Por que a Top Dawg Entertainment Está Dominando o Começo de 2014

Grandes bancas de rap aparecem para definir cada era. Posses como os Soulquarians, o NWA e a Dungeon Family, de Atlanta, levaram os anos 1990 de brinquedos em caixas de cereal e grunge para os lados do neo-soul-do-gueto, o G-funk e o rap sulista suarento. Pule para os anos 2000 e encontrará a coordenação de cores da Dipset, o império comercial da G-Unit e o romance global da Young Money.

Mas quem serão as pessoas lembradas futuramente quando relembrarem o tempo em que vivemos agora? Certamente vão falar da Top Dawg Entertainment, a gravadora construída em volta dos membros do Black Hippy, Kendrick Lamar, ScHoolboy Q, Jay Rock e Ab-Soul.

Claro, a TDE não é a única turma de sucesso. O A$AP Mob e o ProEra começaram a fazer isso pouco tempo atrás, o Brick Squad do Gucci Maine segura a onda e o Odd Future conseguiu integrar tão bem o rap com comércio e internet que estão destinados a ter um programa educacional de duas horas em 2034. Mas nenhuma dessas bancas conseguiu fazer em 2014 o que a TDE fez. Sim, estamos ainda em fevereiro, mas o coletivo começou o ano provando que é melhor você não querer folgar com esses caras.

Abrindo o ano com sete indicações ao Grammy, Kendrick marcou um belo gol para a TDE. Ele nem chegou a ganhar nenhum prêmio, mas quem liga? A música de Kendrick foi validada pelo comitê graças à sua indicação e a reação quase unânime do público quando ele não ganhou um Grammy. Isso solidificou sua posição como o campeão do povo.

O álbum good kid, m.A.A.d city é o marco do seu prestígio, mas isso foi o resultado de um ano de trabalho extracurricular. Todo mundo sabe cantar o verso de “Control”, mas isso não é a única coisa que Kendrick fez em 2013. Ano passado, ele participou de 31 faixas diferentes, doze delas lançadas em singles. Do Emeli Sande ao 50 Cent ao Lonely Island, a onipresença de Lamar está fazendo ele se tornar uma estrela. Sua abordagem, embora feita em menor escala, é complementada pelo resto do pessoal da TDE, com o ScHoolboy Q, Ab-Soul e cia segurando o tranco nas participações. Nenhum artista da gravadora lançou um álbum em 2013, provavelmente porque o ano passado foi o ano mais atarefado da TDE. Eles estavam construindo algo direcionado, junto com o Anthony “Top Dawg” Tiffih anunciando que o plano principal é lançar seis álbuns em 2014.

O primeiro dos lançamentos previstos foi o álbum Cilvia Demo do nativo do Tennessee Isaiah Rashad, o primeiro não-californiano a colar no rolê. O lugar de Rashad na panelinha parece natural, colocando mais gasolina no fogo do pessoal da Dungeon Family. Ele respira introspecção e ansiedade em ambientes que devem muito ao Andre 3000, assim como o TDE deve à Costa Leste, enquanto produz refrões passíveis de inveja para o Chance The Rapper.

Os refrões nas duas faixas que mais se destacam no álbum foram criados pela novata da família TDE, SZA (cuja faixa de 2013, “Aftermath”, bate qualquer playlist de pop “abraça-o-travesserinho” atmosférico). O primeiro som, “Ronnie Drake”, é um salve melancólico de amor pela família, “pelas strippers, putas” na cara da discriminação policial. A segunda faixa, “West Savannah”, é uma narrativa sobre ficar como é varar a noite ouvindo Outkast e não falando sobre suicídio. Ela tem a voz necessária para levar a música da TDE para os ouvintes de fora do jogo, e não apenas produzindo suas músicas, mas sim também oferecendo um vocal mais acessível nos refrões. Eles sabem disso também, por isso que escalaram a mina para o segundo lançamento do grupo em 2014, o álbum Oxymoron do ScHoolboy.

É muito conveniente que Cilvia Demo, do Rashad, e o Oxymoron, do ScHoolboy Q, tenham saído com um intervalo de um mês entre eles. O ScHoolboy Q faz uma participação na última faixa do álbum de Rashad, “Shot U Down” , que é uma música que flui tranquilamente com a primeira faixa do Oxymoron, como se anunciasse a calmaria antes da tempestade que se aproxima na forma de rimas do ScHoolboy na faixa “Gangsta Gangsta Gangsta”. É um exemplo de como os artistas da TDE se elogiam, se erguendo diante de um som com uma raiz, mas também apontando para direções um pouco diferentes, começando realmente a construir um império.

O Oxymoron chegou a quase o dobro de cópias vendidas na pré-venda, em comparação ao good kid, m.A.A.d city, o que é um forte indicador de como a TDE aumentou o seu alcance desde o ano passado. O álbum por si só é selvagem e músicas como “Gangsta” e “Los Awesome” transportam você para uma rodovia, dirigindo uma Escalade cor branca-cocaína portando blunts em brasa. O álbum também tem seus momentos fofos. A faixa “Grooveline Pt 2”, com a participação do Suga Free, cospe linhas como “o gosto da sua xoxota é super doce” sobre o que poderia ser a trilha de um pornô cosplay de rap inspirado pelo D’Angelo . Ou talvez a faixa apenas fale sobre trepar. O que você espera, cafuné e caixas de bombom? O ScHoold Boy Q pega pesado.

A crueza do Oxymoron é um ótimo par para o charme confiante e chapado do Isaiah Rashad. O trabalho de Rashad é cru de uma maneira diversa, é honesto e bate diretamente no ouvinte. Em uma entrevista para a Complex, ele afirmou: “Não é para você pilhar com isso, não é o meu tipo. Eu só quero que você entre na brisa com isso, se divirta e que te coloque em um certo clima. É realmente calmo e realmente pacífico”.

Em uma entrevista para o The Breakfast Club, o ScHoolboy Q disse que a competição entre os membros da própria TDE impulsou todos a criarem um material melhor. “Quando cheguei na TDE eles me motivaram, sabe? Eu era a segunda voz do Kendrick e vi tudo isso crescendo. Em um show tinha 30 pessoas na plateia, mas próximo show que a gente fazia tinha 100 pessoas. Daí, de 100 pessoas pulou para 200 e assim por diante. Agora os shows esgotam. Você sacou o que estou dizendo? É isso que me motivou muito para fazer esse próximo projeto. Eu quero muito, muito fazê-lo.”

Como o Wu-Tang detalhava a cidade de Nova York ou a Death Row rascunhava as ruas de Compton, esse ano quem está redesenhando o dia-a-dia do hip-hop californiano é a Top Dawg Entertainment.

E ainda restam quatro álbuns para serem lançados esse ano. Puta que pariu.