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Bab al-Shams: A Curta Vida de um Assentamento Palestino

Depois de criar uma vila nas colinas entre Jerusalém e o grande assentamento judeu de Maale Adumim, os palestinos foram atacados pelas Forças Israelenses às 3h da manhã.

Filmagem que mostra as Forças de Defesa de Israel expulsando os colonos de Bab al-Shams.

Na manhã de uma sexta-feira, um pequeno grupo de palestinos chegou até as colinas entre a capital de Israel, Jerusalém, e o grande assentamento judeu de Maale Adumim. Na hora do almoço do mesmo dia, eles anunciaram ao mundo que a vila de Bab al-Shams (Portal do Sol) havia se estabelecido ali. Um dia depois, eles já tinham 250 residentes, um conselho da vila, uma clínica médica, um centro de mídia, uma cozinha comunal e estavam começando a fazer uma biblioteca. Na manhã de domingo, a vila estava vazia — seus colonos foram atacados e presos durante uma batida das Forças Israelenses às 3h da manhã.

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Bab al-Shams foi uma resposta aos planos de Israel de construir novos assentamentos enormes naquela área, que eles chamam de E1. Isso cortaria efetivamente a Cisjordânia ao meio, selando o estreito corredor que conecta o norte ao sul.

A ativista palestina Irene Nasser foi uma das pioneiras de Bab al-Shams. Falei com ela no sábado pela manhã.

VICE: Vocês acabaram de passar a primeira noite em Bab Al-Shams  como foi?
Irene Nasser: Estávamos muito empolgados na noite passada, conseguimos construir muita coisa rapidamente. Mas as condições são difíceis. Temos cobertores, mas não o suficiente, e vamos precisar de equipamentos em algum momento. Temos um pouco de eletricidade, mas é limitada porque estamos usando um gerador, o que não é sustentável a longo prazo. Mas mesmo com as condições difíceis e com o frio congelante da noite passada, só de estar aqui e ser parte da criação de Bab al-Shams — criando essa vila e se estabelecendo aqui — é o que faz as pessoas continuarem.

Me disseram que são 250 pessoas morando aí. Quem são elas?
Palestinos de 18 a 70 anos. Somos principalmente estudantes, ativistas, líderes do comitê popular e moradores de vários lugares da Palestina, mas também alguns residentes de 1948 (palestinos que moram em Israel fora das fronteiras de 1948) de Haifa e Eilat. Na verdade, estou olhando de cima da montanha agora e há um grupo enorme — três ônibus lotados de pessoas que estão vindo andando desde o posto de controle. Eles estão correndo pelas colinas até aqui.

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Por que o E1 foi escolhido como o local para a vila?
Em termos de planos de assentamento de Israel, o E1 exemplifica como o governo israelense estabelece “fatos no terreno” (assentamentos) quase que diariamente. Nesta área específica, o plano é criar quatro mil unidades habitacionais. Estamos aqui para reclamar a autoridade e o controle sobre as terras palestinas.

Houve alguma interação entre o exército e os moradores?
Um pouco, sim. Eles vieram ontem e nos deram uma ordem de despejo imediata, mas a suprema corte já tinha ordenado uma restrição ao despejo da vila por seis dias. Mais tarde, a polícia veio e disse que a liminar que nos protegeria por seis dias só se aplicava às tendas, e não as pessoas.

Quanto tempo vocês esperam ficar em Bab al-Shams?
Vamos ficar o tempo que for preciso e o quanto quisermos. Continuaremos aqui pelo tempo que decidirmos.

Li que a Suprema Corte pode conseguir um mandado para retirar vocês no domingo. Vocês vãoresistir?
Estamos pensando num plano para resistir ao despejo o maior tempo possível. Eles provavelmente virão com muita força e serão violentos, mas temos nossas táticas.

As previsões da Irene estavam certas e, naquela noite, logo depois das 3h da manhã, centenas de soldados israelenses entraram em Bab al-Shams e removeram os colonos à força em apenas algumas horas. Um desses colonos era Mohammad al-Qadi. Conversei com ele no domingo de manhã, logo que ele voltou para sua casa em Jenin.

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VICE: O que aconteceu noite passada?
Mohammad al-Qadi: Por volta das três da manhã, quando os residentes estavam dormindo, mais de 500 policiais entraram na vila e disseram para todo mundo sair das tendas e deitar no chão. Então eles começaram a nos atacar, antes de nos prender, colocar todos nós num caminhão, pegar nossas identidades e nos levar para a cadeia em Jerusalém. Seis ativistas ficaram machucados depois que apanharam dos soldados, então foram levados para o hospital. Eventualmente fomos liberados [sem acusações] às 5:30h.

Parece que o despejo foi relativamente pacífico e acabou rapidamente. Alguém tentou resistir?
Os palestinos não querem perder mais ninguém. Somos humanos. Não somos números, somos nomes. Somos gente e nos importamos com a vida. Não quero perder mais nenhum amigo, quero proteger a terra e viver no estado da Palestina — algo que vamos conseguir através de ações pacíficas. Diferentemente dos israelenses, não tínhamos nenhuma arma na noite passada. Por que Netanyahu mandou centenas de homens com armas para uma vila de homens e mulheres desarmados?

Quanto tempo vocês esperavam ficar em Bab al-Shams?
Estávamos preparados para ficar por um longo tempo. Queríamos pertencer àquelas terras. Não é uma piada, não é um “acampamento”. Queríamos começar a construir uma nova vila para dizer ao governo de Israel: “Nos opomos aos seus planos. Se vocês construírem nessa terra, não há chance de paz entre israelenses e palestinos”.

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E o que acontece agora? Vocês vão voltar a Bab al-Shams? Formar novas vilas?
Ainda não acabou. Em dois dias teremos uma reunião com todos os envolvidos e vamos decidir o que queremos fazer agora. Vamos continuar a protestar e a criar novas vilas nas áreas em que Israel quer construir. Nunca vamos parar.

Siga a Alice no Twitter: @alicewagstaffe

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