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Música

Provando o Kissuco do Cosmos com Jenny Lewis

Conversamos com a Jenny sobre as forças que a conduziram ao novo álbum e ela foi fofa, engraçada e estava pronta para desabafar sobre as complicações do cosmos que o novo álbum confronta.

Jenny Lewis sempre pareceu um pouco cósmica. Sua voz sensual lançou o Rilo Kiley, preencheu as harmonias do The Postal Service e abriu as portas para uma carreira solo. Mas dois anos atrás, Lewis perdeu o pai e a capacidade de dormir. Numa batalha contra insônia e tristeza, ela tentou de tudo, de acupuntura a física, para enfim conseguir fechar os olhos. Ao longo do caminho, ela procurou familiares, amigos e colegas da música. Um pedido de ajuda fez Lewis começar a trabalhar com o Ryan Adams, e a colaboração deu luz a um novo álbum: The Voyager, que será lançado dia 29 de julho. Depois de reunir Ben Gibbard e o resto do Postal Service para a turnê de aniversário de dez anos da banda, a Jenny começou a trabalhar com o Ryan no estúdio Pax-Am, em Hollywood. Com a ajuda de todos, de Adams a Beck e Blake Mills, ela emergiu com seu primeiro álbum solo em seis anos.

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Quando conversei com a Jenny ao telefone sobre as forças que a conduziram ao álbum, ela foi fofa, engraçada e estava pronta para desabafar sobre as complicações do cosmos que o novo álbum confronta. Consegui as informações mais detalhadas sobre o maravilhoso casaco de arco-íris que ela veste no encarte, e cobri todo o caso, da batalha contra a tristeza a “Golden Girls”.

Em primeiro lugar, gostaria de perguntar sobre a roupa incrível da capa.Qual é a estética do álbum?
Jenny:O casaco é algo que eu sempre quis usar, mesmo antes de ele se tornar o casaco dos sonhos Technicolor. Ele surgiu numa conversa com a Autumn De Wilde, com quem trabalho nas capas dos álbuns. É uma fotógrafa incrível, e vivemos muitas histórias juntas na época de Jenny & Johnny, minhas gravações e Rilo Kiley. Nosso diretor de arte, Adam Siegel, estava retomando o aerógrafo, e ele havia pintado algumas coisas para a Autumn. Conversamos sobre a possibilidade dele pintar o casaco para mim. Dei uma paleta de cores a ele, e assim prosseguimos.

No último álbum do Rilo Kiley, vesti hot pants e tocamos com uma cortina dourada de lamê ao fundo. As músicas eram sobre ficar acordado até tarde e cheirar muita cocaína. Este álbum e os temas são bem diferentes. Eu me senti um pouco mais andrógina.

Você vai usar o casaco na turnê?
Claro, é meu traje. Acho que não posso lavar a seco, porque desbotaria, então sugiro muito que não me dêem abraços após o show, enquanto eu ainda estiver vestida com ele!

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Foto por Autumn de Wilde

Você comentou que o álbum está bastante cósmico.Especialmente, se repararmos no título The Voyager (A Viajante) e na faixa com o mesmo nome, em que você canta: “"If you want to get to heaven / Get out of this world” (“Se você quer chegar ao céu / Deixe este mundo”). Física e espiritualmente, como você vê o cosmos e o espaço?
Sabe, batalhei contra a insônia por dois anos. Esse é um dos motivos por que o álbum demorou tanto para ser concluído. Quando eu estava acordada, assistia a “Cosmos: Uma Odisseia do Espaço-Tempo”, o programa com o Carl Sagan, e revezava isso com boxe. Foi o que me manteve sã durante muitas, muitas noites sem sono. Soa tão hippie e esquisito, mas pensei muito sobre o universo.

Perdi meu pai em 2010, e foi bem esquisito porque, embora ele tivesse partido, eu me senti mais próxima dele, de certa forma, do que quando ele estava vivo. Senti a presença dele e encontrei conforto nisso. Então, queria muito concluir o álbum com essa ideia de infinitude - é sobre transcendência.

O que trouxe você para este lugar mais saudável? Foi a música que você compôs sobre perdas e insônia? Foi o trabalho com outros artistas?
Foi tudo! Eu estava tão desesperada para voltar a dormir, que tentei de tudo. Tentei hipnose. Conversei com um vidente ao telefone. Fiz milhares de caminhadas. Procurei familiares e amigos. Mas também foi a música - era algo pelo que esperar. Frequentar o estúdio me resgatou da minha própria mente. Acho que a música realmente me salvou. Não é algo que imaginei ser capaz de realizar, profissionalmente, mas acabou sendo o fator que me manteve longe de encrenca.

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Por que você pensava que não seria capaz de viver de música?
Nunca imaginei que dava para ser músico profissional [risos]. Partindo do meu histórico - especialmente, como atriz -, foi difícil. As pessoas não me levavam a sério porque eu trabalhava na televisão. Então, quando a música virou realidade, com o Rilo Kiley, e estávamos em turnê, sendo respeitados pelos nossos colegas, foi bem legal.

Quero falar sobre sua carreira de atriz rapidinho. Sou uma grande fã de “Golden Girls” e sei que você fez parte do programa anos atrás.Como foi isso?
Não me lembro de muita coisa, mas é algo que durou bastante. Lembro apenas de todos serem muito gentis, e me lembro, particularmente, da Rue McClanahan, que morreu[em 2010]. Ela era tão afetuosa e engraçada. [Uma vez,] sentamos no set, na sala de estar, e as luzes estavam apagadas porque todos haviam saído para almoçar. Ela me contou histórias de fantasmas e morri de medo! Acho que eu tinha 11 anos, pré-seios. Ela era tão legal, e a Betty White também era uma fofa.

Jenny Lewis em "Golden Girls"

Quanto a voltar à música, como foi a turnê com o Postal Service?Isso ajudou você a perceber que queria compor de novo?
Eu tinha acabado uma turnê de dois anos quando recebi um telefonema do Ben. Um ano depois, estávamos na turnê de reunião. Eu sofria de insônia, e a turnê me proporcionou horários para voltar a dormir [regularmente]. Pensei: “Bem, tenho um ano” - e demorei tudo isso para voltar a dormir. Foi uma forma tão incrível de voltar a fazer shows e turnês, porque eu era coadjuvante - eu estava lá para apoiar o Ben. Então, foi uma maneira tão legal de voltar, de fininho, sem precisar carregar o show todo nas costas. E foi tão fácil também, porque as pessoas estavam muito animadas para ouvir o álbum de novo!

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The Postal Service no Coachella

Todos estávamos!O Give Up foi um álbum tão influente para mim quando eu era adolescente. Era a música que eu usava para lidar com minhas próprias perdas. Acho que muitas pessoas ouviam, mesmo o Rilo Kiley, para se acalmar. Você vê o The Voyager funcionando assim?
Não sei como as pessoas vão receber a música, fica a cargo do ouvinte. Para mim, o álbum serviu esse propósito. Todo álbum que gravei me ajudou a superar um período da minha vida. A adolescência, os vinte e poucos anos, e agora os trinta e poucos! É tudo muito terapêutico. E o álbum do Postal Service, sou tão fã! Engraçado dizer isso sobre um disco em que eu mesma canto, mas é que era tão legal escutar aquelas músicas toda noite.

Você tem conselhos para pessoas que estão lidando com perdas?
Não consegui lidar sozinha. Pedi ajuda dos amigos, famílias e colegas de trabalho - e isso se estendeu ao novo álbum. Eu simplesmente não conseguiria fazer tudo sozinha. Como mulher, às vezes sinto que estou tentando me provar. Quero ser capaz de fazer tudo. Quero ser capaz de compor e gravar e produzir, e limpar a casa, e estar linda. Às vezes, é muita coisa, e é preciso pedir ajuda. Foi o que fiz com o Ryan Adams para retomar o álbum. Fiz isso com a mente bem aberta, e acho que saí ganhando.

Ouvi dizer que o Ryan não deixava você escutar as músicas depois de gravá-las.Como você acha que isso mudou o formato e a estrutura do seu trabalho no álbum?
Acho que era exatamente o que eu precisava: não questionar o que estávamos criando e confiar em alguém. De certa forma, eu havia parado de confiar em mim, então precisava dessa força. Precisava dos parâmetros e das regras para poder seguir em frente.

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Há duas músicas no álbum - "New You" ou “She's Not Me” - que parecem direcionar críticas a alguém.Como você faz para se referir a uma decepção com alguém nas canções sem que o público deixe de se identificar com elas?
Acho que nunca quero ser do tipo de compositora que escreve “Você é um babaca, eis o motivo específico”. Acho que direciono bastante a crítica a mim mesma também. Então isso equilibra as coisas, espero. Mas também acho divertido criar personagens. Em “New You”, gostei de criar um mundinho sobre um metaleiro. É sobre um cara obcecado por Metallica.

Foto por Autumn de Wilde

Entre todas as diversas coisas que você fez enquanto estava com insônia - acupuntura, vidente, massagens, hipnose -, houve alguma boa experiência, algo que você tentaria de novo?
Todas as coisas! Sinceramente, tive algumas experiências bem esquisitas. Fiz ventosaterapia, que é parte da acupuntura. Colocam copos quentes de vidro nas costas do paciente, e isso deixa hematomas. Eu estava com a cabeça aberta! Todas as experiências foram novas para mim. O que mais me fez bem provavelmente foi o exercício físico. O que me salvou de fato e me fez dormir de novo foi caminhar nas montanhas e praticar ioga.

É difícil seguir carreira após fazer parte de duas bandas de tanto sucesso e popularidade?
Acho que isto vale para qualquer pessoa: ficar preso em comparações é um território perigoso. Sabe, quando você se compara a si mesma em outra encarnação criativa, é esquisito! Cada banda da qual fiz parte serve um propósito diferente. E as pessoas vão gostar mais de uma do que de outra, é a vida. Mas estou sempre mais animada com a empreitada criativa mais nova. Como artista solo, posso fazer o que quiser, trabalhar com quem quiser, posso revezar equipes, e isso é bem instigante para mim.

Depois de seis anos sem imprensa e ciclos de turnês, é difícil mergulhar de volta?Você sentiu falta?
Bem, adoro turnês! Adoro acordar em lugares diferentes todos os dias. E adoro tocar ao vivo e curtir com a banda. Sinto que estou no lugar certo quando estou no ônibus da turnê. E durmo muito bem no ônibus da turnê! Eu estava lutando para conseguir dormir e pensei “se ao menos eu tivesse um belichinho aqui no quarto”! Talvez eu devesse considerar algo do tipo. Como fazem com bebês, dirigindo por aí. É legal dar um tempo também, porque pode ficar bem cansativo falar muito sobre si, em entrevistas e tal. Digo, é ótimo, mas também é bom não pensar em por que compus algo.

Caitlin White também é fã de “Cosmos”.Ela está no Twitter - @harmonicait