até uma dupla de jovens Badgers: Jess Kay, uma garota do rock alternativo (ela tem versos de três músicas do Incubus tatuadas no braço) que entrou em questões sobre garotos depois que seu filho nasceu, e Rachel Edwards, que começou um “nerdcast” baseado na Honey Badger Radio para discutir cultura geek de uma perspectiva das mulheres ADH.

Essas mulheres vivem principalmente na internet, e muitas acompanham as buscas no YouTube, retuítes e acessos aos blogs de perto. JudgyBitch.com teve “2,3 milhões de visualizações em menos de dois anos”, se gabou Janet. “Num dia ruim, tenho 3.000 acessos; num dia bom, isso pode chegar a 5.000.”

A qualquer momento do dia, as escritoras têm pelo menos três artigos na primeira página do AVFM, juntamente com link para o último podcast da brigada Honey Badger e um banner para o canal da Karen no YouTube. É uma presença pesada de mulheres num site dedicado a homens e meninos, e a Janet se debate com a questão de se essa proeminência ajuda ou atrapalha. “É como andar no fio da navalha”, ela disse sobre as mulheres ADH.

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Jess foi um pouco mais pragmática. “Infelizmente, a sociedade ouve mais as mulheres do que os homens”, ela me disse, “e se podemos tirar vantagem disso para conseguir alguma igualdade, bom, ótimo!”

Uma questão mais urgente – pelo menos quando se trata de fazer o mainstream levar o MDH a sério – é a altura insana frequentemente alcançada pela retórica online do grupo. Por exemplo, quando pesquisei pela primeira vez “direitos dos homens” e “MDH” na internet, um dos primeiros hits foi um texto de Elam, uma “resposta satírica” a um artigo do Jezebel, o site feminista inimigo jurado do MDH. “Em nome da igualdade e da justiça, proclamo outubro o 'Mês de Espancar uma Vadia Violenta'”, escreve Elam na postagem, que foi publicada originalmente em 2010. Ele continua, enfatizando que não está falando sério, mas que quer mesmo jogar merda no ventilador:

Eu gostaria que este mês, e em todos os meses de outubro que se seguirem, os homens que são fisicamente atacados ou abusados por mulheres – que eles as espanquem. Não me refiro a subjugá-las ou dar um tapa de mão aberta para elas sossegarem. Quero dizer literalmente agarrá-las e socar a cara delas contra a parede, até que a presunção de que você pode bater em alguém sem que a pessoa reaja saia pelo nariz delas em milhões de glóbulos vermelhos.

[…]

Mas estou falando sérios sobre isso?

Não. Não porque seja errado. Não é errado. Todo mundo devia ter o direito de se defender.

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[…]

Mas não vale a pena ser preso ou passar pelo abuso de um treinamento de controle de raiva, coisas que vão acontecer com homens se eles forem arrogantes o suficiente para se defender de suas agressoras.

Esse tipo de linguagem provavelmente foi a causa para AVFM ter sido acusado de misoginia pelo Southern Poverty Law Center em 2012, mas o consenso entre os ADH que conheci é que textos bombásticos como os de Elam valem a pena – o tom pode alienar alguns aliados em potencial, mas também traz muita atenção para a questão. (No caso dos trechos acima, a questão é que a mídia trata a violência contra os homens como piada.)

“Há muita coisa deliberadamente exagerada, estranha, hiperbólica, polêmica e provocativa no movimento”, me escreveu Janet. “Concordo com tudo que qualquer um que se diga ADH publica? Claro que não. Mas percebo que essas primeiras pessoas furiosas foram essenciais para o movimento. Agora estamos em outro lugar do diálogo e a conversa deve mudar um pouco.”

Um dos resultados mais notáveis dessa “mudança” é que mais e mais ativistas estão se referindo à sua causa como Movimento dos Direitos Humanos dos Homens, num esforço para enfatizar a ligação disso com uma noção mais ampla de direitos humanos.

“É preciso que haja vozes razoáveis e racionais no movimento”, disse Karen. “Mas isso não é efetivo na vanguarda.” Janet, Karen e o resto das Honey Badger são a vanguarda da vanguarda, a ponta da lança que quer atravessar todas as ilusões do feminismo, uma diatribe de cada vez.

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Alison Tieman.

Dezembro passado, Elam anunciou que ele e outros líderes do MDH estavam organizando uma conferência – a manifestação mais importante do movimento na vida real até hoje – no Double Tree by Hilton em Detroit, uma escolha que ele disse ser simbólica. “Se queremos encontrar uma cidade que é um testamento icônico de masculinidade, não precisamos olhar além Detroit”, escreveu Elam. “Essa é uma cidade que está lutando para ficar de pé. Ela tenta, como muitos homens, achar seu equilíbrio e seu lugar no mundo novamente. E também como os homens, ela passa por problemas enquanto a maioria do mundo olha para o outro lado.”

A notícia da convenção indignou feministas e outros antagonistas do MDH, e no dia 7 de junho, algumas centenas de pessoas saíram às ruas do centro de Detroit para protestar contra aqueles blogueiros arrogantes. Os manifestantes pediram que o Hilton se recusasse a hospedar o grupo que, segundo eles, promove um “discurso de ódio”. O AVFM anunciou que estava recebendo ameaças de morte de feministas (o que os oponentes viram com bastante ceticismo) e conseguiu um financiamento coletivo de mais de US $25.000 para cobrir gastos adicionais com segurança; depois disso, o grupo disse que a conferência tinha mais participantes do que a ocupação total do Hilton. Assim o evento saiu da Cidades dos Motores e de todo seu peso simbólico para um salão em St. Clair Shores, um subúrbio no norte.

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Alison respondeu ao burburinho com um discurso emocionado em seu canal no YouTube. “Mesmo discutir os problemas dos homens – essa sociedade não aguenta isso, não tolera isso”, ela disse, com lágrimas nos olhos. “Como isso é patriarcado?”

A conferência seria a primeira vez que muitas das Honey Badgers se encontrariam pessoalmente. Também foi a primeira oportunidade de encontrar Elam e outras lendas do MDH, como Erin Pizzey e a senadora canadense Anne Cools, que passaram os anos 60 e 70 abrindo abrigos para mulheres, antes de romper com o feminismo e começar a defender os direitos paternos, paternidade compartilhada e reconhecer o fato de que as mães, não apenas os pais, também podem machucar os filhos.

Antes do evento começar, Elam escreveu para os seguidores de seu blog dizendo que a imprensa e “oponentes ideológicos” do MDH “estariam ouvindo, espionando e reunindo coisas para nos prejudicar”, e alertou que “QUALQUE UM no evento que estiver falando bobagem sobre mulheres ou homens, fazendo declarações violentas, mesmo que por brincadeira, receberá UM aviso (ou menos) da segurança. Depois disso, a pessoas será retirada do recinto”.

Mais isso foi apenas uma estratégia de Relações Públicas – Elam não tinha interesse em suavizar a retórica para agradar o norte-americano médio.

“Ninguém no AVFM está buscando aprovação do mainstream”, ele me disse. “Não faço ativismo político. Não faço lobby para políticos. A única coisa que faço é um apelo para a consciência de homens e mulheres. Para mim, isso não é uma questão de aprovar leis. Não quero a 'lei da Violência Contra o Homem'. Não acho que isso seja a solução. Meu objetivo é simplesmente permitir que homens e mulheres tenham uma visão alternativa de mundo.”

O que levanta uma questão problemática: Por baixo de todo esse vitríolo isca cliques, o que o MDH quer? Eles estão mesmo tentando mudar o mundo, ou apenas pregando para um coro cada vez mais amargo? Parece pouco provável que o MDH, em seu estado atual, vá se metamorfosear em algo politicamente viável, particularmente porque muitos ativistas têm aversão a como a política é praticada no mundo real. Tentar aprovar alguma legislação significaria inevitavelmente baixar o tom, e forçaria o movimento a se comprometer com algumas questões. E é muito mais divertido simplesmente causar confusão.

Da esquerda para a direita: Hannah Wallen, Kristal Garcia, Rachel Edwards, Alison Tieman e Karen Straughan na conferência do AVFM.

Quaisquer que fossem os objetivos da conferência, a realidade não fez jus aos ambiciosos ideais dos incontáveis vlogs e artigos do MDH. O ingresso para os dois dias custava US $300, mas o evento foi tosco e mal organizado. As fileiras de lâmpadas fluorescentes iluminavam o linóleo rachado, enquanto 200 e poucas pessoas se sentavam em cadeiras duras para ouvir as nove horas de palestras, pontuadas com intervalos curtos e um almoço. Nenhuma alimentação foi fornecida, exceto por um bufê no jantar do primeiro dia e pizza no almoço do segundo, os dois vindos de doações.

Mas para os participantes, que raramente têm a chance de interagir cara a cara, o evento foi quase uma Feira Mundial. Janet passou o tempo no fundo do salão, comandando o centro de redes sociais: tuitando atualizações rápidas, discutindo com críticos do MDH e tentando provocar feministas contando quantas vezes ela usava a palavra vadia. A Brigada Honey Badger ficou na sala vazia no andar superior, seu merchandising colorido se destacando contra a parede de madeira como um pirulito cor de arco-íris. Elas tinham bottons e camisetas criadas pela Alison, que trabalha como artista e desenha as coisas para a Brigada, além de cartas colecionáveis que apresentam versões heroicas das Badgers, ilustrações criadas pela artista Europa Phoenix. Janet e as outras podem ser anônimas em suas cidades do interior, mas eram celebridades naquele salão de convenções.

No segundo dia da conferência, Karen subiu ao palco para anunciar: “Meu nome é Karen e sou uma antifeminista”. Enquanto ela tentava derrubar as “imprecisões históricas” do pensamento feminista, ficou claro que ela era uma estrela, um peixe grande num laguinho de homens nervosos. No público, as Honey Badgers se sentaram todas juntas, usando camisetas brancas com o rosto dela. “Precisávamos de uma afirmação dos direitos das mulheres”, reconheceu Karen, mas acrescentou: “Não precisamos de um movimento que culpa os homens”. Os aplausos foram selvagens.

Depois de tudo, as Honey Badgers voltaram para casa, para as vidas onde elas não podem expressar suas visões por medo de se tornarem párias sociais. Kristal estava particularmente desanimada. “Finalmente pude conversar sobre direitos humanos dos homens e igualdade sem que ninguém pulasse para conclusões incorretas”, ela me disse. Agora elas tinham que voltar para a blogosfera.

Mas o trabalho online delas está dando frutos, uma conversão de cada vez. Na conferência, pude falar com Rachel, uma das jovens Honey Badger, sobre como ela se juntou ao movimento, e ela relembrou a primeira vez que assistiu um vídeo da Karen e pensou: “Cara, quero ser como ela quando crescer!”

Alex Brook Lynn é uma cineasta e jornalista de Nova York.

Tradução: Marina Schnoor