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A Oposição Consegue uma Vitória Marcante nas Eleições Legislativas da Venezuela

É a primeira vez que o partido da situação perde o controle da legislatura desde que Chávez assumiu o poder em fevereiro de 1999.

A oposição da Venezuela conseguiu a maioria das cadeiras na legislatura do país, um grande golpe para o governo do presidente Nicolás Maduro e para a Revolução Bolivariana que começou 17 anos atrás com seu predecessor, o falecido Hugo Chávez.

Com 96% dos votos da eleição de domingo contados, as autoridades eleitorais da nação anunciaram que a coalizão de oposição Mesa da Unidade Democrática, o MUD, conseguiu 99 cadeiras na legislatura nacional, enquanto o Partido Socialista Unido da Venezuela, o PSUV, conta com 46 cadeiras

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É a primeira vez que o partido da situação perde o controle da legislatura desde que Chávez assumiu o poder em fevereiro de 1999.

"A Venezuela queria uma mudança, e essa mudança começou agora", disse Jesús Chuo Torrealba num discurso logo depois do anúncio dos primeiros resultados oficiais. "Essa foi uma derrota ensurdecedora para o governo e uma vitória clara da democracia."

O presidente Maduro aceitou a derrota num pronunciamento em rede nacional.

"Chegamos aqui com a força moral e a ética para reconhecer esses resultados adversos e aceitá-los", ele afirmou, sentado ao lado da bandeira venezuelana e em frente a um quadro de Simon Bolívar – ícone do movimento de independência sul-americana do século 19.

Além de um duro golpe ao chavismo na Venezuela, os resultados de domingo também representaram uma derrota para toda uma geração de líderes de esquerda latino-americanos que subiram ao poder na virada do milênio e agora estão sob pressão de recessões econômicas e escândalos de corrupção.

Duas semanas atrás, o empresário de direita Mauricio Macri venceu as eleições presidenciais na Argentina, derrotando o candidato escolhido pela presidente atual Cristina Kirchner. E a presidente brasileira Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores, pode enfrentar um impeachment.

Na Venezuela a oposição conseguiu tirar vantagem da crise econômica ligada à dependência do país das exportações de petróleo.

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O chavismo tinha construído sua base de apoio com a ajuda de programas sociais e subsídios para os pobres – grande parte deles foi financiada pela enorme receita vinda do petróleo que agora despencou por causa na queda do preço do barril nos mercados internacionais. Hoje, a Venezuela sofre com a escassez de produtos básicos que só podem ser conseguidos passando horas em filas – e, às vezes, nem assim. O país também está passando por uma inflação de três dígitos e uma onda de crimes.

Em seu pronunciamento para a nação, o presidente Maduro colocou a culpa pela derrota de seu partido na "guerra econômica" no país gerada pelo "capitalismo selvagem" e alimentada por uma oposição "desleal".

Por mais que o discurso de Maduro tenha sido cheio de palavras fortes, seu reconhecimento rápido da derrota contrastou claramente com seus pronunciamentos anteriores à eleição, ocasiões em que ele declarava que "nunca permitiria" uma vitória da oposição.

A tensão era grande perto das zonas eleitorais no dia da eleição depois de vários incidentes violentos, incluindo o assassinato do líder da oposição durante um comício no mês passado.

O partido da situação parecia confiar em salvar o dia tirando os eleitores de seus bastiões.

Um veículo com alto-falantes enormes acordou o eleitorado antes do nascer do sol no bairro 23 de Enero, reconhecidamente pró-governo, em Caracas, lembrando aos moradores seu dever cívico.

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"Vim bem cedo para cumprir meu dever e fazer minha parte pela revolução", disse Ana Sanz à VICE News enquanto esperava a abertura de sua zona eleitoral às 6 da manhã. "Estamos lutando com votos."

Mas os oponentes também acordaram cedo.

"Espero que haja uma mudança", frisou Antonio Hernández, que estava na fila para votar em outro bairro pobre de Caracas chamado Coche. "Esse país já sofreu muito, e precisamos de uma mudança, não podemos mais lidar com isso."

Longe das multidões cercando as zonas eleitorais e lotando os poucos restaurantes que abriram as portas, Caracas parecia uma cidade-fantasma, com ruas vazias e shoppings fechados.

O barulho só voltou quando os resultados foram anunciados e os simpatizantes da oposição tomaram as ruas da capital com fogos de artifício, buzinas de carros e bandeiras da Venezuela.

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Tradução: Marina Schnoor

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