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Essa Lei Vai Dar Pé, Tatuapé?

Terça-feira fomos às ruas de novo atrás de opiniões sobre o projeto de lei que pode proibir a pessoa de beber em qualquer espaço público do Estado de São Paulo. Dessa vez a pesquisa rolou no entorno da Praça Sílvio Romero, no Tatuapé.

Terça-feira fomos às ruas de novo atrás de opiniões sobre o projeto de lei que pode proibir a pessoa de beber em qualquer espaço público do Estado de São Paulo. O Projeto de Lei, de autoria do deputado Campos Machado (PTB-SP), está pronto pra ser votado na Ordem do Dia da Assembleia Legislativa — ainda que com algumas mudanças no texto originalmente entregue e apoiado até pelo presidente da OAB-SP.

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Dessa vez a pesquisa rolou no entorno da Praça Sílvio Romero, área que guarda paralelo com a Vila Madalena (e/ou com a Vila Olímpia) no Tatuapé, zona leste da capital. Tudo informal e sem amostra cientificamente embasada. Aliás, aquela noite nem estava tão movimentada assim.

Como não tem lei seca nas eleições paulistanas, é bom lembrar algum possível bêbado amnésico que o pleito recente foi pra escolher os futuros prefeito e vereadores da cidade. Na esfera estadual, o mandato atual segue por mais dois anos. Pra você se inteirar: com as alterações no PL, foram aliviadas da proibição “as faixas de areia de toda a orla marítima” (praias) de SP e “restaurantes e similares que ofereçam seus serviços nos passeios contíguos aos estabelecimentos” (mesinhas nas calçadas). Mas foram acrescentados parágrafos aplicando sanções, além dos comerciantes, também “às pessoas físicas” que infringirem essa lei, seja ao “portar, carregar ou transportar bebida alcoólica, de forma ostensiva, mesmo que não comercialize ou consuma”. A íntegra do texto e todos os trâmites estão aqui.

Thiago, 22, auxiliar administrativo; Renato, 26, bancário; Pedro Henrique, “também conhecido como Pedro Biruta”, 26, projetista. Camaleon Bar, Rua Coelho Lisboa, nº 333.

VICE: O que vocês acham do Projeto de Lei que proíbe as pessoas de beberam na rua?
Pedro: Não sou muito contra não, porque tem muita gente que sai bebendo e não sabe se comportar. Entra bêbado nas conduções, perturba, acaba arrastando, chutando lixeira. Mas também tem muita gente que sabe se comportar… De repente poderia proibir até certo horário…
Renato: Por que, velho? Não, velho! Você tá viajando.

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Você concorda com isso, então?
Pedro: É, talvez proibir de beber na rua seja ruim. Mas de repente pode ter punição pra quem não sabe se comportar e ter mais vigilância pra punir quem não tem educação.
Thiago: Pra isso tem que ter punição mesmo, mas igual a um bar. Acho que não tem nada de mais.
Renato: Velho, se você tá andando na rua, comprar sua cervejinha no bar e sair tomando não tem nada de mais, tá ligado? É isso aí. Não faz mal pra ninguém. Eu não tô dizendo em nome de nenhum partido não, cara, tô dizendo o que eu acho. Aí é todo mundo saber se comportar, velho.
Pedro: Mas a nossa educação [do País] ainda é muito retrógrada.
Renato: Tem uma pá de galera que não manja. Mas nóis manja.
Pedro: Então teria que ter fiscalização praqueles que não manjam. Pra gente não ser punido por causa daqueles que não manjam.
Renato: Saber diferenciar. Não é todo mundo que tá bebendo que tá causando, chutando porta…
Thiago: Acho que é a exceção. Você bebe na rua. Já incomodou alguém? A maioria pega sua latinha, sai tomando na rua, mas é pra trocar uma ideia com os camaradas. Agora por causa de algumas pessoas que não têm cabeça pra beber você proibir geral, acho que tá errado. Esses você tem que coibir. Mas a maioria não tem que pagar pela minoria que não sabe beber.
Renato: Proibir não!
Thiago: Se o cara não vai beber na rua, vai beber em casa.
Pedro: Se você bebe na sua casa, você tá influenciando? Aí a criança cresce e tem amigos que querem beber. Acho que ajudaria mais fortalecer a educação. Proibir ia ficar igual aos Estados Unidos…
Renato: Estados Unidos o caralho, cara! Isso aqui é Brasil.
Pedro: Mas nos Estados Unidos, se uma criança tá na rua, a polícia para e pergunta por que a criança tá na rua. Aqui não. Aqui você vê um monte de criança na rua e ninguém quer saber por que ela tá ali naquele horário. Então não é daí que vai corrigir a sociedade. É nos princípios mais básicos.
Renato: Não é bagulho de Estados Unidos, mano…
Pedro: Não tô falando dos Estados Unidos. Tô falando que se quer corrigir mesmo, corrija pela raiz. Não começa lá pelo álcool. Começa lá pela educação.
Thiago: Isso aí, isso aí! E, cara, quem quer beber aprende a beber.
Pedro: Quanto mais leis idiotas dessas tiver, mais foras-da-lei vai ter.
Thiago: Se o povo é sem educação, é porque a educação é uma bosta. E não porque tem lei que proíbe ou não.

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D1, 25, bancária; D2, 25; F., 31, corretora; A. Bar Whiskrytório, Rua Emília Marengo, 69. Com música ao vivo.

VICE: Oi, meninas, desculpa incomodar. Sou repórter — vou sentar aqui rapidinho, licença. Então, tô aqui pra saber a opinião de vocês sobre um projeto de lei de um deputado que quer proibir as pessoas de beberem na rua…
D2: Ah, que bom! É bem o que eu quero mesmo… [Risos]

Vocês podem falar sobre isso?
A.: Quero saber quem é pra gente não votar nele.

É o Campos Machado.
F.: Ah, eu tô sabendo!
D1: É bom saber que aí a gente já faz a campanha pra ninguém votar nele. Campanha contra. No Facebook. [Risos]

O que vocês acham dessa ideia?
F.: Não ia poder beber na calçada, é isso?

O texto original incluía a proibição de beber na calçada. Agora deram uma alterada, e mesa de bar na calçada tá permitido.
F.: Ah, ia ficar igual aos Estados Unidos? Acho péssimo! As pessoas têm livre-arbítrio pra comprar o que quiserem, na hora que quiserem. Uma coisa é, assim, você beber e dirigir. Agora, você estar andando numa rua e beber… Acho que não tem nada ver essa lei não. Justamente por cada um ter o direito de fazer o que quiser da vida desde que não prejudique ninguém.

Talvez isso diminuísse o número de motoristas alcoolizados, não acha?
F.: Mas pra isso tem blitz. Seria uma lei a mais só pra angariar votos das pessoas que não curtem bebida. Vou a pé pra minha casa, qual o problema de eu sair daqui tomando uma até em casa?
D1: Também acho um absurdo. Acho que tem muito mais coisa importante pra ser feita. Muitas outras leis mais importantes do que isso.

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Tipo?
D1: Ah, cuidar dos animais, que tem um monte por aí perdidos… Imagina, não poder tomar uma cerveja na praia?

O texto também mudou sobre isso. Agora exclui “orla marítima” da proibição.
A.: [Risos] Imagina! Não poder beber na praia? Acabou a praia!
D1: Fecha a praia!

Não. Ainda não proibiram o frango e a farofa.
F.: Ah, não! Aí a gente não curte.
A.: O frango e a farofa são só um plus pra cerveja. [Risos]

E você, que não falou nada. O que acha disso? Aposto que votou nele, por isso não quer falar…
D2: [Tímida] Não vou falar nada.
A.: Fala pelo menos se você concorda.
D2: Não concordo!

Por quê? Fala, vai.
A.: Porque ela quer beber até cair na rua! [Risos]
D2: Cuidem do transporte público, depois façam outras coisas.
D1: Melhorem os hospitais públicos.
D2: Acho que não vai mudar nada, beber na calçada ou dentro do bar. Quem bebe, vai beber do mesmo jeito. Se o cara quiser ficar muito louco dentro da casa dele, pegar o carro e bater na esquina, vai fazer da mesma forma. Ou para de vender bebida alcoólica, ou não tem outra forma.

Proibindo, tomar cerveja na rua ia ser tipo fumar maconha na rua.
D2: Não adianta… Alguma delas que pediu pra manter segredo: Não vou nem falar nada… Proíbe a cerveja e legaliza a maconha! [Risos]
[Gargalhadas gerais]
[Mais gargalhadas gerais]
F.: Moço, minhas amigas não são maconheiras. Foi só uma brincadeira, tá?

Pedro, 26, engenheiro; Fernando, 25, engenheiro; Daniel, 27, bancário.

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VICE: Tem um deputado que apresentou um projeto de lei tentando proibir o consumo de bebida alcoólica nas ruas…
Fernando: Impeachment!

Nossa. Por quê?
Fernando: Ah, cara… Em outros países você pode ver que o pessoal não bebe na rua, mas a nossa sociedade já tem o costume tradicional de beber na rua, velho! Então, sei lá, é um projeto que não tem muito interesse. Qual é o cunho político disso? O que vai agregar?
Pedro: Não, não. A ideia deles, geralmente, é a questão da influência. De influenciar outras pessoas a beber.

Uma das argumentações pra basear a lei é essa.
Daniel: Acho que tem vários elementos que influenciam muito mais as pessoas. Propagandas e assim por diante.
Pedro: Sou daquela época em que a gente comprava vodca no Pão de Açúcar, água mineral, Tang e bebia. Na rua, na porta do Pão de Açúcar. Se tinha criança ou não… Nunca vi isso como problema.
Fernando: Em alguns lugares eles podem falar que a bebida influencia o valor da região. Por exemplo: se é um lugar turístico, não vamos deixar a pessoa beber na rua, porque isso espanta turista. Questão de horário, talvez isso seja válido. Mas proibir assim, 100%, não é solução pra nada.
Daniel: É a mesma coisa você ir numa praia e não poder tomar uma cerveja, já pensou? Fui numa praia na Austrália que não podia tomar cerveja. Você tinha que dar a volta… E se fizesse isso ainda levava multa.
Fernando: Morei em Paris. Em certas regiões de lá você não pode beber porque são lugares turísticos. Na Champs Elysées, por exemplo. É proibido beber na rua. Nos bares sim, mas na rua não.

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Sério? Mas você tentou fazer isso e o pessoal chegou em você?
Fernando: Não. O pessoal não tenta.
Pedro: Só têm a certeza que vão multar. [Risos]
Fernando: Não arrisquei, cara.

Mas vocês acham que uma lei dessas ajudaria em alguma coisa?
Daniel: Por exemplo, nós moramos aqui perto. Eu vim a pé. Nós viríamos de carro só se fosse muito longe. Mas normalmente a gente frequenta o bairro. Então, assim, vai da consciência de cada um. Uma coisa é você pegar o carro bêbado e ir até Santos colocando em risco várias outras pessoas. Outra coisa é você também saber seu limite. Depende da criação de cada um. Sou um cara que já bebi muito, várias vezes não sei nem como cheguei em casa.
Todos: Eu também.
Daniel: Mas hoje eu tenho maturidade. Hoje sou um cara que tenho meu limite. Lógico que a bebida afeta os reflexos, é comprovado cientificamente e o raio que o parta, mas o cidadão tem que ter o seu limite. Acho que há coisas muito mais importantes que os políticos deveriam fazer em vez de ficar coibindo uma coisa que é o lazer do cidadão.

Por exemplo o quê? Fala algumas de cabeça.  
Daniel: De cabeça? Arrumar todas as calçadas, arborizar todas as ruas, asfaltar direito… Fazer trabalhos que vão dar resultados não pra daqui a quatro anos, e sim daqui a 14, 20, 25 anos.
Fernando: Em vários países tentaram coibir o álcool. Em alguns lugares ele é supertaxado. Mas se não pode beber num lugar, a pessoa vai lá e se esconde, bota um saco plástico. Acho que a proibição não é o caminho.
Daniel: Isso é uma banalização do querer aparecer.
Pedro: É muita restrição pra pouca coisa.

Acham que tem diferença dessa lei pra lei do cigarro?
Pedro: Tem muita diferença. Com o cigarro posso estar incomodando a pessoal aqui do lado. Se eu exacerbar meu comportamento por causa do álcool, aí já é outro problema. Não é o problema de beber na rua.
Daniel: Você ficar inconveniente vai do seu autocontrole, que é do limite da pessoa.
Pedro: Posso tomar um ácido, sei lá, um cogumelo maluco em casa, sair na rua e causar. Posso beber em casa e sair na rua pra causar. Isso não é o problema.
Fernando: Tudo tem que ser democrático. Tem que sentir o que a sociedade quer. Acho que hoje a gente ainda preserva muito o fato de cada um poder fazer o que quer. Dentro de certos limites, claro, mas não acho que o caso hoje seja de proibir. A lei do Psiu, por exemplo, é válida. Tenta achar um meio termo, tem gente que mora perto… Mas proibir as coisas assim, preto no branco, acho que não é o caminho.
Daniel: Não vale nada que seja imposição, radical.
Fernando: De repente se tem um bairro em que as pessoas ficam muito incomodadas com o álcool, proíbe. Discute. Tem que ver caso a caso. Se é a vontade da grande maioria…

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