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Música

Mark McGuire foi Parado pela Polícia Enquanto Me Contava por que a Sociedade é uma Merda

Ele falava sobre as pessoas estarem sempre fechadas em seu feed de futilidades e sobre a relação de suas composições com suas longas viagens de carrro.

Mark McGuire precisou desligar, porque a polícia o parou por dirigir em alta velocidade. Fazia uma hora que estávamos conversando. Em teoria, era uma entrevista sobre seu novo álbum, o Along the Way, mas virou uma discussão sobre ganância corporativa, crises existenciais e despertar espiritual. Parte do motivo pelo qual ele foi parado foi o celular, então nossa conversa foi adiada. Mais tarde, quando ele retornou a ligação, discutimos a polícia e seu papel nos sistemas de controle governamental que emergiram desde a ascensão do capitalismo, da religião e da tecnologia.

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Quando nos falamos, ele estava dirigindo de volta para Cleveland, do Texas, ou como ele gosta de dizer, estava “road chiefing” (“chefiando as estradas”). Mark conta que optou pelas 20 horas ou mais de carro para ir ao Austin Psych Fest, porque a viagem longa faz com que ele sonhe acordado e desligue um pouco.

“Ainda posso fazer coisas como escolher dirigir entre Cleveland e Texas, ida e volta, por nenhum motivo aparente”, disse. “É que, atualmente, ficamos no Facebook até dois minutos antes de chegar ao aeroporto, e depois já entramos de novo com o wi-fi aéreo. Não dá nem para fugir das coisas em que não quero pensar, mesmo quando não deveria estar pensando nelas. Dirigir é mais aventuroso, e consigo administrar melhor minha mente.”

McGuire, 27 anos, tornou-se músico no trio de drone eletrônico Emeralds, uma banda de Cleveland que incluía ele, John Elliott e Steve Hauschildt. O movimento meditativo e contemplativo do trio ultrapassou a definição de drone rock e ganhou um culto fiel. Então, quando anunciaram abruptamente que Mark não fazia mais parte do trio, um ano atrás, foi meio que um choque - embora Mark descreva a separação como uma “progressão natural”, ele ficou surpreso com as reações quando a notícia se tornou pública.

“Ninguém sequer me perguntou se foi minha decisão ou algo assim. Simplesmente, correram para escrever ou fofocar sobre o caso”, disse ele sobre a vida após a dissolução do Emeralds. E acrescentou, “Eu tinha 18, 19 anos, ainda morávamos em Cleveland e não tínhamos mais muita esperança de fazer algo que fosse importante para nós… Partimos do nada para criar o que criamos. Mas nunca nem perguntaram qual era a história real. Acho que é uma ótima analogia para os Estados Unidos como um todo hoje. As pessoas não se importam com os fatos, com nada, exceto pelo que vêem em seu pequeno feed, para que possam cuspir e espalhar o veneno.”

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Críticas profundas ao capitalismo, à industrialização e à tecnologia formam o quadro de filosofias pessoais do Mark, e inundam sua música e o longo encarte do Along The Way com uma inocência pueril.

“[O disco] é a história de qualquer pessoa que cresce e de repente sente que a vida e tudo ao redor têm um significado bonito, verdadeiro, importante”, explica. “Você tem essa sensação - ainda que apenas por um segundo -, ela existe. O Along The Way canaliza essa sensação e tenta descobrir o que há por trás, o que existe mesmo lá fora.”

O disco soa muito como uma jornada ou um passeio por uma floresta úmida, reclusa. Os sintetizadores e instrumentos de noise constróem, de propósito, uma atmosfera que soa como a natureza, enquanto toques de bandolim e outros instrumentos de corda mais leves a contradizem em faixas pesadas, como “The War on Consciousness”. Mas da inocente tese sobre a descoberta da alegria e beleza no mundo, irrompe uma visão de mundo maior e mais vívida.

“A luz no fim do túnel mostra que há muito mais túneis e estradas à frente. Não há um átomo único, há o todo e tudo em harmonia”, disse.

Se isso parece meio doido para o leitor desavisado, é porque é mesmo. Mark estuda filosofia há um bom tempo já, lendo e absorvendo o trabalho de pensadores místicos como Manly P. Hall, Michael Tsarion e, claro, o psicólogo Carl Jung. Ele até remixou uma versão de “The Instinct”, uma música do novo álbum, com uma das palestras de Tsarion.

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“Comecei a estudar psicologia na Universidade de Cleveland, e logo em seguida, o Emeralds começou a fazer turnês, ficar fora o tempo todo, e simplesmente não rolou”, ele conta do seu interesse por esses ensinamentos. “São assuntos que eu curto por conta própria, sem aulas ou estudos com professores em sistemas ortodoxos. Esses três pensadores falam dos processos psíquicos por trás de tudo, na terceira dimensão, ilusória, através da qual enxergamos tudo ao nosso redor.”

Embora ele já tenha lançado dois álbuns solo e um punhado de singles, cassetes e compilações enquanto ainda trabalhava com a banda, o Along The Way é seu primeiro disco desde que saiu do Emeralds, e seu primeiro lançamento pelo famoso selo indie Dead Oceans. E apesar dessas correntes de debates filosóficos e psíquicos sempre estarem presentes, é agora que estão mais perto da superfície. Mas muita gente colocou o Mark McGuire no mesmo saco que o ressurgimento do New Age, sem parar para investigar o que ele próprio diz, de fato, sobre a arte que está criando.

Perguntei qual foi o pior rótulo que já deram à música dele, e ele recuou diante da minha negatividade. A questão foi inspirada por uma matéria do New York Times que insere o Mark no atacado do nü-New Age. Mesmo crescendo em Portland, Oregon, o verdadeiro berço do New Age, e sendo frequentemente atraída pelo estilo, não importa o quão cafona, sinto-me frustrada por ver o McGuire rotulado assim. Discordar da sociedade capitalista e achar que os Estados Unidos se tornaram uma nação horrenda, movida a ganância, não faz de alguém New Age. O fato de respeitar pra caralho o lindo planeta que habitamos não precisa ser rebaixado a um rótulo irrelevante e antiquado.

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“Desde então, tudo que ouço falarem sobre meu trabalho é que é ‘música New Age’ - e é engraçado, porque não ligo para esse tipo de coisa”, disse. “O Mike, que escreveu o artigo, é um cara muito legal, e conversamos por umas três horas, mas ele usou só meia frase do que eu falei. É um cara bacana e isso não tem nada a ver com ele - é algo além. O que estou dizendo é muito, muito mais importante para mim do que o texto que você vai editar e publicar.”

As preocupações e críticas do Mark ecoam na minha cabeça enquanto monto e edito este perfil, e tento condensar seus vastos pontos de vista e histórias numa narrativa coerente. À medida que transmito a ele minhas próprias preocupações sobre uma cultura editorial que premia as coisas baratas que chamam a maior atenção, me pergunto se existe mesmo uma maneira de fazer jus a algo que, deliberadamente, não faz parte dessa cultura.

“Nem percebemos mais que vivemos em meio a uma cultura horrenda, nojenta”, ele elabora. “Olhamos à nossa volta e as pessoas sequer tentam se proteger. Não percebemos que vivemos em um mundo muito doente. As pessoas querem a grande ilusão que está na frente delas. Não querem músicas profundas ou algo que realmente as toque. Se pegarem minha música e jogarem no corredor número quatro do Wal-Mart, não vai fazer nenhum sentido, e vai provocar reações estranhas. No entanto, se tocarem num lugar diferente, as pessoas vão começar a se sentir muito bem. Esse tipo de coisa é muito situacional e contextual.”

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No começo da conversa, o Mark descreveu como foi tocar na beira de um rio, no Austin Psych Fest, e parece que é o cenário ideal para sua música. Definitivamente, é uma arte que tenta direcionar as pessoas de volta à comunhão com a natureza, e isso não é algo que vende bem num Wal-Mart mesmo. Amanhã, Mark subirá nos palcos do Parque Red Hook, em Nova York, para um show de graça no festival Summerstage. As luzes do horizonte de Manhattan e da Estátua da Liberdade, acompanhadas pelo som de ondas batendo no cais Valentino, formam o cenário ideal para ouvir a música dele. Em algumas apresentações, Mark mixa palestras de Manly P. Hall com sua música. Aqui, o músico cita os princípios de Hall que são importantes para ele.

“Tratar amigos, vizinhos, irmãos e irmãs com respeito. E não só pessoas. Talvez seja uma lição mais importante ainda quando não se trata de pessoas. Apenas caminhe com cuidado sobre todas as coisas vivas, lindas, que estão ao nosso redor o tempo todo. Tudo faz parte de uma só flor emergente de um padrão de vida do qual todos fazemos parte.”

Quer saber? Deixa pra lá. Se isto é New Age, então estou dentro.

Caitlin White é uma pétala solitária da flor emergente do padrão de vida, ou algo assim. Ela está no Twitter - @harmonicait

Tradução: Stephanie Fernandes