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Música

O Nascimento Nerd e Espinhento do Thrash Metal em São Francisco

Entrevistei o Brian Lew, o cara que provavelmente tirou as melhores fotos do nascimento mítico do thrash metal.

Quando vi essa foto, eu sabia que o cara da esquerda era a pessoa com quem eu tinha que falar. O nome dele é Brian Lew, e a foto foi tirada em São Francisco no dia 18 de outubro de 1982, na sua festa de 19 anos. As outras três pessoas na foto são Dave Mustaine, Lars Ulrich e Ron McGovney, e nessa época todos eles estavam no Metallica.

Para colocar isso em contexto, o álbum de estreia do Metallica, Kill 'Em All, saiu em 1983, quando Brian ainda era menor de idade (nos Estados Unidos, pelo menos). Depois esse álbum ganharia disco triplo de platina, mas em 1982, o Metallica era só um bando de nerds fuleiros de Los Angeles que piravam em Tygers of Pan Tang e Diamond Head. Brian estava no colegial na época, fazendo fotos de shows e contribuindo com fanzines de metal. E aconteceu de ele cruzar com Metallica, Venom, Slayer e um monte de outras bandas, e tirar o que provavelmente são as melhores fotos do nascimento mítico do thrash metal.

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Dave Mustaine e James Hetfield nos bastidores do Old Waldorf, 29 de novembro de 1982, a noite em que o Metallica gravou a demo ao vivo Metal Up Your Ass.

O que se destaca na foto é como eles eram cândidos, e como todo mundo era jovem. Apenas uma molecada “de menor” curtindo em shows, o que não tem nada de especial em si. O que é especial é que as bandas tinham nomes como Slayer, Megadeth, Exodus, Testament, Possessed e Death Angel. Lew ajudou a capturar o nascimento delas, tanto destruindo no palco como zoando atrás dele, e ver essas fotos ajuda a relembrar que titãs como Ulrich, Mustaine e Lombardo já foram nerds espinhentos procurando uma escapatória.

Hoje Brian trabalha em Los Angeles para a Global Merchandising Services, lidando com o merchandising de algumas das bandas com quem ele cresceu (seus clientes incluem Iron Maiden, Slayer e Anthrax, entre outras). Recentemente ele desenterrou suas fotos velhas e colocou tudo no Murder in the Front Row, um livro que ele fez com seu amigo de longa data e também fotógrafo Harald Oimoen. Brian e Harald se conheceram trocando fitas cassete de thrash metal da área da baía de São Francisco, no começo dos anos 80.

Semana passada, liguei para o Brian para falar sobre o nascimento do thrash, amigos por correspondência do heavy metal e sua histórica festa de aniversário de 19 anos.

O primeiro show do Metallica como uma banda natal de São Francisco, 5 de março de 1983.

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Noisey: A primeira coisa sobre o que eu quero falar é a fotografia da sua festa de 19 anos.
Brian Lew: Haha, é, foi em outubro de 1982, a segunda visita do Metallica a São Francisco. Somos eu, o Dave, o Lars e o Ron McGovney, o primeiro baixista do Metallica. Todo mundo era menor de idade naquela foto. Talvez o Mustaine já tivesse 21, e a gente tinha ficado muito feliz de conseguir cerveja. O clube provavelmente podia expulsar a gente, mas isso não aconteceu. Não tinha tantas regras naquela época. Eles dedicaram “Metal Militia” para mim aquela noite.

Metallica dedica “Metal Militia” para o Brian na sua festa de 19 anos. 18 de outubro de 1982.

Como você acabou se envolvendo com o metal?
Cresci a uns 50 minutos ao sul de São Francisco. Nos finais de semana, eu ia para São Francisco visitar uma loja de discos chamada Record Vault. Lá provavelmente foi o marco zero da cena underground do thrash. Lá eu conheci gente da minha idade e gente que tinha acabado de se formar. A coisa toda era uma experiência meio colegial. Isso tudo foi antes da internet, e eu curtia muito revistas como Sounds e Kerrang! A Kerrang! começou uma seção de troca de cartas no final da revista. Você mandava suas informações e conhecia pessoas para trocar fitas e coisas assim por correspondência. Comecei a fazer isso e acabei recebendo cartas de pessoas da Alemanha, Bélgica, Holanda, Inglaterra, França – e isso foi muito foda pra mim. Na verdade, foi assim que conheci o Ron Quintana, que bolou o nome Metallica.

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Cliff Burton descendo o martelo na cabeça de Lars Ulrich, Keystone Palo Alto, Halloween de 1983.

Como você acabou conhecendo os caras do Metallica?
Todo mundo era amigo. Mesmo quando o Metallica começou ficar grande, eles sempre foram nossos amigos, uma extensão desse mundo pré-internet de troca de cartas. Naquela época, na área da baía de São Francisco, só umas trinta pessoas realmente curtiam metal, então a gente desenvolvia rápido as amizades por carta com pessoas que gostavam das mesmas coisas que a gente. Quando conheci o Lars, foi uma coisa meio almas gêmeas, a gente se uniu pelo metal underground e coisas britânicas. O Metallica era de Los Angeles, e quando eles vieram para São Francisco pela primeira vez, eles tocaram um cover do Diamond Head sem anunciar que era um cover. E eu pensei: “Puta merda, esses caras conhecem Diamond Head?” Me conectei imediatamente.

Legal. Na introdução do livro, você fala um pouco sobre ficar velho e como a vida real começou a interromper seu “caminho do metal”. Era esse caminho do metal que você estava seguindo no colegial?
Bom, não era realmente um “caminho”. A gente era só uns moleques nerds bestas que curtiam magia e fantasia, ficção científica, Guerra nas Estrelas e tudo mais. O metal me deu uma identidade. Eu estava crescendo nos subúrbios e tinha amigos, mas era o tipo de coisa onde eu me sentia isolado. A música me deu uma identidade, e no final encontrei pessoas com a mesma cabeça e da mesma idade que eu, que também curtiam essas bandas. Foi incrível, uma afirmação de vida. Não era nem um caminho, era parte do crescimento.

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Cliff Burton em seu primeiro ensaio no Metallica, 28 de dezembro de 1982.

Eu comecei a gostar de metal através do punk – você chegou a ouvir punk rock naquela época?
Uma coisa que percebi enquanto fazia esse livro é a relação entre punk e metal. Eu curtia punk um pouco, mas a questão é que eu nunca tentei ser punk. Os punks falavam da vida real e quanto isso era uma merda. Eu não queria isso. O metal me deu uma escapatória. Quando uma banda como o Venom cantava sobre sacrificar bebês pro diabo, eu era atraído por isso – não porque eu queria sacrificar bebês, mas porque isso era uma fantasia mítica ligada as coisas épicas que fascinaram minha história geek, uma ficção científica geek, o nome que você quiser dar. O Iron Maiden cantava sobre essas coisas, e isso me deu uma identidade, não uma agenda.

Falando de metal e mitologia, suas fotografias têm uma qualidade mítica fantástica. Parece que você estava capturando a criação de um mito, mas você sentia isso na época?
Não. Não tinha como a gente saber, éramos moleques – as bandas e os fãs eram todos menores de idade. Acho que isso é uma coisa difícil das pessoas entenderem. As pessoas olham as fotos, especialmente as fotos do Day in the Dirt em 1984, com o Exodus e o Slayer, e veem isso como documentação de um divisor de águas. Mas a gente era muito novo, e por acaso alguns de nós estavam nessas bandas. Foi só muito depois que comecei a ouvir Metallica no rádio. Lá se vão 30 anos e ainda é difícil pra mim acreditar onde algumas dessas bandas chegaram.

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@b_shap