FYI.

This story is over 5 years old.

cenas

Epístola a Van Damme

Resumindo: obrigado, JCVD.

Querido Jean-Claude, é muito gratificante não ter sucumbido aos fantasmas que me inundavam o cérebro a papaguear para que não escrevesse sobre ti. Como podes ver, acabei por lhes resistir. Porquê? Porque sei que és um gajo que vale a pena, um gajo com G grande. Um gajo que me fez ir ao ginásio, um gajo que, incrivelmente, me fez gostar da “In the Air Tonight” do Phil Collins. Queres maior dedicação do que esta? Continuei a admirar-te mesmo depois de te ver protagonizar o gémeo andrógino no Double Impact — onde usas umas calças de licra azul alfazema e fazes uma espargata de enlouquecer o mulherio. Claro que a presença do Bolo Yeung nesta fita vem acrescentar-lhe uma pitada de qualidade. No entanto, não deixa de ser muito fraquinha para o que me tinhas vindo a habituar. Foi com os memoráveis Bloodsport, de 1988, e Kickboxer, um ano depois, que me encheste o coração. No primeiro, dás uma sova épica no Chong Li (desempenhado pelo já citado Bolo Yeung) na luta final. O melhor é que o deixas knockouteado sem lhe acertar um único pontapé na cara, numa mise-en-scène que para o espectador mais desatento poderá parecer realista. O inesperado é que eu vejo o filme uma vez por ano (isto sem contar com as três vezes por mês em que o apreciava quando as torres gémeas estavam ainda hirtas). Mas o que é que isso interessa? Num filme em que entra o enormíssimo Donald Gibb com aquele cenário de Hell Angel; onde apanhas peixes com as mãos de um aquário gigante com os olhos vendados; onde tens um mestre chamado Tanaka como todos os predestinados do extremo oriente; e onde tocam clássicos musicais de um senhor chamado Stan Bush com temas como On My Own Alone e Fight to Survive; não seria por não acertares três rotativos no já castigado Chong Li que Bloodsport deixaria de ser uma obra-prima. No filme seguinte, vens mesmo confirmar que és um caso sério do cinema de acção, não fosse o primeiro assumir-se como uma obra do acaso. Passado na Tailândia, Kickboxer é o segundo filme objecto de análise. Construído a partir de uma simples história de vingança, entre as várias cenas inesquecíveis, podemos ver-te a arrancar árvores ao pontapé, a dançar melhor que o Al Pacino no Scent of a Woman num bar repleto de arruaceiros e a ser, por fim, exaltado como “guerreiro branco” pela plateia local. Os pontos convergentes nestes dois filmes são vários, mas o que mais me saltou à vista é que tu, meu querido Jean-Claude, não consegues fazer um filme sem mostrar essa tua rectaguarda tonificada e exemplarmente depilada. Então no Bloodsport desempenhas uma cena maravilhosa. Depois de teres tido uma noite de amor com a tua companheira de tela e já com as cuecas devidamente vestidas, voltas a baixá-las para que possamos fitar atentamente os teus glúteos. Outra questão em comum reside na dupla utilização do actor Michel Qissi, teu amigo pessoal. A fazer de Paredes em Bloodsport, e de Tongo Po, em Kickboxer, enquanto no primeiro tem uma fractura exposta que abrilhanta uma das muitas cenas de porrada; no segundo filme, consegue, com essa mesma perna, fazer cair estuque duma coluna, tal é a potência do seu low-kick ao chutá-la. Para finalizar e numa palavra, Obrigado.