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Música

Um Papo com Kali Uchis, a Moleca Colombiana que Virou uma Sensual Estrela do R&B

Ela é adorada por Tyler, The Creator e Snoop Dogg e apresentada como "a voz mais interessante da Virginia desde Missy Elliott".

Todas as fotos por Bella Howard.

Nascida e criada na Colômbia, Kali Uchis, de 21 anos, é um tipo raro de artista. Passando um vocal estilo Motown por um filtro de R&B moderno, o tipo de pop de Uchis mescla décadas e estilos para criar uma coisa que é mais energizante e reconfortante do que um smoothie no café da manhã.

Depois de escrever, produzir, gravar e lançar sua mixtape de 2013, Drunken Babble, em apenas 48 horas, Uchis logo chamou a atenção de grandes batedores do hip-hop, como Snoop Dogg, A$AP Rocky, Earl Sweatshirt e Tyler, The Creator. Hoje morando em Los Angeles, Uchis vem desenvolvendo o som que é sua marca registrada, algo que ela chama de "lowrider soul", e seu lançamento mais recente – uma mixtape com o insolente título de Por Vida, lançada em fevereiro – poderia facilmente ser confundida com uma Amy Winehouse cantando músicas pop em espanhol ou uma coletânea de lados B inéditos da Motown de meados dos anos 60.

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Com uma voz tão suave e sedosa quanto a estética Golden State da Califórnia, Uchis já foi saudada como "a voz mais empolgante a sair da Virginia desde Missy Elliott". Fomos conversar com ela sobre suas raízes, suas influências, e sobre garotos.

Continua abaixo.

Noisey: Oi, Kali! Vamos falar sobre você. O que a sua tatuagem diz?
Kali Uchis: É a assinatura do passaporte do meu pai, de quando ele veio para a América.

Quantas tatuagens você tem?
Cinco. Tem uma rosa, isso aqui é uma coisa que um amigo escreveu. Tenho um tigre também, fiz quando tinha 16. Elas todas são muito pessoais. Passei por um período em que eu fazia uma tatuagem para tudo que acontecia na minha vida, como se elas fossem uma maneira de marcar um encerramento.

E há quanto tempo você está morando em LA?
Tem uns dois meses. Gosto muito da geografia de LA, ela me faz lembrar de casa. As cores, a arquitetura… É muito parecido com a Colômbia, na verdade. Tanto uma quanto a outra são opulentas. A geografia, a personalidade e a energia são as mesmas.

Você tem saído bastante?
Fui a alguns eventos, mas tenho andado ocupada com o trabalho. Acho que sair à noite para andar de bicicleta é divertido. Adoro assistir a filmes, dançar, ir às compras, fazer as unhas, pedicure; sair em aventuras. Gosto muito da praia daqui, do oceano. Pegar a estrada, ir para o deserto… Tem tanta coisa para ver em LA, tantos lugares excitantes. Em uma hora de carro já se chega nas montanhas.

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Como seria seu dia de diversão ideal na Califórnia?
Quero muito ir à Disney World, porque nunca fui. Ou num parque de diversões. O Universal é muito legal. Eles construíram Springfield lá, então você pode ir na Taverna do Moe e no Krusty Burger – fiquei correndo de um lado para o outro como se tivesse cinco anos de idade. Gosto muito de jogar tênis, basquete e outras coisas também, então talvez incluísse isso. Mas estou sempre fazendo trabalho criativo.

Você acha que é mais criativa estando em LA do que era em casa?
Mais criativa não, mais produtiva sim. Aqui tem mais gente com quem trabalhar. Na Virginia, eu tinha que planejar tudo com meses de antecedência. Aqui com certeza dá para ser mais espontânea.

Até o momento você já fez parceria com Snoop Dogg, A$AP Rocky e Tyler, The Creator. Você tem algum parceiro de trabalho predileto?
Tyler com certeza é o meu favorito. Ele e eu tivemos muitas das mesmas influências. A gente tem mais ou menos a mesma idade também, e fomos influenciados pelas mesmas culturas. É uma coisa que acontece naturalmente. Quando você trabalha com alguém, é muito comum ter de explicar para a pessoa qual é o seu lance, e aí eles têm as bagagens deles também, e é preciso que cada um dos lados faça concessões, e aí vira uma mistureba. Com ele, nós fomos criados do mesmo jeito. Meu irmão é skatista profissional, ele costumava andar de skate com a Adidas. E eu sou latina, nós crescemos na Colômbia – é por isso que vir para LA sempre foi o meu destino.

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Você diria que Tyler é como o seu irmão?
Tyler e todos os amigos dele são como irmãos, mas ele se parece muito com o meu irmão também. Ele na verdade tem a mesma idade que o meu irmão. Eu já entendia quem ele era antes de conhecê-lo.

Como rolou de você trabalhar com ele?
Sempre achei ele maneiro. Não sou uma fangirl, mas quando ele entrou em contato comigo, achei que seria uma oportunidade incrível. A gente se conheceu e foi diferente das outras colaborações, porque eu senti que era uma coisa mais próxima. A gente se deu bem imediatamente.

Como ele é enquanto pessoa?
A gente não passa muito tempo junto, mas ele é um cara engraçado. É sempre divertido e espontâneo, tem um bom coração. Na música e na moda tem muita gente que não move um músculo se não for para ganhar alguma coisa, ou se você não assinar um cheque. Tyler ama mesmo a arte, e dedica o coração a ela. Com ele, nunca é o dinheiro que importa, só fazer coisas de qualidade. O meu projeto foi de graça. O objetivo não era ganhar dinheiro, era fazer alguma coisa para a cultura.

Com certeza você vai receber muita coisa em retribuição. Está juntando um bom carma.
O lance não era ganhar dinheiro com a música, o lance era a música ser gratuita e eu suar a camisa.

Qual a sua opinião sobre Lana Del Rey e Iggy Azalea, personas que foram criadas por empresários do mundo da arte?
Não gosto de ser comparada com outras artistas da música. Respeito o trabalho de todo mundo, contanto que consigam fazer a coisa funcionar. Sou uma artista diferente delas, mas não acho que haja nada de errado no que elas fazem. Acho que é mais fácil ter alguém que te diga o que fazer, por que a coisa pode ser tratada como uma empresa, e não arte. Eu poderia ter muito mais sucesso agora, se quisesse o mesmo que as gravadoras querem, e o que as pessoas querem que eu seja. Fazer música pop e soltar um single de sucesso, mas não quis me dar a esse trabalho. A gente só tem uma vida. Hoje todo mundo consegue seus 15 minutos, e eu queria fazer alguma coisa para as pessoas. Com certeza é mais difícil, mas acho que o importante é o legado que você deixa – algo que vai durar, e que ajuda a mudar as coisas.

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Qual você diria que é a sua maior influência?
Passei muito tempo com a minha avó, que me fez conhecer muita coisa clássica, como Ella Fitzgerald e Billie Holiday. Depois teve o meu tio, que me deixava ouvir música low-rider da velha guarda. Aí eu fiquei muito fã de jazz, e comecei a tocar saxofone. A vida inteira fui uma nerd de música. Quando eu tinha 13 anos, gostava de coisas girl power como Lily Allen e M.I.A. As vozes delas eram maneiras, elas nunca tinham que flexionar a voz. Elas representavam muita coisa, e era massa. Kelis era foda também. Quando comecei a curtir música, fui ouvir Astrud Gilberto, Brigitte Bardot, elas foram como mães e irmãs para mim. Gostava de ter mulheres que eram modelos para mim, mulheres fortes, às quais eu poderia perguntar o que fazer.

Então elas viraram as suas mulheres poderosas, que te inspiravam?
Tinha três irmãos, então virei dessas meninas molecas, com modos de menino. Todo mundo achava que eu era uma lésbica usando roupas xadrez, me escondendo atrás dos meus cachos. As pessoas falavam tipo "ei, com licença, senhor…" – me confundiam com um menino.

Você usaria esse look outra vez?
Haha, não sei. Na Colômbia, meu pai sempre dizia: "Por que você não se veste como menina, não faz as unhas?" Hoje eu mesma cuido do meu cabelo e das minhas coisas. Acreditava firmemente em ser autodidata, em explorar novas possibilidades. Eu mesma me instruí em questões de religião, música, cultura – um monte de coisas.

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Você é uma pessoa religiosa?
A minha família era como a Família Sol-Lá Si-Dó. Etnias e religiões de todos os tipos. Até mesmo na Colômbia, que é um país principalmente católico, tem hinduísmo, rastafarianismo; meu pai é tipo um filósofo, que lê o Corão, a Bíblia, ele chegou até a estudar budismo. Ele sempre me ensinou que descobrir em que eu acreditava era uma decisão minha. Acho que espiritualidade é importante. Acredito em um ser maior e no Universo – ser uma boa pessoa, trazer boas vibrações, sentir gratidão… mas não sei se acredito em um homem branco com barba.

Aonde você costuma ir para dançar?
Fui a um lugar colombiano que foi muito divertido, mas eu e minhas amigas costumamos ser as únicas dançando. Em Los Angeles, todo mundo só fica lá parado, julgando os outros.

Qual é o seu lugar favorito para conhecer garotos?
Ainda não achei nenhum bom lugar para isso.

Tenho a impressão de que muitos dos garotos de LA são skatistas. É verdade isso?
Acho que [os garotos de LA] não querem nem saber das próprias vidas. Gosto quando um cara tem confiança no que faz, seja lá o que for. Se você é uma pessoa ambiciosa, se está tentando fazer alguma coisa com a sua vida, vai ter gente tentando atravancar o seu caminho, porque eles não querem fazer nada enquanto você fica matando tempo com eles. Não quero alguém que só queira ficar sentado sem fazer nada.

Total. Valeu, Kali!

Créditos

Fotografia - Bella Howard

Stylist - Kylie Griffiths

Maquiagem - Lily Keys

Cabelo - Sami Knight

Tradução: Marcio Stockler