FYI.

This story is over 5 years old.

Entretenimento

Bruce LaBruce Fala Sobre os Filmes do Festival de Cinema Toronto

Superconsidere o que escrevi ou ignore completamente. Tô pouco me fodendo.

Trecho do novo filme do Bruce,

Gerontophilia

.

Voltei, gente! Caso alguém tenha ficado imaginando onde foi que me meti, tirei um ano de férias da minha coluna na VICE para dirigir um filme chamado Gerontophilia, que estreou nos festivais internacionais de cinema de Veneza e Toronto no mês passado, e que está atualmente em exibição nos festivais do Rio de Janeiro e Reykjavík (bati um papo superlegal com a Björk ontem à noite, aliás). Bom, consegui assistir a alguns filmes do Festival de Toronto e, naquela grande tradição literária de escritores comentando sobre o trabalho de outros escritores, ofereço a vocês minhas miniavaliações desses filmes. Superconsidere o que escrevi ou ignore completamente. Tô pouco me fodendo.

Publicidade

L'inconnu du Lac, dirigido por Alain Guiraudie

Vencedor de melhor direção na seção Un Certain Regard do Festival de Cannes, esse filme de arte fala de sexo casual e assassinato numa área de gay cruising próxima de um lago nudista na França rural. O que é muito interessante (e realista) é que alguns homens não são gays ou não se identificam como tal. E aposto que o filme tem a honra de conter o maior número de tomadas de genitália masculina na altura dos olhos que qualquer outro na história do cinema. Apesar disso, admito que é meio chato de assistir, mas é um filme que fica em sua cabeça muito tempo depois de você sair do cinema. Durante o festival, jantei com Marcus Hu, um dos chefes da minha distribuidora norte-americana, a Strand Releasing, que também é distribuidor do L'inconnu. O ator principal desse filme, Pierre Deladonchamps, também se juntou a nós. O Pierre é um homem muito charmoso, pode apostar que você vai ver mais dele no cinema francês de alto nível muito em breve.

Image via

Real, dirigido por Kiyoshi Kurosawa

Uma grande decepção de um dos meus diretores vivos favoritos. (Se você ainda não viu filmes deles como Cure, Kairo, Akarui Mirai e Tokyo Sonata, não perca tempo.) Essa ficção científica confusa sobre uma viagem em realidade virtual dentro da mente de uma namorada em coma, quer ser um cruzamento entre O Vingador do Futuro e Os Descendentes, mas fica parecendo uma novela brega.

Publicidade

Palo Alto, dirigido por Gia Coppola

Outro filme da prole do Francis Ford Coppola. Baseado nos contos do onipresente James Franco (que, inclusive, escreve uma coluna para este mesmo site), Palo Alto pretende ser uma história sensacionalista sobre um treinador de colégio pervertido que dorme com suas alunas, mas não cumpre o que promete. É como se Kids nunca tivesse acontecido. Esse filme faz o Bling Ring da Sophia Coppola (que acabei de assistir e achei o melhor filme dela até agora) parecer o Cidadão Kane.

Gravidade, dirigido por Alfonso Cuaron

Miss Simpatia no espaço. Um pouco parecido com o 2001: Uma Odisseia no Espaço, mas sem as implicações filosóficas e metafísicas, a poesia ou o subtexto homossexual. Do diretor mexicano do incrível E Sua Mãe Também, essa trapalhada é um bom argumento para manter bons diretores longe de Hollywood.

Philomena, dirigido por Stephen Frears

Vencedor do Queer Lion do festival de cinema de Veneza, esse filme é Dúvida mais Filadélfia para republicanos. Mesmo sendo admiravelmente cruel com suas freiras moralmente hipócritas assustadoras, o filme também é meio que uma apologia ao Log Cabin Republicans. Stephen Frears devia ganhar o prêmio de diretor mais subversivo (Minha Adorável Lavanderia, Prick Up Your Ears) a se tornar um conservador chato (A Rainha).

Rigor Mortis, dirigido por Juno Mak

Apesar dos efeitos especiais impressionantes, esse filme de Hong Kong inspirado em Kubrick é – cof, cof – de matar.

Publicidade

Tian zhu ding, dirigido por Zhangke Jia

Vencedor de melhor roteiro deste ano em Cannes, essa violenta obra prima chinesa sobre indivíduos explorados pela hiperindustrialização, a nova China Comunista capitalista impessoal que age violentamente contra seus opressores, é o melhor filme que vi no festival.

iNumber Number, dirigido por Donavan Marsh

Chegando como o Tarantino sul-africano, Marsh joga bem nesse thriller sobre uma gangue de criminosos insensíveis, infiltrada por um policial moralmente ambíguo numa tentativa de assalto a carro-forte. Apesar de ter incitado as perguntas mais idiotas que já vi numa entrevista coletiva (“Sem querer ser grosseiro, mas por que você é branco?”), o filme é o mais autenticamente sul-africano possível, apresentando criminosos de verdade como atores, dialetos e gírias regionais e locações perigosas.

Al Midan, dirigido por Jehane Noujaim

Um documentário incrivelmente comovente e devastador que segue o levante egípcio contra Hosni Mubarak, através de suas várias permutações até o presente, como testemunhado da Praça Tahrir. Os revolucionários idealistas que o filme acompanha são de partir o coração, experimentando cada um de seus ideais sistematicamente pisoteados pela geopolítica corrupta contemporânea, intervencionismo neoliberal e as complicações da guerra civil no Oriente Médio.

At Berkeley, dirigido por Frederick Wiseman

Em oposição a Al Midan, Wiseman, o gênio veterano dos documentários, mostra um corpo estudantil assustadoramente obediente, passivo e apolítico, protestando calmamente na biblioteca da Universidade de Berkeley na Califórnia e realmente calando a boca quando a bibliotecária manda. Um documentário assustador sobre uma nova geração estudantil desprovida do estilo ou da militância de seus famosos predecessores da mesma instituição, servil à autoridade e à burocracia e totalmente carente de visão e paixão.

Mission Congo, dirigido por David Turner e Lara Zizic

Como não fazer um documentário. Esse filme desleixado e mentiroso escolhe um alvo fácil (o evangelista de televisão Pat Robertson, que, supostamente, usaria sua instituição de caridade em prol dos refugiados do genocídio em Ruanda como disfarce para a mineração ilegal de diamantes) e faz muito pouco com isso. O assunto implora por uma abordagem mais irônica, porém convincente, do demagogo cristão hipócrita e obviamente pirado. O Indiewire resume as acusações problemáticas do documentário aqui. Para um documentário muito mais incisivo, apocalíptico e emocionalmente exaustivo sobre a exploração internacional do povo e recursos africanos, assista o infinitamente superior Darwin's Nightmare.

Anteriormente – Polaróides Inéditas: Reféns Redux

@BruceLaBruce