De Platão ao Whey, Uma História da Maromba no Rap Nacional

Platão já dizia que a música certa pode deixar soldados mais fortes e destemidos, e olha que ele nem conhecia o Whey, o Crossfit e os segredos da agropecuária.

Por Evandro Morellato

16.5.14

Na Grécia antiga os caras achavam que a música tinha um enorme poder sobre o ser humano, afirmavam que ela alterava o estado de espírito (ethos) das pessoas conforme diferentes escalas eram utilizadas. Por exemplo, Platão disse em “A República” que os guerreiros e soldados deveriam ouvir músicas feitas com os modos (escalas) Dório e Frígio, pois isso os tornaria mais fortes, em contrapartida os modos Lídio, Mixolídio e Jônio teriam de ser evitados, já que em tese eles deixariam os caras mais molengas.

Muitos anos se passaram e o consenso foi de que essa história de escala, modos e ethos é tudo uma frescuragem do caralho e o negócio mesmo é catar umas batidas do 50 Cent e falar das técnicas, produtos e resultados da Arte da Maromba.

O rap/hip hop sempre me pareceu ligado com o assunto maromba de um certo jeito, talvez porque naqueles filmes dos anos 80 e 90 sempre rola uns caras gangsta sendo presos e, p’ra passar o tempo, nada melhor do que puxar uns ferros nervosão das ideias, mas isso demorou um tanto p’ra chegar a ser o tema das letras de uma maneira mais ampla, especialmente aqui no Brasil. Como nos últimos anos parece que todo mundo decidiu trocar o arroz e feijão por Whey Protein injetado no pescoço, então nada mais justo que essa fusão do hip hop com a maromba se firmar logo de vez, vejamos algumas das mais belas canções dessa galera.

Mag — “Quer Tomar Bomba”

Mag é aquele maluco que saiu do Facção Central e que desde então, dentre outros hits, fez “Patricinha do Olho Azul” e “Mama”, e também fez uma incursão na música de maromba:

Bonde da Stronda — “Bonde da Maromba”

Essa me faz pensar que a maromba era o caminho natural p’ra se seguir depois daquela onda de Mc Fox, playssons, stronda e todo aquele papo.

Jax — “Musculação: Minha Escolha, Minha vida”

Esse maluco dedica uma canção p’ra falar sobre a visão preconceituosa da mídia sobre alguns dos produtos usados na maromba, e como num programa matinal nos lembra de que cada um de nós tem um organismo bem específico, portanto cada caso é um caso.

Geteclub — "DNA da Maromba"

Essa música é a mais alquimista que ouvi, e não resta muito a dizer depois de se ouvir o verso “o meu segredo está à venda na agropecuária”.

Hungria — "Ciclo Foda"

Do mesmo compositor de “Bens Materiais” achei justo a música de maromba fazer um paralelo com o tuning automotivo.

B-Dynamitze — "Quer Ficar Grandão"

Segundo a descrição do YouTube esse é o “primeiro clipe do rap nacional falando de academia”, mas uma música que tem o verso “o barulho dos pesos p’ro meu ouvido é suave, tipo Beethoven, uma sinfonia” não precisa de mais nada p’ra melhorar.

LetoDie — "Circo dos Horrores"

Uma música que marca pelo uso do pitchsifht deixando a voz bem grave e por fazer a comparação do marombeiro com o trabalho do titã Atlas, que carrega o mundo em suas costas.