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ceca

A arquitectura é uma questão de fé

Algumas religiões acreditam que um grande arquitecto desenhou o universo.

Algumas religiões acreditam no conceito de um grande arquitecto que desenhou o Universo. É a ideia de que um gajo pegou no caos que era este mundo, juntou todos os pedaços com bom senso, génio e integridade e fez este mundo e o outro com uma régua e esquadro. Para os assuntos deste tipo — de arquitectura e não de religião —, Guimarães tem o seu templo: o Centro para os Assuntos da Arte e Arquitectura (CAAA). Assim, esta semana, temos um ciclo de cinema sobre arquitectura, o que equivale a passar, religiosamente, de uma tacada só, durante seis dias os Dez Mandamentos, o Jesus Christ Superstar, o Spartacus, a Paixão de Cristo, o Aliens 3 e o Star Wars sem ser época de Páscoa. Desta forma, para os que acreditam nos poderes da arquitectura, todos os dias desta semana, às nove e meia da noite é hora de ir à missa. Os apóstolos convidados são de peso e temos o Siza Vieira, Souto Moura, Oscar Niemeyer, Rem Koolhaas, Nuno Teotónio Pereira e o Frank Gehry em película para evangelizar a malta toda. Ontem, vimos como foi para Siza Vieira traçar o plano de recuperação da Cidade Velha, em Cabo Verde, onde ele teve de lidar com um plano urbanístico truculento, com artérias sonantes como a rua Banana e lidar com os nativos que queriam por força que ele trocasse as casas com telhado feito de cana de açúcar, por um duplex de dois andares de placa de cimento. O filme de terça-feira é sobre o trabalho do Souto Moura. Um gajo do norte e que, por isso, gosta do calhau. Por calhau, falamos de granito, aquela pedra com que construímos muros e calçadas e nem nos damos conta de que é rara noutros sítios. Ficamos a saber que o Souto Moura também precisa de inventar. Inventar, porque as coisas precisam de história e se um espaço não tem pré-existência, todos nós temos imaginário suficiente para povoar e acreditar em construções, mesmo que sejam tretas de arquitecto. Outro dos filmes é A Vida é um Sopro. Sobre Oscar Niemeyer mostra como revolucionou a Arquitectura Moderna, o que, para ser um filme sobre um homem que tem 104 anos deveria ter outro título como O Meu Senhorio Não Morre, ou algo do género. De qualquer modo, ele é um dos percussores das novas utilizações do betão armado e das linhas sinuosas na arquitectura. Gosta de curvas como qualquer velho gaiteiro e acho que pensa em gajas quando projecta. Rem Koolhaas – Uma Espécie de Arquitecto é o filme do dia 18. Este arquitecto é muito mais do que um arquitecto. É um pensador. Sendo Holandês, acredito que já tenha experimentado umas cenas maradas e, assim, em vez de falar da obra dele (para isso vejam o filme no CAAA), deixo-vos com a proposta que ele fez para a bandeira da Europa. O filme sobre a vida de Nuno Teotónio Pereira segue na sexta. Um gajo que projectou um edifício que é conhecido como o franjinhas. Enfim, isto não se pode perder. Acabamos o ciclo de cinema com o Frank Gehry no dia 20. Um tipo que desenha edifícios de titânio e vidro, cimento e aço, madeira e pedra. É um final com chave de ouro, pois é como ir ao cinema ver os Transformers em primeira mão. Metal retorcido, vidro e a esperança de ver a Megan Fox na grande tela. Afinal, arquitectura é uma questão de fé.