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Música

Cinco Bandas Falecidas que Até Dão um Pouco de Saudade do Espaço Impróprio

Sim, aquele lugar dava medo. Mas era muito tru e vamos lembrar para sempre com carinho da nossa perda de 20% da audição

Chuva Negra no Espaço Impróprio por Breno Carollo

O Espaço Impróprio foi por muitos anos, um dos principais (esticando o chiclete até dá para dizer que foi O PRINCIPAL) espaço para shows dos roles punk/hardcore/metal paulistano e undergroud. Tipo, realmente underground. Se entre 2005 e 2011 você teve banda, curtiu a cena alternativa de São Paulo e/ou colava na região do centro da cidade você certamente sabia o que era o Espaço Impróprio.

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O itinerário era repetido à exaustão. Descer a Augusta, ficar no boteco imundo da esquina da Rua Antônia de Queiros pra beber cerveja de garrafa a sete mangos até chegar perto do horário dos shows começarem. Depois era descer a Antônia em direção à Frei Caneca, passar na porta do Caribe Night Club, ser convidado a levar "bucetada na cara", dar umas risadas dos seguranças e colar pro rock.

O Espaço Impróprio tem esse nome, muito acertadamente, porque o local era realmente impróprio para shows. Diz a lenda que abaixo dele havia um vulcão adormecido ou a própria Cuiabá, por que vai tomar no no cu, como era quente aquela merda. Mas era o que tínhamos pro role naqueles tempos.

A fachada e a entrada do Impróprio mantiveram-se as mesmas por anos e anos. Uma porta de madeira caindo aos pedaços, que dava a ideia que ali não havia nada, senão um depósito ou algum lugar abandonado.

O pico teve dois momentos marcantes, que separamos como o antes e o depois da reforma. A parte superior da casa continuou a mesma. O que mudou foi o porão, onde antes era uma sala de estúdio para ensaio de bandas que abrigava shows para 30 vitoriosas pessoas que tinham a coragem de encarar o lugar foi ampliado e passou a comportar uns 32 valentes.

Ao entrar na casa, você tinha uma sala que era meio que uma recepção, onde rolava vendas de salgados vegans, alguns discos e zines. A esquerda dessa sala, havia uma escada que dava acesso ao porão/sala de estúdio/rolê do shows/sauna/local onde o rock diabista era defumado.

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Se você não quisesse descer as escadas logo de cara, você podia atravessar essa recepção e ir pros fundos da casa, onde haviam mais dois cômodos abertos. Lá você sentava em alguns sofás ou no balcão do bar pra beber cerveja com os bróders e falar de Venom, Integrity, Repulsion, Napalm Death e por aí vai.

Descendo a escada, você dava de cara com uma porta pesada, enorme e que te fazia pensar na vida enquanto a abria. O defumador de rock era tão terrível que você suava já abrindo a porta. Atravessando o "Gate of Nanna", você adentrava num cômodo pequeno, apertado, sem ventilação, escuro e úmido, muitas vezes achei que iria encontrar o Pinhead e os Cenobitas por lá. A única saída era tomar o ultimo gole da cerveja que a essa altura parecia água de chuveiro e banguear. Mesmo com todo esse sex appeal arquitetônico, o Impróprio ainda era o local onde os melhores shows aconteciam, som torto e errado de todo o Brasil e fora também. Isso era animal.

Você encontrava punk, hardcore, metaleiro, crust, tudo ali, pirando em alguma banda de grind que tocava 30 musicas em 19 minutos, com amplis ruins e pedais ainda piores.

Eu mesmo já toquei lá duas vezes. Em uma delas eu conseguia sentir os pingos de suor, que devido a alta temperatura, evaporavam da galera e se condensava no teto só para em seguida pingar de volta em nossas cabeças.

No Impróprio rolaram grandes shows de grandes bandas. Muitas delas já acabaram e por isso eu decidi indicar cinco delas que já não existem. Você não poderá revê-las, nunca mais, muito menos naquele saudoso pico, mas elas marcaram simbolicamente a existência do Espaço Impróprio e merecem a honrada lembrança. Bora lá:

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Praia de Vômito

Essa banda de Embu (SP) fazia um grind/noise animalesco. A banda era demente demais. O vocal era um ogro de 12 metros que urrava loucamente e o batera era um cretino ultra rápido, que fazia os blast beats mais brutais que já vi ao vivo, tudo sem usar pedal duplo. Essa banda acabou há alguns anos e dela nasceu o também animalesco e totalmente anti-veloz O Mito da Caverna.

MySpace (sim, galera é tudo da época do MySpace)

Are You God?

O AYG foi uma das principais bandas do underground de São Paulo durante a década de 00. A banda era conhecida pelas performances malucas nos palcos, com direito a outras pessoas tocarem em seus lugares enquanto os mesmos ficavam na plateia. A banda misturava uns lances de grind com umas experimentações malucas. O término dessa banda também gerou o nascimento de outras bandas fudidas, o Test e o Elma.

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Intifada

O Intifada já foi mencionado aqui no Noisey como a banda que deu origem ao genial Noala. Os caras já tinham algumas levadas experimentais naquela época, é algo que o Noala hoje faz tão bem, mas flertavam muito mais com o death metal e o hardcore. Essa banda é uma daquelas que se tornaram lendárias dentro do rolê.

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Lapso

Se o Lapso não tivesse acabado, hoje eles certamente seriam uma das principais bandas de grind do país. Os caras tocavam muito, o batera era um demente, ultra veloz, que adorava fazer uns blasts usando o prato china, no melhor estilo Anders Jakobson do Nasum. As guitarras eram fodas e os riffs tinha um pézinho no grind sueco da escola do próprio Nasum e do Rotten Sound. Se alguém souber onde eu consigo descolar a demo dos caras, por favor me avise.

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Life Is a Lie

Essa foi sem dúvida a melhor banda do underground paulistano em todos os tempos. Todos os seis integrantes da banda eram excelentes músicos e conseguiam trazer pro som do LIAL referências do grind, do black metal, do hardcore e do punk. Me lembro até hoje que quando vi as fotos dos caras nos rolês que eles fizeram na Europa eu pensava "porra, ainda vou conseguir isso também". Um possível retorno do LIAL é certamente uma acontecimentos mais esperadas da cena de SP. Eu torço pra que isso um dia possa rolar.

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