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Música

Música Eletrônica de Índio Canadense? Ouça A Tribe Called Red

Estamos derretendo o cérebro de alegria por compartilhar o novíssimo álbum do A Tribe Called Red com todos vocês, adoráveis leitores do Noisey.

Estamos derretendo o cérebro de alegria por compartilhar o novíssimo álbum do A Tribe Called Red com todos vocês, adoráveis leitores do Noisey. Se você não está familiarizado com o jeito que o Canadá funciona, a população indígena canadense está passando por uma certa renascença política e cultural neste momento. Um movimento de protesto imenso chamado Idle No More galvanizou a população aborígene para lutar por seus próprios direitos, além dos direitos do meio ambiente. Na vanguarda dessa cultura está A Tribe Called Red — um grupo canadense nativo de música eletrônica, que é extremamente bom.

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Pedimos para o Nigel Irwin, nosso residente especialista em música aborígene, para falar com o grupo sobre muitas, muitas coisas. Além disso, você pode ouvir uma prévia exclusiva do próximo álbum deles, Nation II Nation, apertando o play abaixo.

Noisey: Qual tem sido a reação à sua música na comunidade indígena?
Bear: Incrível. Para nós, é muito importante ter o apoio da nossa comunidade em primeiro lugar, e depois levar isso para o mundo. As pessoas da nossa comunidade se apropriaram disso muito rapidamente. É uma coisa que elas reivindicaram e pela qual se sentem representadas. Acho que não conseguiríamos continuar da forma que estamos sem esse tipo de apoio da nossa comunidade. É o que torna isso possível.
Dee Jay NDN: Fale para ele sobre a primeira vez que fomos para o Reino Unido!
Bear: Ah, é. O Ian acabou de me lembrar de uma boa história do outono. Estávamos meio confusos sobre o significado de levar nossa música para a Europa. Obviamente não tocaríamos lá para plateias aborígenes de forma alguma, então será que as pessoas entenderiam ou seria só um bando de hipsters com enfeites na cabeça? O que ia acontecer? E mesmo num nível mais pessoal, o que isso significa lá? Obviamente o significado lá é diferente daqui.
O que meio que acalmou esse sentimento para nós foi quando começamos a receber mensagens pelo Twitter de pessoas de todo o Canadá dizendo: “Beleza, pessoal, vão lá, mostrem para eles quem somos, nos representem, vocês são nosso embaixadores, vão lá e mandem ver!”. Então, tendo isso por trás – de novo, quando temos nossa comunidade nos apoiando e dizendo: “Sim, vá, faça isso, precisamos que vocês façam isso, nós apoiamos” –, é algo superimportante.

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Vocês acham que, sendo artistas aborígenes, seu trabalho automaticamente será uma afirmação ou uma mensagem política?
Bear: Bom, a ideia segundo a qual fui criado é a de que, sendo um povo aborígene, tudo o que fazemos é político. Quando acordamos de manhã – isso é político. O fato de estarmos aqui dirigindo e sobrevivendo é político, porque tudo nos últimos 500 anos foi feito para impedir que isso acontecesse. Então a parte política é automática. Não é nem uma escolha. É uma responsabilidade que temos de ter como artistas aborígenes, porque isso simplesmente é parte da nossa vida. Isso se volta para aquela forma holística de ver a vida. Não separamos o político do espiritual. O dia a dia. Tudo faz parte da mesma coisa.

Tem alguma mensagem que vocês podem resumir de forma organizada para as pessoas que não sabem muito sobre os aborígenes e que estão lendo esta entrevista? O que podemos dizer a elas?
NDN: Comecem aprendendo sobre nós. Estamos aqui. Não estamos congelados no passado. Não sei por que a ideia de ser das Primeiras Nações (povos originários canadenses) sempre envolve algum tipo de pena. Ou roupas de camurça em alguma coisa. Quando você pensa numa pessoa das Primeiras Nações, ou num índio, ou qualquer termo que queira usar e que nos rotulou no passado, você sempre pensa num índio das planícies de 1805. Não pensa em ninguém de hoje em dia. O que estamos tentando fazer, acredito, é simplesmente dizer que ainda estamos aqui. Somos contemporâneos e estamos fazendo coisas legais, então dê uma conferida.

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Vocês tocam em reservas indígenas? A festa deles é mais pesada que em outros lugares?
Bear: É, é interessante. Fazemos shows em comunidades de reservas… Com certeza a energia é diferente.

Como assim?
Bear: Tocamos em uma reserva navajo não faz muito tempo e não estava rolando muita movimentação na plateia. Nós nos sentimos muito observados e ficamos pensando o que as pessoas acharam do show, se elas tinham curtido. Depois da apresentação, a multidão irrompeu e todo mundo aplaudiu. Várias pessoas depois nos abordaram pedindo para autografarmos o CD e coisas assim. Obviamente, adoramos; você precisa estar preparado para esse tipo de coisa.

Porque vocês esperavam que eles iam dançar, né?
Bear: É, existem diferenças culturais quando você chega em certas comunidades. Não sei exatamente o porquê disso. Fizemos alguns shows assim quando tocamos em reservas, e ficamos pensando: “Não sei se as pessoas estão gostando”. Você sabe que eles estão adorando, só não estão dançando. Tivemos esse problema até mesmo em Winnipeg – nos nossos primeiros shows lá, as pessoas só ficavam segurando suas cervejas e assistindo.

Eu gostaria de falar um pouco sobre as vozes que vocês usaram nesse álbum.
Bear: Vários tipos de grupos de percussão. Temos um acordo com uma gravadora perto de Montreal chamada Tribal Spirit, que é um selo de música pow-wow [encontro de povos indígenas]. Eles têm cerca de dez ou doze tambores na gravadora e abriram seu catálogo para nós, permitindo que fizéssemos remix de coisas deles, acordando que todos os tambores de onde sampleamos poderiam ser remixados no álbum deles. Vai ser um álbum tradicional de pow-wow com um remix do mesmo grupo feito pelo A Tribe Called Red. Os grupos são Black Bear, Sitting Big…
NDN: Chippawa Travellers, Smoke Trail…
Bear: Northern Voice, Eastern Eagle e Sheldon Sundown. Esses são os grupos sampleados no novo álbum.

Vocês colaboraram com o Das Racist há pouco tempo. Tem vaga permanente para um MC no grupo?
NDN: Vamos fazer músicas com MCs, com certeza, mas não vamos incorporar um MC. Não precisamos.
Bear: O Ian faz todo o trabalho de MC quando estamos no palco. Ele é a voz, porque o Ian parece locutor de clube de striptease. “Senhoras e senhores, uma salva de palmas para a adorável…” Eu sou péssimo. “E aí, e aí, então… Bom, pessoal… Tudo bem?”
NDN: E aí o Shub chama a atenção de todo mundo: “Como é que vocês estão, porra?”. E o pessoal fica louco. Se eu faço a mesma coisa, não acontece nada. Só se ouvem os grilos.
DJ Shub: Pessoal, por favor, vamos fazer um pouco de barulho para ele [risos].

A primeira coisa que reparei em vocês foi a coisa do Tribe Called Quest/Tribe Called Red. Foi uma escolha deliberada e teve alguma confusão ou repercussão?
NDN: É, essa história é boa. “A Tribe Called…” [“uma tribo chamada”] é uma expressão muito usada em pow-wows — na verdade, nos pow-wows você vê jaquetas escrito “A Tribe Called Mi'kmaq” ou “A Tribe Called Qualquer Qoisa”. E também tem a óbvia referência do Tribe Called Quest para pessoas que não conhecem a cena dos pow-wows e cresceram em ambientes urbanos, onde podem reconhecer isso. Então achamos que o termo seria facilmente reconhecido por pessoas nas reservas e nas cidades. O “red” [vermelho] é a cor da roda medicinal que representa os povos indígenas no mundo.

Legal. Que tipo de música vocês estão curtindo agora?
NDN: Aquele álbum Twonk do Brillz está no ponto.
Shub: É só isso que tenho ouvido. No repeat, basicamente.

Vou escutar. E o que podemos esperar do Tribe Called Red no futuro?
Bear: Bom, estamos trabalhando no próximo álbum, que é um projeto colaborativo, então estamos trabalhando com muita gente que se tornou nossa família e círculo de amigos nas turnês. Você vai nos ver trabalhando com muitos músicos aborígenes.