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Tecnologia

​Vida Longa ao Internet Explorer

Cool ele não é, mas é e sempre será importante.

O Internet Explorer como nós os conhecemos está morto. A Microsoft está enterrando o nome do seu mais popular navegador na história da computação em detrimento de um novo programa chamado Spartan. Vá em frente e faça suas piadinhas, boceje se quiser, então tome uma dose, porque isso é meio que importante.

Ria do que foi a inchada, lenta e insegura versão lixosa do Internet Explorer 6 em seus últimos dias, a versão que no final das contas tornou o navegador sinônimo de veneno entre nerds. Tanto assim que em uma campanha publicitária recente, a Microsoft prometeu fazer com que o Internet Explorer fosse "menos pior". Mas saiba que nem sempre foi assim.

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Antes do IE havia o Spyglass Enhanced Mosaic, um navegador criado por um pequeno grupo de pesquisadores da Universidade de Illinois. A Spyglass então licenciou o Mosaic para a Microsoft por 2 milhões de dólares, que então o renomeou como Internet Explorer, usando-o (e sua inclusão no Windows 95) para levar o Netscape ao esquecimento.

No Windows 95 você não buscava arquivos ou saía clicando no seu computador atrás deles. Ao invés disso, você "explorava" seu sistema de arquivos com o Windows Explorer. Então quando a Microsoft finalmente passou a embutir um navegador no Windows em 31 de novembro de 1995, naturalmente você "explorava" a internet também.

"Fico surpreso que o nome tenha durado tanto tempo", disse-me Eric Sink, chefe de projetos da equipe responsável pelo Spyglass. "O nome original tinha tudo a ver com o Windows 95, porque tudo nele tinha algo de 'explorer'. Com todo o drama desde então, é loucura que o nome ainda seja usado. De muitas forma sinto como o IE não estivesse em seu ponto mais baixo. Com certeza já passou por coisa pior no passado".

Logo vamos falar disso, mas antes vamos lembrar de como o Internet Explorer já foi rei um dia. Por bem ou não, o IE mudou fundamentalmente o funcionamento da internet no começo dos anos 90 e começo dos 2000. Como o IE simplesmente destruiu o Netscape em termos de fatia de mercado, a Microsoft não teve que se ajustar a diversos padrões da internet, pelo contrário, foi improvisando no decorrer do tempo. Sites tinham que ser criados e recriados para certificar que funcionariam com as particularidades do Internet Explorer.

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"A Microsoft ficou com o pé no acelerador da equipe do navegador até que tivessem ganho, só então se acalmaram. Não há duvida que se acomodaram com o sucesso após a derrota do Netscape", disse Sink. "A Microsoft deixou de importar com qualquer outra plataforma para o seu navegador que não fosse o Windows, e quando o domínio deste começou a esvair, navegadores que antes funcionavam apenas nele também começaram a perder terreno. Firefox e Chrome ganharam popularidade no Mac e simplesmente eram navegadores melhores".

Se a fatia de mercado original do Internet Explorer havia sido conquistada ou forçada sobre os usuários era o âmago do processo ação antitruste contra a Microsoft, que tomava as manchetes ao final dos anos 90. O governo dos EUA afirmava que a Microsoft usava o domínio de seu sistema operacional para assegurar seu domínio sobre os navegadores.

"Já parece esquisito falar disso no passado"

A Microsoft argumentou que o sistema operacional e o navegador fazem parte do mesmo ecossistema, que o navegador não necessariamente era um produto separado, que é e pode ser uma extensão do sistema operacional. Pelos padrões de hoje, o que a Microsoft fazia na época parece quase inofensivo e inovador; o processo parece limitado e talvez até mesmo destrutivo.

"A Microsoft estava à frente de seu tempo ao tentar unir dois diferentes aspectos da experiência de computação", disse Andrew Russell, historiador da internet no Stevens Institute of Technology e autor de Open Standards and the Digital Age. "De acordo com a empresa a internet e a informática são dinâmicas, mudam rapidamente, e logo o navegador seria a interface principal entre o usuário e qualquer coisa na rede. A Microsoft estava dizendo que você não tem como definir o sistema operacional e o navegador como dois mercados diferentes, porque eles tratavam como uma coisa só".

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Que poético que Google e o Chrome, navegador que pregou os últimos 50 pregos no caixão do Internet Explorer, estejam fazendo algo suspeitamente semelhante ao que a Microsoft tentava com o IE há quase 20 anos atrás. E que irônico que, sem dúvidas, muitas pessoas tenham mudado para o Chrome porque suas vidas estavam extremamente ligadas ao ecossistema do Google.

Por que não usar um navegador do Google quando você já usa a busca do Google, e o Google Docs, e o Gchat, e o Google Reader e o Gmail? O ecossistema criado pelo Google é parecidíssimo com aquilo que a Microsoft tentou dizer que fazia durante os procedimentos do antitruste.

Não é só o Google, claro. Se você tem um Mac, é muito mais fácil mandar tudo pras cucuias, comprar um iPhone e um iPad e um Apple Watch para combinar com sua Apple TV e CarPlay do que descobrir como fazer uma porcaria de um Zune (RIP) sincronizar com o iTunes.

"O que o Google e a Apple conseguiram fazer é exatamente aquilo que a Microsoft tentou", disse Russell. "Cada vez mais você vê consumidores presos aos serviços e marcas que escolhem. Com coisas como a nuvem, você tem que escolher uma empresa e confiar nela, e é isso".

Isso é verdade, claro, para aqueles que ainda assim escolheram a Microsoft. Você pode ter um Windows Phone, um Surface e tabelas no Office Online. Mas seria visto com maus olhos por quem manja como ruim de internet/tecnologia, ou visto como pai ou mãe de alguém, se ainda usasse o Internet Explorer, apesar de ele já não ser terrível.

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E é por isso que o IE precisa morrer.

"Não acho que o nome do navegador seja algo venenoso, exceto entre nerds como eu e acho que eles estão deixando-o porque alguém na Microsoft decidiu que queria ser cool de novo", disse Sink. "Quando se tem uma marca venenosa entre desenvolvedores e nerds, isso não é algo cool."

Cool não é, mas é e sempre será importante.

"O IE era mesmo o mandachuva na época em que as pessoas usavam seus navegadores para acessar a internet. Com aplicativos e um ecossistema fraturado, já não é mais assim", disse Russel. "É incrível pensar no quanto ele durou. Já parece esquisito falar disso no passado."

Tradução: Thiago "Índio" Silva