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Música

Discos: Deadbeat and Paul St Hilaire

Se o apetite pedir dub digital estamos mais do que bem servidos.

The Infinity Dub Sessions

BLKRTZ

Independentemente do termo que escolhermos para definir a música dub maioritariamente elaborada com recursos digitais (seja dub digital ou dub techno), a verdade é que essa divisão encontra-se cada mais povoada e competitiva (quase como o hip-hop). Se há 15 anos era fácil colocar Pole no topo da dub digital (a sua trilogia multicolorida ainda hoje é um fabuloso documento desse reinado), actualmente as contas dessa hierarquia não se fazem sem algumas hesitações. Podemos, por exemplo, destacar DeepChord pela segurança e força de cada novo álbum rumo ao futuro da dub, ou então apostar numa figura mais fresca como é o prodigioso Ohrwert. Os candidatos de momento são tantos e tão férteis que era até possível esquecermos por completo alguém como Deadbeat.

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Pois bem, Deadbeat não merece ficar excluído de um quadro de honra da dub digital: foi um óptimo aprendiz do mestre Pole e ofereceu demasiadas garantias ao género em causa. Já lá vão uns quantos aninhos desde que conheceram a luz do dia, mas

Primordia

 (reeditado há pouco tempo) e

New World Observer

merecerão sempre uma consideração especial por serem discos tão capazes de criar espaços e de depois esquecê-los na propagação dos ecos (à semelhança do que acontece na saga de Murcof). Se for realmente necessário explicar a temperatura morna dos anos mais recentes de Deadbeat, digamos apenas que se trata de um produtor oriundo do Canadá (mais precisamente de Montreal) que paradoxalmente faz música (dub) originária da Jamaica. A ligação entre essas duas zonas do mundo, na matéria de Deadbeat, torna mais lógica a opção de Paul St Hilaire como vocalista para este novo

The Infinity Dub Sessions

.

Contudo, designar Paul St Hilaire apenas como “vocalista” não faz jus às reais capacidades de uma das vozes mais solicitadas das Caraíbas. Mais do que cantar (e nisso lembra o santo Horace Andy), Paul St Hilaire prega como se fosse um mensageiro que traz em cada uma das mãos respostas opostas para a mesma questão. Já assim era nas excelentes participações que ofereceu a

Pressure

, o segundo álbum do bipolar The Bug (outro incontornável da dub digital). Aqui Paul St Hilaire, qual ponta-de-lança, volta a demonstrar que entende perfeitamente onde deve aparecer e desaparecer: e é assim que garante espaço a Deadbeat para que este faça de “Dopa” um óptimo momento de dub techno. A recompensa pelo gesto chega na derradeira “Peace and Love”, que Paul St Hilaire aproveita para ser tão universalmente reggae quanto lhe é possível. Somados os pontos,

The Infinity Dub Sessions

não chega a ser a bomba prometida pelas suas duas primeiras faixas, mas, se o apetite pedir dub digital, estamos mais do que bem servidos.