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Outros

Perdido no Escuro

Originalmente publicado no The Vice Guide to Sex and Drugs a Prontos-socorros hospitalares atraem coisas bizarras e grotescas todos os dias.

Originalmente publicado no The Vice Guide to Sex and Drugs

Prontos-socorros hospitalares atraem coisas bizarras e grotescas todos os dias. Pessoas ensanguentadas e mutiladas aguardam em salas de espera enquanto médicos exaustos vão e vêm e recepcionistas cansadas lixam suas unhas. Qualquer doutor tem histórias sobre bandidos baleados no cu e vítimas de acidentes automobilísticos. Mas para nós da Vice são as emergências de natureza sexual que interessam; aquelas lendas urbanas de bananas em bundas, discos de hóquei em bucetas e remoções cirúrgicas executadas por equipes de profissionais altamente treinados. Foi por isso que forçamos uma grande amiga, que aqui chamaremos “Aliza”, a nos contar sobre o consolo de látex chamado Luther que se perdeu no interior do seu rabo.

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Vice: O quão grande era o Luther?
Aliza: Eu diria, humm, uns vinte centímetros.

Você estava tentando apimentar sua vida sexual e decidiu se aventurar pelas terras do vibrador, é isso?
Na verdade esse tipo de coisa era comum entre eu e meu namorado. Aconteceu o seguinte: Estávamos brincando e, de repente, no calor do momento, ele me diz, “o Luther se foi”. Não entendi bem o que aquilo queria dizer, então procurei debaixo do colchão e da cama. E ele lá, parado, pálido.

Ele sabia pra onde tinha ido?
Sim, mas não conseguia dizer. Ele estava meio em choque, aí falou, “Não, o Luther está dentro de você”. Foi aí que entrei em pânico. Tentamos pensar na melhor maneira de tirá-lo de mim. Ligamos para o sex shop no qual tínhamos comprado e perguntamos ao travesti que trabalhava lá, que nunca tinha lidado com uma coisa daquelas e sugeriu que eu comesse gelo.

Comer gelo?
Foi exatamente o que ele falou. Disse, “Não sei o que você tem que fazer. Por que não tenta comer gelo ou algo assim?”. Enfim, meu namorado sugeriu que eu comesse um monte de coisas fibrosas, tipo bolachas de água e sal e pão, pra ver se cagando eu mandava o Luther pra fora.

Mas enquanto você andava não sentia algo estranho por ter um vibrador de vinte centímetros no cu?
Não.

Você está me dizendo que se sentia completamente normal?
Sim.

Você tentou forçar a barra no banheiro?
Eu fui, sentei na privada e ele me trouxe um monte de bolachas e pão. [risos] Eu tentei. Aí fiquei constipada por ter comido tudo aquilo, então definitivamente não conseguiria mandar o Luther pra fora. Daí desisti daquilo e liguei pra uma amiga aventureira do sexo pra perguntar se ela alguma vez já tinha passado por uma situação daquela. Ela só riu.

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Tentei usar uma lanterna pra ver onde ele estava, o que também não funcionou. Aí telefonamos para um hospital. Meu namorado fingiu que o problema tinha acontecido com um companheiro porque eu estava tão constrangida de ser uma mulher e ter uma coisa daquelas na bunda. O hospital mandou que o 'companheiro' fosse para lá imediatamente. Se o objeto entrasse em contato com minha bexiga, que é muito sensível, eu poderia ter acabado com uma bolsa de colostomia… pra sempre.

Por quê?
Porque sua bexiga fica na mesma região e é facilmente furável. Era uma situação de emergência, e tínhamos que ir para o hospital imediatamente. Saímos de casa, mas paramos num bar de um amigo primeiro para tomar alguma coisa. Não estava conseguindo mais lidar com aquilo sóbria.

E como você estava se sentindo nessa hora?
Era uma combinação de pânico e medo. Eu ria de mim mesma. Ria até chorar e chorava de medo.

Do que você tinha medo? De ter que usar uma bolsa de colostomia pelo resto da vida?
Exatamente. Então, no bar, tomei alguns drinques. Falava com o bartender quando meu namorado virou pra mim e sussurou, “Imagine se ele soubesse que você tem um dildo no rabo nesse exato momento”. Deixei minha bebida, não conseguia mais ficar lá. Pegamos um táxi e fomos direto ao pronto socorro. Chegamos lá e a recepcionista me perguntou por que eu estava lá. Eu não conseguia falar.

Então você disse o que?
Disse, “Estou com um problema na região posterior do meu corpo”. [risos] Ela pediu para que fosse mais específica, então falei, “Tenho um item alojado na minha cavidade anal”. [risos] Meu namorado estava quase caindo no chão de tanto rir. A recepcionista, muito calma, perguntou, “É um consolo?” Respondi, “É sim”, só pra sair da recepção. Aí me levaram para um quarto e três médicos vieram. Um deles enfiou o dedo ali no lugar, tentando sentir.

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Fez uma sonda anal?
É, mas não conseguiu encontrar.

Eram todos médicos homens?
Sim, mas muito legais. Foi tão ruim quanto poderia ser. Ficava repetindo, “É a primeira vez que vocês vêem uma mulher com um problema desses?”. Claro que era. Eles me contaram que um ano antes veio um cara com um vaso de vidro na bunda. Tinha quebrado, então eles tiveram que retirar pedaço por pedaço.

Você devia estar pirando.
Eu só estava preocupadíssima por não conseguir sentir nada. Mas aí os médicos explicaram que a razão disso era que seu ânus é tipo uma pequena passagem que dá trabalho atravessar, mas uma vez feito isso fica tudo flutuando por lá.

Então o Luther estava livre, leve e solto?
É. Uma enfermeira trouxe uma caixa grande prateada cheia de luzes e coisas, e o médico fez daquilo um equipamento no ato. Montou alguma coisa pra tentar remover o Luther. Ele virara para os outros doutores e dizia, “Isso se junta com aquilo, colocamos uma luz na extremidade e conseguiremos blá, blá, blá”. Era óbvio que quase nunca passaram por uma situação daquelas.

Eles tinham certeza de que havia algo lá? Conseguiam sentir?
O médico conseguiu sentir alguma coisa, a pontinha. O motivo de a sonda anal ter sido tão problemática é que eles não conseguiam ter uma boa aderência ao látex. Me mandaram para um raio-x e eu estava em pânico por que eles disseram que se não conseguissem remover aquilo, eu teria que ser submetida a uma cirurgia pela manhã. Por volta das 2h da manhã, conversando com os caras do raio-x, ouvi, “Olha pra ela. Quem imagina que ela curte esse tipo de coisa”. [risos]

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Eles tiravam sarro, do tipo te chamar de depravada ou algo assim?
Não mesmo. Estavam me apoiando e diziam, “Olha, não se preocupe. A gente teve um cara no ano passado que estilhaçou um vaso de vidro no cu. Não entre em pânico”. Fizeram o raio-x, mas nada apareceu na chapa. Saí furiosa da sala, peguei meu namorado—que esperava sentado, pacientemente, lá fora—e mostrei, “Olha isso, olha o raio-x! Não tem nada!! Nada!” Ele viu e falou, “Não, não. Com certeza está aí”. Jurou de pés juntos que estava lá. Os caras do raio-x disseram, “Se estivesse lá, as baterias apareceriam na chapa”. Mas aí lembramos que era um consolo, não um vibrador, como eu já tinha dito na recepção.

Então eles procuravam por um vibrador?
É. Me perguntaram de qual cor era, e eu respondi que era claro, por isso não aparecia. Então eles bombaram um líquido branco pra dentro do meu cu—é chamado enema de bário. Conseguiram um rastro dele no raio-x seguinte. Aí voltei para os mesmos três médicos, que tentavam agarrá-lo. Nisso se passou uma meia hora, e eu comecei a me sentir bastante desconfortável. Então disseram, “Pedimos desculpas, mas não vai sair dessa maneira. Você vai ter que passar por uma cirurgia pela manhã”. Me enfiaram uma intravenosa, o namorado foi pra casa e eu passei a noite no hospital.

Isso deve ter sido mais do que vergonhoso, não?
É. Constrangida na frente das enfermeiras, humilhada na frente dos médicos. E depois, pra coroar, estou lá eu deitada quando a enfermeira chega pra trocar a preparação IV. Estava quase dormindo quando ela chegou e disse, “Olá, sou a Claire. Vou ser sua enfermeira pela próxima hora”. Reconheci a voz dela e o nome, e abri meus olhos. Ela tinha um visual diferente, ruiva. Certeza que era a Claire, minha professora de tênis de dez anos atrás.

Treinadora de tênis? Isso é completamente absurdo! Ela não te reconheceu pelo nome na prancheta?
Meu nome na prancheta era meu nome completo. Ela me conhecia pelo nome do meio. Fingi estar dormindo, meio que me escondendo com o cobertor, e mudei minha voz, rezando pra que ela não percebesse quem eu era. Finalmente, na manhã, uma equipe de sete médicos veio dar uma olhada em mim e disseram, “Vamos prepará-la para a cirurgia. Viemos só passar uma visita para ver como estava indo. Voltaremos em meia hora”. Assim que saíram, precisei ir ao banheiro pra mijar e o Luther simplesmente saiu! Não sei como aconteceu.

Você nem tentou cagar?
Não, simplesmente aconteceu. Corri de volta para a minha cama, liguei para o meu namorado e disse, “O Luther saiu! Posso ir pra casa agora. Como arranco essa intravenosa?” Chamei a enfermeira e disse, “O problema pelo qual estou aqui já não é mais problema. Posso ir pra casa agora”. Só que a chefe da enfermagem achou que eu estivesse mentindo e mandou uma outra enfermeira para checar. Ela tentou me acalmar e disse que daria algum relaxante muscular, que não ia ser uma grande cirurgia. Eu olhava pra ela com nojo, aí disse, “Não é isso. Olha a lixeira. Tá lá”. Ela não sabia o que fazer. Ficou toda envergonhada, voltou pra chefe, que a mandou retornar e pegar o Luther pra levar pra ela. Então ela voltou pra resgatar o Luther da lixeira no meio de papel higiênico usado.

Caçando na lixeira um consolo que ficou no seu cu por oito horas!
[risos] Eu sei! Só olhei para o banheiro enquanto me vestia e vi a coitada lavando o Luther na pia, depois embrulhando em papel toalha e voltando pelo corredor para a enfermeira chefe enquanto eu empacotava tudo. Quando os médicos voltaram para a cirurgia, expliquei pra eles o que tinha acontecido e, depois que conferiram tudo, me fizeram ficar para o café da manhã só pra ter certeza de que estava tudo bem. Depois fui embora. Foi uma noite e tanto.

Uau.