FYI.

This story is over 5 years old.

Música

Britt Daniel, do Spoon, Tomou um Negocinho e Falou com Aziz Ansari, Jason Schwartzman e com ele Mesmo

E mais uma galera falou com ele também.

Quando você chega ao patamar do Britt Daniel, é difícil se importar minimamente com uma entrevista. Normalmente são as mesmas perguntas de sempre sobre o mesmo grupo de pessoas feitas pelos mesmos canais sem parar. Então quando pedem para te entrevistar, qual é o plano? Bom, se você é o Britt Daniel, o jeito é improvisar.

Ele foi alvo de perguntas feitas por pessoas como Hamilton Leithauser do Walkmen, Janet Weiss do Sleater-Kinney, Aziz Ansari, Jim Eno do Spoon, Lovefoxx do Cansei de Ser Sexy, Jason Schwartzman e vários outros, e até escreveu uma série de perguntas para ele mesmo enquanto estava doidão de zolpidem. Falando sobre sua história, o Spoon, sua vida pessoal e muito mais, os resultados dessa entrevista com este elenco de feras e as origens das perguntas – as quais não foram reveladas – você pode conferir logo abaixo.

Publicidade

Eleanor Friedberger (Fiery Furnaces, artista solo, ex-namorada): Você faz demos? Digo, além de simplesmente anotar algo para não esquecer. Você tenta fazer com que dêem certo? Se sim, você tenta usar alguma dessas faixas no disco?
Britt Daniel: Sim, faço várias demos e me dedico muito a elas. Não para que fiquem perfeitinhas, mas para ter certeza de que a música daria certo se fosse gravada. Às vezes elas ficam muito boas e então usamos as demos como base para gravar o disco. Ou começamos com elas. “Stay Don’t Go” era uma demo, basicamente… só com alguns vocais novos e linhas de baixo.

Sean O’Neal (jornalista de música e cultura pop): Qual sua treta com o Heart? Eles são uma banda massa e tem algumas músicas marcantes. “Barracuda” é muito foda. Sério, qual é a treta?
Eu não tô nem aí pra eles. Talvez as pessoas curtam os vocais? Sei lá, geralmente a galera acha que eu curto Cars também, e a real é que nunca curti. Bom, gosto de algumas músicas do Ben Orr.

Lovefoxxx (vocalista do Cansei de Ser Sexy): Aquela música “The Ghost of You Lingers” é bem doida – parece os ruídos mentais de uma pessoa saudosa de um amor que já se foi. Quando a ouço com fones de ouvido, ela me leva por um desfile espacial em que diversas áreas da sua cabeça são subitamente capazes de ouvi-lo – várias camadas e pontos de vista mas ainda assim vários espaços negativos. Você pode me falar um pouco sobre a composição e mixagem dessa música?
Espera… Escrevi isso aqui doido de zolpidem? É uma pergunta intensa.

Publicidade

Escrevi esta música num daqueles momentos em que não estava tentando escrever nada, era apenas um exercício. Estava tentando compor algo o dia inteiro e não conseguia e então fiquei frustrado e queria gastar alguma energia. Comecei a martelar um teclado, intencionalmente caótico, lidando deliberadamente com a frustração. E de alguma forma fui atraído para acordes que me lembraram vagamente da trilha sonora do filme Solaris.

Gravei a música e curti o exercício, mas depois desencanei. Voltei a ela e senti que havia algo ali e resolvi escrever uma letra. Originalmente eram apenas sílabas… fluxo de consciência, e as palavras vieram depois.

Enquanto no estúdio… quando a finalizamos fiquei muito contente com o resultado. Gravamos a faixa do piano provavelmente umas 15 vezes usando pianos e teclados diferentes e com a fita rodando em várias velocidades. Quando ficou pronta senti como se fosse uma das coisas mais sentimentais que eu já fiz.

Quando ouço essa música lembro de tê-la gravado em 2006 quando eu e Nicole tínhamos acabado de terminar.

Lembro que na mixagem o Mike McCarthy fez vários truques com faders voadores, fazendo com que pulassem de jeitos artificiais.

Britt depois de escrever suas perguntas chapado de zolpidem.

Eleanor Friedberger: Você escreve as letras antes da música ou a música sempre vem primeiro? Quais músicas foram criadas a partir da letra?
Geralmente trabalho nas letras e na música separadamente e então junto as duas. “Don’t Make Me A Target”, “Written in Rever”, uma parte da “Black Like Me”, “Something To Look Forward To”… Todas essas foram criadas a partir da letra. Quanto às músicas novas, nenhuma delas foi assim, mas eu tinha o título “Rent I Pay” muitos anos antes de escrever a música.

Publicidade

Sabrina Ellis (vocalista do Sweet Spirit e A Giant Dog): Se você pudesse recomeçar sua carreira na música, como você a iniciaria e o que faria de diferente?
Teria sido conveniente ter uma banda que começasse com “The” no início dos anos 2000.

Britt Daniel chapado de zolpidem: Se você pudesse reviver um ano, qual seria e por quê?
Essas perguntas são idiotas. Lembro de chegar no fim da 5ª série e rezar para que quando eu morresse eu pudesse revivê-la.

Bradford Cox (vocalista do Deerhunter): Qual é a coisa mais importante que uma garota pode fazer para manter sua personalidade intacta nesta sociedade tão moralmente desafiada de hoje em dia?
Se conhecer, se gostar e se apegar a isso.

Britt Daniel chapado de zolpidem: Você fica puto da vida com frequência?
O tempo todo mas costumo pegar leve.

Stephen Patterson (vocalista do White Rabbits): Você tem um método de composição?
O melhor jeito de fazer isso é entrar no clima e escrever um monte de palavras, porém sem a intenção de que aquilo precisa necessariamente se tornar uma música. Levei muito tempo para sacar isso.

Alex Fischel (tecladista e guitarrista do Spoon): Diga uma palavra que você detesta.
Nuance.

Gerard Cosloy (fundador da Matador Records): Eu tenho uma aposta de 5 mangos com uma pessoa que é o seguinte: quando você está comendo num restaurante mexicano vagabundo e sua música começa a tocar, meu amigo diz que você deve pedir para os outros clientes calarem a boca até a música terminar. Eu acho isso insano pra caralho. Porém, acho que você pode trocar uma ideia com o gerente sobre descolar algum tipo de desconto.
Pra falar a verdade eu nunca ouvi uma música minha tocando num restaurante mexicano vagabundo. Mas é uma premissa e tanto.

Publicidade

Sean O’Neal: Se você tivesse que assistir a um só filme sem parar pelo resto da sua vida, qual seria e por quê? E quem estaria te obrigando a assistir esse filme sem parar? Que tipo de sistema penal bizarro baseado num filme você se submeteria agora?Essa é uma boa pergunta… Acho que Chinatown.

Talvez devesse escolher 2001… tem vários detalhes ao longo do filme e é comprido. Ele funciona como um filme de comédia e por isso talvez atraísse mais espectadores. É engraçado e ao mesmo tempo nada engraçado, sabe? Tem uma trilha sonora incrivel, é dark e lindo. E também é esperançoso… saca? Tem de tudo.

Jim Eno (baterista do Spoon): Se o Spoon fizesse uma turnê de van, quem dirigiria por mais tempo?
Eu, obviamente. Jim, você sabe que é verdade.

Ok. O Jim está certo… Eu sempre dizia que seria o que dirigiria por mais tempo quando na verdade sempre dava um jeito de me livrar do volante.

Britt Daniel chapado de zolpidem: Você abraçaria o George W. Bush se o encontrasse?
Óbvio que não! Quem fez esta pergunta???

Britt Daniel chapado de zolpidem: O que você costuma comer quando está bem louco no fim da noite?
De novo não entendo o porquê disso ser importante, mas existem várias possibilidades. Sorvete de baunilha com chocolate é bem gostoso.

Janet Weiss (baterista do Sleater-Kinney): Quando você sabe que a música que você tá compondo está pronta?
Me perguntam isso o tempo todo, e é basicamente quando você a curte quando ouve num playback.

Publicidade

Britt Daniel chapado de zolpidem: Qual seu crítico musical favorito?
Heather Phares, ela escreve pro All Music… ela parece sacar qual é a vibe sempre.

Hamilton Leithauser (vocalista do Walkmen, artista solo): É uma pergunta de sim ou não: depois de todos esses anos, você tem um membro favorito no Spoon?
Sim.

Brian Burton (Danger Mouse): O que você faz quando não tem vontade de seguir em frente?
Eu sempre quero seguir em frente. Lembro de uma vez em 2002 quando não queria fazer uma turnê. Às vezes eu odeio aquela parte de ter que sair de casa, mas normalmente amo fazer turnês. Mas para responder sua pergunta: dormir ajuda.

Larica da madrugada do Britt

Aziz Ansari (comediante): Não tô achando meu liquidificador Vitamix. Você roubou? Acho que você roubou.
Devo ter roubado… se isso é considerado roubo, devo ter roubado.

Sean Dineen: Quantas calças brancas você tem?
Hmmm… duas. Tenho duas calças brancas. É difícil encontrar calças brancas que vistam bem… Dá pra reparar muito bem no caimento quando são brancas.

Stephen Patterson: Fazer turnês te deixou mais ou menos atraído por restaurantes de rede?
As turnês não afetaram isto de maneira nenhuma… Às vezes eles são ótimos! Não tenho problema com o conceito. Só porque um negócio deu certo e se tornou uma rede significa que é ruim?

Britt Daniel chapado de zolpidem: Você se sente incomum de alguma forma?
Se eu me sinto incomum no geral? Como um ser humano? É difícil me imaginar sendo outra pessoa.

Publicidade

Britt Daniel chapado de zolpidem: Quantos discos você fez antes de se tornar o que é?
Com a banda, foram dois… fizemos o Telephono primeiro e com o disco que veio depois, o Soft Effects EP, nos tornamos o que somos. Ainda é um dos meus discos favoritos que fizemos.

Alex: Numa escala de um a dez, qual a nota da sua última transa?
Nove.

Sean Dineen: Melhor taco que você comeu no Texas?
Ando curtindo muito o Torchy’s, mas vou escolher o Polvos.

Janet Weiss: Sofrimento pessoal faz um músico se tornar melhor?
Tenho certeza de que às vezes faz, sim.

Sabrina Ellis: Quando você escreve uma música sobre alguém, você conta para a pessoa?
Não, acho que nunca contei… Contei para outras pessoas. Tipo, a “10:20” é sobre meu avô, e meu pai e minha tia gostaram muito de saber disso. Mas ele já tinha falecido quando a escrevi.

Eleanor Friedberger: Você escreve músicas baseadas em sonhos?
Acho que já fiz isso, sim… Tem uma música chamada “Monica”. Uma música que tinha feito há seis anos. É sobre uma pessoa inventada… e lembro de ter falado isso para minha namorada na época e ela ficou PUTA que eu escrevi uma música cujo título era o nome de outra garota. O que para ela era absurdo.

Jason Schwartzman (ator): Se você pudesse voltar no tempo e desse para você mesmo (daquela época) o último disco do Spoon, como você acha que você (daquela época) reagiria às novas músicas? Idealmente, o você de 2015 está meio disfarçado então não fica claro que você é ele e vice-versa.
O antigo eu pensaria quem caralhos é esse cara que canta como eu e quem é esse outro cara que acabou de me dar esse disco genial.

Publicidade

Jason Schwartzman: Você alguma vez escreveu uma música e deixou pra lá porque não tinha curtido e depois teve contato com ela de novo e acabou se tornando uma das suas favoritas?
Sim, mas se eu não curtia a música na época é porque ela provavelmente precisava de uma nova abordagem ou ângulo. Mas acontece. Comecei a escrever a faixa “New York Kiss” durante o Gimme Fiction e a deixei de lado por anos. Também comecei a “Target” durante o Gimme Fiction mas não sabíamos o que fazer para ela ficar boa. Sabia que havia algo bom ali mas não conseguia finalizá-la. Então a ouvi depois um ano depois e estava claro o que precisava ser feito.

Kathie (mãe do Britt): Qual foi a primeira música que você conseguiu finalizar? Você a gravou?
Tinham umas três ou quatro músicas originais que a minha primeira banda The Zygotes fez, essas devem ter sido as primeiras. Nós as gravamos no verão depois de eu me formar no Ensino Médio em um estúdio de verdade que tinha um gravador multipista, console e tudo mais, mas estávamos gravando nossas músicas num gravador de quatro faixas. Era um estúdio do Little Joe y La Familia, ele é de Tample, na Califórnia. De primeira eu fiquei chateado de não estarmos usando aquele equipamento todo, mas era a primeira vez que eu via um four-track e estava embasbacado.

Kathie: Você costuma sentir inveja de outras músicas/bandas? E você já ouviu uma música nova que te deixou louco de tão boa?
O tempo todo. E o tempo todo também. “Easy Easy” do King Krule foi uma das mais recentes. “King Kunta” fez eu me sentir assim também; e “Love Is To Die”, do Warpaint.

Publicidade

Jason Schwartzman: Você compõe mais no piano ou na guitarra? Ou nenhum dos dois?
Ultimamente guitarra. Mas rolam uns lances bons e diferentes com teclado, eu deveria fazer isso com mais frequência. Na época do Kill The Moonlight estava compondo muito no piano, e aquelas músicas eram massa. Há uns anos atrás eu tava numa pegada de gravar uma faixa inteira e depois cantar em cima. Saca, menor ideia de como seriam os vocais enquanto estava gravando. E várias vezes a música era boa, mas não faço muito isso hoje em dia. É mais difícil para mim me conectar e me perder se não estou fazendo algo físico como dedilhar ou martelar um teclado. Tenho que atingir um groove, e o aspecto físico de alguma forma me leva até ele mais rapidamente.

Jason Schwartzman: Tem alguma banda que se lançasse um disco novo você compraria no dia em que ele sair sem sequer ouvir uma nota da música?
Eu era assim com o Prince. Toda primavera ele lançava um disco novo e eu comprava no mesmo dia. Mas aí o Lovesexy colocou um fim nisso.

Se o The La’s lançasse um disco novo eu compraria sem pensar duas vezes.

Jason Schwartzman: Você come antes ou depois dos shows?
Três horas antes.

Laura (amiga): Qual seu disco do Spoon favorito?
Exatamente agora é o Girls Can Tell.

Laura: Qual foi a primeira música dos Beatles que significou algo para você?
“If I Fell”. Essa me pegou, me fez sentir algo imediatamente.

Laura: Você tem alguma coisa para fazer amanhã?
(suspiro exasperado) Simmmmmm, Laura… Tenho que criar.

Tradução: Stefania Cannone