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Música

O Rx Bandits Perdia a Linha no Ensino Médio

Com o lançamento de Progress, os Bandits já começavam a misturar influências de rock progressivo a suas canções. O resultado é um dos mais interessantes discos de rock-com-chifres da década.

Nascido no Sul da Califórnia durante o estranho e maravilhoso momento dos anos 90 em que o ska foi vendável, o Rx Bandits chegou à cena ainda adolescente com um som da terceira geração que lhe rendeu um contrato com a Drive-Thru Records. Essa fase inicial durou pouco. Com o lançamento de Progress (2001), os Bandits já começavam a misturar influências de rock progressivo a suas canções. O resultado é um dos mais interessantes discos de rock-com-chifres da década.

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O novo álbum dos californianos, Gemini, Her Majesty - lançado no final de julho – está lotado de teclados espaciais, guitarras loucas e mudanças de tempo. Mas a banda, agora sem os chifres, segue frustrada por conta de uma parte do público para quem eles sempre serão fornecedores do já batido estilo cheio de tchaca-tchacas e hup-hups.

Ainda assim, enquanto o Rx Bandits se prepara para tocar em Nova Iorque na noite de lançamento do EP, a lista bandas de abertura no Best Buy Theater incluem nomes como Reel Big Fish, Less Than Jake e Catch 22. Seria possível que a banda tivesse mantido um cantinho no coração para o ska que tocava em sua juventude?

Em uma palavra: não.

Nos bastidores, o guitarrista e vocalista Matt Embree vira para seu agente e diz “Dá pra dar um jeito nessa música? Está me matando”.

As canções causadoras do suplício de Embree eram tocadas, em parte, por bandas com as quais ele havia feito turnês junto não muito tempo atrás – mas atualmente, ele diz, “não é o que curto”. Tendo despachado pra longe esse problema, Embree estava pronto para falar de assuntos como a evolução contínua do quarteto, sua postura em relação a membros violentos do público, e o significado da música “Penguin Marlon Brando”.

Noisey: Você desencoraja veementemente o crowd-surfing e o mosh violento em seus shows. Por que isso é importante pra você?
Matt Embree: Acho que é uma questão de respeito com o próximo. Eu adoro quando dançam. Se alguém para pra ver como o público se mexe, talvez julgasse tudo como moshar – mas você consegue perceber quando são três imbecis se batendo e empurrado quem está mais para trás, ou quando é um esforço coletivo em que todo mundo dança junto.

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O lance é que eu nunca iria querer que alguém se machucasse em um show nosso. Não só isso, mas não me interessa chegar, tocar pra um monte de gente, ser pago e cair fora. Quero ter uma ligação e uma experiência legítima com aquelas pessoas enquanto seres humanos.

Isso sempre me incomodou, quando as bandas deixam isso acontecer em meio ao público. Cada um, cada um. É o show deles; façam o que bem entender. Mas sinto que as bandas ignoram o fato de estarem ali em cima do palco e terem uma voz. É a mesma situação de quem está passando que vê alguém apanhando na rua, e as pessoas só ficam ali paradas ou fazem vídeos em seus telefones. É a mesma coisa para mim. Se vejo que algo está acontecendo, gente se machucando, eu não consigo [ignorar].

Vocês fizeram turnês na América do Sul e a região parece ser uma importante influência para a banda. Como isso transparece na música?
Matt Embree: Já fomos pra Venezuela diversas vezes, e acho que nunca teria ido até lá se não fosse pela música. Aprendi muito sobre diferentes ritmos latinos ali. Fui lá e fiz shows solo com vários artistas locais. Foi bem massa, porque dois deles não falavam nada de inglês – o baixista e o baterista, a cozinha da banda. E, bom, meu espanhol não é dos melhores, mas era o suficiente para nos entendermos. Havia uma pegada diferente por conta da forma como eles foram criados e como lhes ensinaram música e acho que internalizei isso. Digo, tocávamos os mesmos acordes, e eu cantava as mesmas letras, mas soava completamente diferente.

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Onde podemos ouvir essa influência no disco?
Matt Embree: Eu diria que existem muitas passagens latinas no disco. São mais passagens [do que músicas], porque o RxB curte misturar gêneros em geral.

Falando em misturar gêneros:Gemini, Her Majesty é o álbum mais progressivo da banda. A primeira música, “Ruby Cumulous”, começa com teclados graves e nervosos. Vocês têm todo tipo de influência – e ainda assim, mesmo que suas raízes no ska tenham sido um fardo no seu ponto de vista, ainda há momentos em que essa sonoridade offbeat surge e pode-se perceber que faz parte do que vocês estão fazendo.
Matt Embree: Sim!

Então mesmo que você tenha amadurecido além do ska, é algo com o qual você ainda se liga de algum jeito.
Matt Embree: Sim, cara. Fico feliz que você tenha ouvido mesmo nossas músicas. Como posso explicar? Sinto que o ska – o da terceira geração e afins – tem seus méritos, assim como toda música tem seus méritos de determinadas formas.

Eu adoro reggae e também algo de ska, ainda. Acho que o que prende as pessoas nestes gêneros é a dança. Especialmente os jovens. Se dá para dançar, eles curtem pacas. Isso e as drogas compõem boa parte do frenesi da música eletrônica. Claro que não há nenhuma tendência do ska da terceira geração [no novo álbum]. Mas quanto ao reggae, eu definitivamente ainda adoro reggae. Só não estou interessado em tocar um tipo de música que pertença a outra pessoa, por isso gostamos de misturar tudo. Criamos nosso próprio estilo, então o que gostamos ainda aparecerá como tendência. Há diversos elementos que deixamos pra trás. Dependendo da época da banda que você ouvir, soamos como uma banda diferente.

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RX Bandits no início.

Até então, vocês cresceram na frente de seus fãs. Há algo do passado que vocês achem simplesmente horroroso?
Matt Embree:Felizmente nossas demos não estão disponibilizadas.

Ainda dá para conseguir o primeiro disco, Those Damn Bandits, no iTunes.
Matt Embree:Ugh. Isso dói. Mas quer saber? Tenho orgulho de parte daquele disco, bicho. Tem umas harmonias em três partes e tal. E eu tinha 15 anos, saca? Sucesso.

O que você odeia daquela época?
Matt Embree:Provavelmente o som da minha voz – mas a coisa que mais amo são os arranjos vocais. É estranho e contraditório, eu sei. Parecia que eu estava forçando a barra. Mas todos nós não estávamos no Ensino Médio?

O vício em drogas tem sido um tema recorrente em suas letras. O que te atrai no assunto?
Matt Embree:Desde muito novo eu tinha curiosidade com drogas porque muitos dos meus músicos favoritos eram viciados. Começando quando passei a curtir jazz na adolescência. Sempre quis saber: por que John Coltrane precisava de heroína? Por que Charlie Parker precisava também?

Sou o tipo de pessoa que está disposta a experimentar algo pelo menos uma vez. Houveram ocasiões em que talvez eu tenha exagerado.

Em que momento você acha que foi longe demais?
Matt Embree:Foram muitos. Acho que crio uma incrível riqueza musical nessas épocas. Acho, que até certo ponto, experiências com drogas podem mudar todo o seu paradigma ou foco, e meio que abre todo um novo mundo. Mas também, eventualmente, restringe esse foco somente às drogas, e aí já não importa tanto a música.

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Sofro de ansiedade. Quando estávamos gravando And The Battle Begun…, a ex-namorada de um dos caras me deu algo que ela disse que era pra ansiedade. Acabou que era algo louco, tipo 100mg de morfina. Basicamente passei a noite acordado vomitando e com o mundo girando. Foi horrível. Eu estava na casa da mãe da minha ex, e ela me ouviu vomitar a noite toda.

No outro dia, fiquei doente praticamente o dia inteiro. Mas quando o sol se pôs, comecei a melhorar. Meu corpo ainda estava agitado. Estava quente, esquisito. E então gravamos “Apparition”. Mesmo tendo que passar por todo o vômito e o mundo não parar no lugar, o lado bom é que daí saiu a melhor tomada de “Apparition”. Tocamos guitarra, baixo, o teclado Rhodes e a bateria, tudo ao vivo, e a gravação ficou com essa cara “morfinizada”.

Você tem 34 anos. Já sossegou de vez?
Matt Embree: Com certeza.

E como isso se manifestou?
Matt Embree:Pratico mais esportes agora. Futebol, basquete. Jogamos futebol quase todo dia durante a turnê. Antes, eu passaria as manhãs me recuperando. Percebi que tinha que dar uma sossegada porque estava estragando minha voz. Cheguei bem perto de precisar fazer cirurgia nas cordas vocais porque tinha nódulos. Tenho certeza de que tenho cicatrizes permanentes lá.

Parei de fumar cigarros. Obviamente parei de cheirar coisas também. E isso faz uma puta diferença. É engraçado ver aqueles caras no Alcoólicos Anônimos e Narcóticos Anônimos – eles estão presos nessa. Como largam de uma droga, precisam de outra coisa – e essa outra coisa se torna a adrenalina de ficar malhado e bonitão.

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Vocês têm algumas músicas de nomes ousados. Por que “Penguin Marlon Brando”?
Matt Embree:[Risos] Depois de nós termos finalizado a composição dessa música, simplesmente achamos que ela soava assim. Se fosse uma pessoa, seria o Pinguim Marlon Brando. O Marlon Brando gordo e velho. O Marlon Brando que pega sacos do McDonald’s que as pessoas jogam por cima de sua cerca. Mas em forma de pinguim.

A droga favorita de Jonathan Zeller é ska da terceira geração.

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Tradução:Thiago “Índio” Silva