Um dia de Katarina na final do MSI 2017

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Um dia de Katarina na final do MSI 2017

Cosplayer argentina busca redenção em campeonato no Brasil depois de sofrer assédio na sua cidade natal.

Assim que os portões do MSI 2017 abriram no último domingo (18), Leila Capasso veio na correria até a área de "Cospitalidade", um camarim coletivo onde os cosplayers poderiam se trocar. A pressa tinha um bom motivo: nas próximas duas horas, ela estaria ocupada colocando roupa, lentes de contato, passando maquiagem e muito laquê na peruca até se transformar em Katarina, uma das campeãs de League of Legends.

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Em campeonatos presenciais de Lolzinho, a presença de cosplayers é comum e até incentivada pela Riot Games, tanto que quem fica caracterizado como os campeões do MOBA não precisam pagar para entrar. Além disso, no Brasil, a empresa coordena uma comunidade oficial de cosplayers com mais de quatro mil membros e alguns, mais profissionais, chegam a ser contratados para apresentações ou para interagir com o público.

Leila não faz parte da comunidade local. A personal trainer de 21 anos é uma hermana vinda da cidade argentina de Mar del Plata. Ela viajou para a Cidade Maravilhosa com a mala cheia de acessórios e peças de roupa para poder acompanhar, pela primeira vez, um torneio presencial do MOBA e, de quebra, ainda fazer o que mais curte. "Cosplay é minha vida, é minha desconstrução e onde relaxo… às vezes", disse, rindo em espanhol.

Por ter sido o maior torneio de LoL realizado em terras brasileiras, o Mid-Season Invitational foi também a maior ação realizada pela Riot no país com cosplayers. Só no dia da final, foram cerca de 150 pessoas que estavam de Lux, Yasuo, Lee Sin e outros campeões.

Duas horas depois de entrar, Leila, já como Katarina, saiu do camarim. Antes de começar a dar um rolê pelo evento, ela tinha uma missão importante: "Preciso me encontrar com meu amigo", dizia enquanto seguia em direção ao portão de entrada, só que não demorou nem um minuto pros primeiros pedidos de fotos acontecerem.

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"Olha a Katarina!", "Putz, essa Katarina tá muito foda!", era o que os fãs diziam o tempo todo. Mesmo não tendo destaque na cena competitiva, a personagem assassina está em LoL desde quando o jogo estreou em 2009, e por isso ela é tão famosa entre os fãs e cosplayers.

Todos queriam uma foto com Katarina. Quando conseguia dar alguns passos, ela logo era abordada por três ou quatro pessoas em sequência. Em todas as fotos, a cosplayer fazia uma carona meio arrogante e de poucos amigos — não por não querer posar pras fotos, mas porque a atitude refletia a personalidade da campeã. "O cosplayer de verdade, quando está caracterizado, ele é o personagem. Eu não sou Leila, eu sou Katarina."

Interagir com o público de acordo com a personalidade do personagem tem o objetivo de criar uma atmosfera bem similar à famosa "Experiência Disney", por remeter a como os Mickeys, Patetas e princesas dos parques da Disney nunca quebram a magia de sair do personagem.

Também por causa disso, quando um cosplayer de Garen veio na direção de Katarina, a primeira reação dela foi ficar em posição de combate, empunhando suas lâminas assassinas, já que, na mitologia de LoL, os dois personagens são rivais nos campos de batalha.

Quase uma hora e cerca de 70 fotos com o público depois, Leila finalmente encontrou o amigo que havia saído para procurar. Foi ele, inclusive, um dos responsáveis por mostrar League of Legends para Leila e a incentivá-la a fazer cosplay de Katarina. "A gente brincava por elas serem parecidas, chamávamos ela de Kata, até que ela abraçou a ideia, mesmo não jogando de Katarina", disse o amigo.

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Leila já é cosplayer de longa data e pratica o hobby desde os 17 anos, mas só em 2016 começou a fazer cosplay de LoLzinho e, por enquanto, só de Katarina. A hermana também é cosmaker, o que quer dizer que ela mesmo produziu a fantasia, que originalmente era para um concurso da Copa Latinoamérica Sul, a CLS, liga de LoL que reúne times do Chile e Argentina. Ela não ganhou o concurso, mas gostou do resultado e incorpora A Lâmina Sinistra desde então.

No total, a Katarina custou cerca de 4 mil pesos argentinos (uns R$ 800) em peças de roupa, peruca, lentes e acessórios. No futuro, ela pretende fazer cosplay também da Sona com skin de DJ, sua campeã favorita.

Por volta das 15h, Leila parou as fotos e deu no pé. Ela e o amigo correram pras arquibancadas. O jogo entre SKT e G2 estava iniciando e Leila, mais do que tudo, estava ali para assistir aos coreanos jogarem. "Eu vim pra cá com a prioridade de ver a SKT e depois de ter a oportunidade de fazer cosplay", explicou. Como joga na posição de suporte, ela vibrou quando Lee "Wolf" Jae-wan foi anunciado no palco da final. O pro player do time coreano é o jogador preferido dela.

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Nos intervalos de cada jogo, mais e mais fotos, que já passavam de 100 desde o início do evento, o que fazia também com que a nossa entrevista fosse interrompida constantemente.

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Perguntei o que ela achava do público brasileiro e se sofria de assédio quando estava montada de Katarina.

Antes mesmo de responder ela foi abordada pra tirar fotos.

"As pessoas aqui…". Pausa pra mais fotos.

"As pessoas aqui são muito respeitosas, muito 'buena onda' e os…". Outra pausa, agora para uma selfie.

"… E os cosplayers aqui são muito bonitos de se ver". Depois disso, mais pedidos para fotografias. Três, cinco, dez, uma atrás da outra. As fotos já passavam de 130.

De fato, durante todo o evento, ela não passou por nenhum momento constrangedor ou de abuso, verbal ou físico, apesar de alguns olhares sexualmente agressivos direcionados a ela acontecerem entre uma foto e outra.

Mas nesses quatro anos em que faz cosplay, Leila já passou, sim, por situações delicadas, mas nada muito grave. "Quando acontece eu logo me afasto da pessoa e ela mesmo se acanha, algumas pedem desculpas", falou.

Já um momento mais sério, de descriminação, aconteceu quando ela participava de uma convenção em sua cidade, Mar del Plata. "Estava de Jessica Rabbit e pararam a minha performance durante um desfile porque disseram que meu cosplay era vulgar e me falaram muitas coisas horríveis", relembrou. "Depois disso demorou muito para que eu voltasse a fazer cosplay."

A volta se deu justamente com a Katarina de League of Legends, e a campeã a inspirou por ser uma figura feminina com personalidade forte e determinada. "Ela é muito segura de si, por isso gosto dela", comentou.

Já passavam das 20h e Leila estava bem cansada quando finalmente voltou pra área de Cospitalidade para desmontar a fantasia. No total, havia tirado 210 fotos durante as seis horas em que esteve perambulando pelo evento, sem ir ao banheiro ou tomado água. Porém, se em League of Legends Katarina é uma personagem arrogante e por vezes raivosa, a Katarina que estava na final do MSI 2017 era só sorrisos após ter visto a SKT campeã.

Sem a roupa preta, lentes e acessórios de Katarina, ela voltou a ser Leila Capasso por completo e foi para a Argentina sabendo que fez parte de algo bem especial. "Foi uma experiência que me deixou muito feliz, por estar em um evento, assim, tão grande. O ambiente é bom e os outros cosplayers são muito amáveis."