FYI.

This story is over 5 years old.

Noticias

Bernard Henri-Lévy

O Bernard-Henri Lévy é bem importante na França. Já foi dito que não existe ninguém como ele nos EUA, o que é uma absoluta mentira, uma vez que a maioria dos norte-americanos não saberia identificar um filósofo.

O Bernard-Henri Lévy é bem importante na França. Já foi dito que não existe ninguém como ele nos EUA, o que é uma absoluta mentira, uma vez que a maioria dos norte-americanos não saberia identificar um filósofo nem se entrassem em uma máquina do tempo e fossem mandados de volta à Grécia antiga. Na França, no entanto, o Bernard tem a mesma popularidade que um roqueiro ou um ator famoso, e costumam chamá-lo apenas de “BHL”.

Publicidade

Lévy é considerado uma figura vistosa, e sua quedinha por chamar atenção na mídia incomoda muita gente. Sempre o acusam de ser um PR exótico, perspicaz o suficiente para alavancar conexões impecáveis (Nicolas Sarkozy e François Pinault, um empresário bilionário, só como exemplo), e rico o bastante (seu pai era dono de uma grande madeireira) para andar por aí no mundo escrevendo sobre problemas atuais enquanto transmite sua autojustificação em seu país. Só que ele está cagando para o que as pessoas pensam. Se você acha que suas intenções não são claras, ou que é um santo moderno, o fato é que ele é simplesmente um homem de ação.

A maioria dos ricaços franceses de 62 anos com o seu currículo provavelmente passou grande parte de seus dias cultivando um bronzeado de pudim de chocolate em Agadir. Em vez disso, o Lévy gosta de propositalmente se colocar em zonas de guerra e outras áreas de risco. Nos anos 90 ele estava na Bósnia, onde ativamente – e com sucesso – ajudou a chamar a atenção para a limpeza étnica dos muçulmanos no país. Durante os anos 00, ele era uma renomada voz, garantindo que o mundo não ignorasse a crise em Darfur. Ele também passou um tempo no Afeganistão como enviado especial do então Presidente Jacques Chirac, antes de voltar ao Paquistão para investigar o assassinato de Daniel Pearl, um jornalista do Wall Street Journal que foi decapitado em 2002.

Sua causa célebre mais recente o levou à Líbia, onde, depois de conhecer os membros do Conselho Nacional Líbio de Transição, ligou para Sakozy e organizou um encontro entre os dois grupos. Logo depois, França, Inglaterra e Estados Unidos começam a bombardear Gaddafi com tudo que tinham.

Publicidade

Conheci Bernard em um domingo de Sol no Carlyle Hotel no Upper East Side de Manhattan, sem ao certo saber o que esperar. Falando em inglês, sua segunda língua, ele foi extremamente agradável. Ele pediu um chá para mim. Conversamos sobre a Líbia, o conhecido autor francês Michel Houellebecq e os benefícios de ser odiado tanto pelas pessoas quanto pela imprensa.

VICE: Você chamou a atenção recentemente por agir como mensageiro entre o Conselho Rebelde Líbio e Nicolas Sarkozy. Como foi que fez contato com os rebeldes pela primeira vez?
BHL: Fui lá como escritor e jornalista, e no processo do meu trabalho – no processo da minha investigação – entrei em contato com o Conselho Nacional Líbio de Transição. Foi uma missão cumprida, uma vez que, até aquele momento, o Sr. Abdul Jalil raramente havia sido ouvido -- isso se alguma vez já havia sido ouvido. Por razões de segurança, sua localização foi mantida em segredo, então tive sorte. Ou talvez fui paciente o bastante, não sei.

Qual foi sua impressão do Conselho?
Não são democratas como o Churchill, obviamente. Democracia e liberalismo não é tão inerente a eles como aos norte-americanos ou franceses. Mas minha impressão era que eles absolutamente não queriam mais o regime. Eles são muçulmanos seculares, ocidentalizados, e sem dúvida um povo com quem há possibilidade de se manter um longo relacionamento político mantido.

Está preocupado com as notícias de que alguns dos rebeldes tem ligações com a Al-Qaeda?
Não. Isso é tão estúpido. Por que estaria preocupado? Essas notícias foram dadas pelo próprio Gaddafi, e então informações estranhas e não fundamentadas foram passadas pelo jornal italiano, Sole 24 Ore. É claro que há alguns líbios do grupo que lutaram no Iraque, mas presumir isso baseado na conclusão que os rebeldes fossem invadidos pela Al-Qaeda é ridículo.

Publicidade

Essas revoluções serão boas para o Ocidente, ou deveríamos esperar para ver o que vai acontecer?
Em primeiro lugar: não tem outra saída – elas são inevitáveis. Vão até o final. A única questão é o preço. Quantos morreram para chegar lá? Podemos evitar essas mortes? Em segundo lugar: Vamos nós, o Ocidente, estar no lado correto ou no lado errado da batalha? Queremos ser os últimos baluartes de ditadores que tratam seu povo como gado, ou vamos ser fiéis aos nossos valores de liberdade? É do interesse do Ocidente dizer: “Essas pessoas que estão tomando nossos valores e os usando como bandeira – estamos com eles”. Em terceiro lugar: o que vai acontecer depois disso? Claro que não será um mar de rosas. Claro que revoluções muitas vezes tem resultados imprevisíveis. A Revolução Francesa acabou em terror, e sabemos disso. Mas o resultado também pode ser inesperadamente favorável.

Qual é o resultado ideal das operações militares na Líbia?
A saída rápida de Gaddafi.

Matá-lo? Exílio? Julgá-lo?
O ideal seria julgá-lo. Ele será julgado por todos os seus crimes, 1.200 pessoas mortas nas prisões de Trípoli há 14 anos. E o atentado de Lockerbie. O grupo IRA, na Irlanda, que foi pago por ele. Vários ataques terroristas contra Israel; contra o mundo livre, contra seu próprio povo. Para que tudo ocorra, obviamente, o ideal seria que ele tivesse um julgamento justo.

Você conhece os EUA muito bem e já escreveu extensivamente sobre o país em livros como Vertigem Americana. A crença popular de hoje em dia é que os EUA estão em declínio. Você concorda com essa posição?
De certa maneira, sim. O crescimento industrial da China, do Brasil e da Índia implica o relativo declínio do Ocidente e dos EUA. Mas esse tipo de acontecimento, como a Líbia, são acontecimentos importantes. Ou ajudamos as forças da democracia ou as ignoramos – lavamos nossas mão com o sangue e cinzas da Líbia, Síria, Egíto e outros. E então será muito pior que um declínio: estaremos perdidos.

Publicidade

Como você acha que o Obama lidou com a situação no Oriente Médio?
Espero que ele continue fiel ao seu discurso no Cairo. Não há como se dizer por um lado “Somos contra os muçulmanos radicais e estamos a favor da democracia no mundo islâmico” pra depois, quando esses democratas se levantam, os abandonar. Então há um problema de consistência. Espero que o Obama seja consistente o bastante para exercer seu poder de acordo com suas palavras.

A edição inglesa de seu livro Inimigos Públicos, de 2009 -- uma troca epistolar entre você e o autor Michel Houellebecq -- foi lançado recentemente. Como os dois chegaram no projeto?
É uma história interessante. Não o conhecia anteriormente. Nos conhecemos brevemente uma ou duas vezes, mas foi apenas isso.

Ele é uma figura controversa na França. Você tinha alguma opinião sobre ele – boa ou ruim?
Mais ou menos. Mais ou menos. Uma noite – não sei porquê – recebi uma mensagem dele dizendo que estava se sentindo mal, que achava que sua vida era um fracasso, e que ele estava próximo de acabar com tudo isso. Então lhe mandei uma mensagem de volta dizendo: “Espere aí, estou em Paris. Antes de tomar alguma decisão radical, vamos jantar”. Jantamos e ele me disse: “Tenho problemas com a minha esposa, minha amante, meu cachorro e, acima de tudo, Paris é nojenta. Não há ninguém para se debater nessa cidade”. Então respondi: “Não posso ajudar quanto sua mulher; muito menos sua amante; e muito menos seu cachorro… Mas você diz que não há ninguém com quem debater? Nisso, pelo menos, posso ajudar. Vamos tentar”. Esse foi o começo do livro.

Publicidade

Qual foi sua primeira impressão de Houellebecq? Você o conheceu bem, tanto como pessoa quanto artista?
Como artista, para ser franco, realmente o descobri naquele momento. Durante todo o debate li todo seu trabalho, o que nunca havia feito antes.

O que você achou disso?
Admiro seu trabalho. Ele virou um amigo, e hoje o vejo ser valente, corajoso, completamente original e completamente desafiador, sem nenhuma preocupação com que as pessoas vão achar – ele apenas diz o que pensa. Ele é generoso, amigável, e muito menos cínico do que geralmente é considerado. Quanto a seu trabalho: novamente, é incrível!

Então acha que ganha uma má reputação da imprensa e do público?
Ele provavelmente a cultiva. É inteligente ter uma má reputação. É bem confortável ter uma má reputação.

Por quê?
Porque você pode se esconder atrás dela.

Então dá mais liberdade?
É como um cortina de fumaça, e você está livre atrás dela. Eu amo minha má reputação.

Você não tem que superar as expectativas do público.
Absolutamente não. E acho que Houellebecq pensa o mesmo.

Você é de Paris e mantém residência lá, mas também passa muito tempo em Nova York. Você gosta do anonimato relativo que essa cidade dá a você?
Claro. Você tem mais liberdade quando é anônimo. Quando todos o conhecem, a liberdade é limitada. Mas, sabe, tenha cuidado com pessoas que lhe dizem: “Ah, o estrelato é um pesadelo! Não consigo aguentar”. Isso nunca é completamente verdade. Há muita hipocrisia por trás disso.

Você acha que se tornará um nome importante aqui como é na França, ou acha que seria impossível para um intelectual público conseguir tal status de celebridade nos EUA?
Provavelmente não. Nunca quis ser famoso. Não ligo muito pra isso. Ligo para que minhas ideias apareçam. Nos EUA, Quem Matou Daniel Pearl? foi um bestseller. Talvez tenha inspirado algumas pessoas que decidem as coisas em Washington sobre a questão do Paquistão. E por isso, sou grato.

E o livro Vertigem Americana?
Foi um bestseller do New York Times também. E isso foi importante pra mim, porque queria expressar meu amor pelos EUA e também minha crítica quanto a alguns aspectos da cultura americana.

TEXTO POR ZACH PONTZ VICE US
TRADUÇÃO POR EQUIPE VICE BR