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Música

O Purity Ring Fala Sobre Morar na Mesma Cidade e os Desafios do Novo Disco, 'Another Eternity'

Megan James e Corin Roddick estão de volta com um vívido e equilibrado álbum de pop do século XXI que expande e alegra seu nebuloso dream pop.

A dupla de Edmonton Purity Ring curtiu um sucesso com seu álbum de estreia em 2012, o Shrines. O disco foi incluído no Top 40 da Billboard na semana do lançamento, conquistou o posto no “Best New Music” no Pitchfork, esteve presente em todas as listas de fim de ano virtuais e perdeu por pouco o prêmio da Polaris Music para uns post-rockers rabugentos de Montreal, o que gerou grandes expectativas quanto ao que está por vir.

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Quase três anos após o lançamento do Shrines, o Purity Ring está de volta com um sucessor que irá tranquilizar as mentes inquietas. No dia 3 de março, Megan James e Corin Roddick irão lançar Another Eternity (via Last Gang no Canadá e 4AD mundialmente), um vívido e equilibrado álbum de pop do século XXI que expande e alegra seu nebuloso dream pop. Como demonstrado nas músicas já lançadas “Push Pull” e “Begin Again”, desta vez, críticos, fãs e até mesmo os próprios membros da banda terão que encontrar um novo adjetivo para classificar o som do Purity Ring, porque “claustrofóbico” o Another Eternity não é.

“É, até mesmo nós dizemos isso”, admite Megan James. “Shrines é como se estivesse escondido, há um cobertor por cima dele. É claustrofóbico no sentido de que você se sente numa caverna, dentro de algum lugar. Definitivamente te isola ou intimida porque os sons e a letras são sussurradas. [Já no Another Eternity] não há cobertas! Ele é frio e no céu, no espaço. Ainda é um pouco sonolento porque escrevo sobre sonhos, mas com menos familiaridade – é nesse lugar que gosto de existir”.

Noisey: É muito difícil aprender a cantar uma música de trás pra frente, como você faz em “Push Pull”?
Megan James: Estava esperando que alguém me perguntasse isso! Porque todo mundo fala sobre, mas nunca me perguntam como. É como aprender uma nova língua, literalmente. E agora se ouço a música de trás pra frente ela soa muito familiar, então tive que aprender a música novamente, como se fosse nova. Acabei fazendo apenas o refrão porque leva muito tempo. Não acredito que o cara do Coldplay fez aquela música inteira. Ele deve ter levado um ano inteiro para aprender. Tive que digitar tudo de trás pra frente e depois ouvir com a música, mudar as palavras e criar outras que fossem mais audíveis. Então criei novas palavras que pareciam com as originais de trás pra frente, para adaptar aos movimentos da minha boca.

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Então você estava ou não estava fazendo lip-sync no clipe?
James: Estava. O clipe não é inteiro de trás pra frente, eu aprendi apenas o refrão. É o segundo refrão no clipe, o primeiro é apenas filmado de trás pra frente. É difícil explicar, mas tive que ser prática; aprendi a melodia de trás pra frente para então aprender as palavras mais facilmente. Seria muito difícil memorizar se fosse apenas falado.

Qual é o conceito do clipe?
James: Ele é tão simples, então estávamos tentando achar maneiras de torná-lo mais interessante, criar um apelo maior. Foi mais um experimento.

E você está pendurada de cabeça pra baixo?
James: Sim, provavelmente fiquei por umas três horas aquele dia. Não seguidas, mas é claro que passei mal. Tentei treinar com uma barra de flexão, e me pendurava pelos meus joelhos. Mas não rolou. Era um verdadeiro teste de mente e corpo. Fiquei muito cansada.

Corin, onde você estava enquanto o clipe era filmado?
Corin Roddick: Estava lá observando. Dando um feedback. Nós queríamos que o clipe fosse um lance da Megan.
James: Nós planejamos essa parada apressados durante os feriados, então nenhum de nós estava no mesmo lugar; foi corrido.

Então por que o Corin não aparece no clipe?
Roddick: Simplesmente não era a ideia. Queríamos que fosse uma imagem singular. Imaginar nós dois para frente e para trás, ou lado a lado com vento sem parar, simplesmente não parecia tão bom. Então decidi ficar de fora desse.

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James: Todos os nossos processos são bem divididos. Mesmo que nossos papéis na banda sejam diferentes, são bem equilibrados e fazem sentido. Mas clipes não são um lugar onde é necessário representar isso. Sempre que vejo bandas de garotos e garotas em clipes, sabe, andando em direção ao pôr-do-sol ou fazendo coisas bonitinhas… sei lá. É importante não nos retratarmos como um casal, se for apenas nós dois em um clipe. Corin provavelmente fará parte de um, se houver uma trama que precisa ser desenvolvida.

Roddick: Podem haver certas ideias em que faz sentido ter nós dois no clipe, mas a desse especificamente não era o caso. E obviamente não seria apenas eu no clipe porque não sou o vocalista principal.

Enquanto faziam o primeiro álbum, Shrines, Megan estava em Montreal e Corin em Halifax. O que fez vocês voltarem à Edmonton para o Another Eternity?
James: Me mudei para Edmonton, deixei Halifax pra trás. E bom, era basicamente mais fácil nos encontrarmos lá. Alugamos um estúdio de um amigo, porque era um bom negócio e também mais fácil.

De que forma a cidade ajudou com a criatividade de vocês?
James: A hibernação do inverno e amigos próximos. Acho que Edmonton tem uma cena bem inspiradora em termos de comunidade de música. Tipo, não era só "vamos para Edmonton e assim podemos falar mais sobre isso porque somos de lá". Foi só o que rolou.

Roddick: Sim, rolou e foi muito confortável. Grande parte do nosso melhor material nós produzimos lá, e parecia bem espontâneo. Talvez porque era um ambiente onde nos sentíamos relaxados. Estava frio do lado de fora, então só queríamos ficar dentro de casa e focar em fazer música.

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Então vocês alternavam entre a gélida Edmonton e a ensolarada Los Angeles?
Roddick: Era meio louco porque nós fomos para Los Angeles no verão e era meio opressivo da mesma forma, no outro oposto do espectro. Você também não quer ir para a rua, mas porque está quente demais. Fazia tipo 36 ou 37 graus. Nós terminamos o álbum em Los Angeles. Estava mais ou menos 90% pronto, apenas finalizamos todas as músicas lá e demos o toque final.

James: Você já ouviu a banda das antigas do Corin, a Fuck the Tundra?

Não, nunca.
Roddick: Eu fazia parte de uma banda chamada Fuck the Tundra que era muito inspirada pelo nosso clima. Durou tipo uns dois anos, e acabou virando o Purity Ring. A banda nunca acabou oficialmente. Estávamos apenas em um hiato e talvez faremos algo juntos no futuro.

O que mudou ao trabalharem juntos em um mesmo ambiente em vez de por correspondência?
James: Foi meio que começar uma nova banda. O processo e o ritmo eram muito diferentes. Mas também foi como muitas bandas fazem. Acho que não foi tão diferente no geral, pelo menos para nós. Fizemos desta forma simplesmente porque fazia sentido. Não foi algo que planejamos. Estávamos apenas no mesmo lugar ao mesmo tempo.

Roddick: Com o Shrines estávamos morando em cidades diferentes e não tínhamos como nos encontrar para trabalhar juntos. Então fazíamos tudo via e-mail e foi um processo bem separado nesse sentido. Mas desta vez deixamos as turnês de lado e era possível estarmos juntos e focar nas coisas. Não era "deveríamos trabalhar juntos da mesma forma?" Era mais "é óbvio que desse jeito é muito melhor". Acho que fazendo isso fomos capazes de explorar as músicas e focar nelas de uma forma que nunca fizemos antes. Foi possível criá-las com mais propósito, de forma que ficávamos empolgados no final.

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James: Era mais colaborativo.

Foi mais fácil de fazer do que o Shrines, por ser mais colaborativo?
Roddick: Não diria mais fácil.

James: Ainda levamos a mesma quantidade de tempo com cada música e os detalhes.

Roddick: Os dois álbuns tiveram seus conflitos. Não importa de que forma você cria algo, você se dedica muito àquilo e requer muito tempo e foco. Nesse aspecto os dois não tiveram muita diferença. Acho que na verdade gastamos mais tempo no novo disco porque deixamos de fazer turnê por um bom tempo e pudemos focar na música. Trabalhamos nela todos os dias, que era o que queríamos fazer.

Há menos reverb nos vocais da Megan, o que faz com que a música realmente mostre ao que veio e deixa claro que se trata de um disco pop. Quão libertador foi dar mais destaque aos vocais?
James: Foi como uma progressão bem natural e que realmente se adaptou às nossas capacidades, incluindo a do Corin de gravar e produzir.

Roddick: Parte disso se deve às próprias músicas e à forma como foram produzidas. Da mesma forma que Shrines simplesmente tinha mais coisa rolando; tinha paisagens sonoras mais densas, então não havia muito espaço para vocais. Por isso soavam um pouco mais abafadas. Usamos um pouco mais de efeitos também. Mas, no novo disco, trabalhamos para conquistar espaço constantemente enquanto estávamos criando. Fomos capazes de nos certificar de que cada elemento estava em seu lugar e que não iria invadir o espaço dos vocais. Acho que por estamos criando juntos pudemos testar e complementar os vocais, e depois dar a eles mais destaque.

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James: É uma pergunta meio esquisita, porém. Porque a forma como ele foi gravado e os vocais são retratados – e o som deles, respectivamente – soa mais parecido com música pop do que as pessoas estão acostumadas. Mas ao mesmo tempo, Shrines foi uma repetição da música pop da época. E essa é uma outra repetição do que sentimos que é a música pop. O que achamos dela e como a forma que a fazemos mudou para nós. Não é tipo: "uau, eles fizeram um disco pop", porque isso é o que sempre fizemos. É mais sobre as nossas habilidades e como a nossa forma de compor mudou.

No intervalo entre os dois discos vocês fizeram uma parceria com o Danny Brown e o Ab-Soul, e também um cover do Soulja Boy. Pretendem fazer mais parcerias com artistas de hip hop?
Roddick: Tem uma pegada de hip hop marcante na minha produção, principalmente em relação a ritmo, então trabalhar com rappers não é uma ideia tão “fora da caixa” para nós, na verdade é uma parceria bastante natural. Definitivamente acho que isso vai rolar mais vezes no futuro. Nós não vamos atrás de parcerias. Se alguém quer trabalhar conosco, vamos ver o que acontece e se dá certo. Mas acho difícil lançarmos uma mixtape de rap esse ano.

Acha que é possível lançar uma versão instrumental de Another Eternity para que um MC intervenha nela?
James: Fizemos isso com Shrines, então… talvez?

Roddick: É, fizemos uma versão instrumental de Shrines e ela está em algum lugar por aí. Não fizemos nenhuma divulgação, simplesmente colocamos na internet para ver se alguém baixava e fazia algo com ela. Mas não acho que muitas pessoas sabiam de sua existência. Talvez algumas pessoas curtiriam fazer um rap em cima de Another Eternity, mas ele foi criado com uma pegada mais verso-refrão.

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James: Não tem muitas pontes instrumentais nele, ao contrário do Shrines, que tinha uma porrada.

Roddick: Acho que não tem muito espaço para o rap nesse disco, mas não excluo a possibilidade de fazer algo no futuro se alguma oportunidade legal surgir.

Qual é a desse maquinário de lanternas em forma de casulo que vocês usam no palco? Vocês vão continuar usando isso ou estão pensando em inventar um novo artefato descolado para os seus shows
James: Nós estamos reinventando elas.

Roddick: Nós realmente curtimos o conceito e o que fomos capazes de criar visualmente. Mas é um conceito que tem muito espaço para crescer. O que estamos fazendo agora é trabalhá-las em um show ao vivo e a partir daí ver o que pode rolar. Mas acho que vai ser mais ou menos nessa linha, como uma progressão maior.

Não faço ideia de quanto tempo leva para criar algo como aquilo. Existe uma pressão de terminá-las antes de começar a fazer shows? Ou até mesmo uma pressão para ficarem massa?
James: Existe uma pressão de apenas fazê-las ficarem prontas. Mas para ficarem massa? A última foi literalmente feita em casa; usamos umas tampas de luz problemáticas e meias brancas para cobri-las e ficarem justas. E por conta disso não eram fortes o suficiente para durar, então eu comprava pacotes de três pares de meias em uma loja no centro de Montreal. Acho que a progressão será no sentido de fazer algo que realmente vale a pena levar para turnês, em vez de apenas cacarecos.

Cam Lindsay é uma escritora residente em Toronto - @yasdnilmac

Tradução: Stefania Cannone