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Fotos

Uma Entrevista Com Felipe Oliveira

O Felipe Oliveira fala sobre sua colaboração pra nossa Edição de Foto 2010: Natureza-Morta da VICE

O Felipe Oliveira me garantiu que aqueles cabelinhos no bucinho daquela criaturinha tão fofinha da foto que ele mandou para a nossa Edição de Foto 2010: Natureza-Morta não são pentelhos. Acho que dá pra acreditar, já que ele também foi sincero o bastante pra me lembrar que o seu eu lírico é xará de uma marca de cuecas de toda a sorte masculina,  abriu o coração sobre como foi mal tratado pelo mercado publicitário, contou da influência da música nos seus trabalhos de design – seu carro chefe – e assumiu que todas essas frescuras fotográficas que fazem todo mundo conseguir imagens iguais não são muito a sua (rá-rá, Lomotários). Isso tudo numa conversa pelo telefone. Viu só, nem todo gaúcho é desconfiado.

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VICE: Cara, eu dei um Google no seu nome pra ver um pouco mais do seu trabalho e fui parar no site de um fotógrafo baiano com o mesmo nome. Acho que Felipe Oliveira é comum demais. Já pensou em ter um nome artístico?
Felipe Oliveira: Pois é. Foda esse lance de criar um nome artístico com tanto artista por aí… Tenho um que às vezes uso, Catsoul, porque eu meio que acredito ter um tipo de comunicação telepática com os gatos e também sou simpatizante do modo de vida deles. Mas aí tem uma coisa engraçada, porque descobri que Catsoul também é o nome de uma marca de roupas íntimas masculinas.

Porra, mas aí fica difícil. Ou eu acho outro fotógrafo ou uma marca de cuecas?
[Risos] Pois é…

Mas depois dei uma olhada no seu flickr verdadeiro e vi uns estudos de forma, símbolos e até tipologia. Você é, oficialmente, um designer então?
É. Eu comecei na música, era baterista de uma banda. Era eu quem sempre fazia os cartazes de shows e tal, então comecei a seguir por esse caminho do design meio que me inspirando no que eu gostava do mundo da música. Tanto que até de influências eu não sei muito citar fotógrafos, mas sim o que eu gosto desse ou daquele clipe, tipo os do Sonic Youth e do Flaming Lips.

Mas é designer mesmo ou aquele publicitário com vergonha de assumir?
Na verdade eu fiz o curso de publicidade, mas como sempre curti o lance das imagens acabei desenvolvendo a parada do design. No começo até achei que rolaria de trabalhar em agência e tal, mas pra entrar no esquema o cara meio que tem que tirar grana do próprio bolso. As agências, tipo, só pagavam vale transporte e refeição, mais uma ajuda de custos. Não sei como está hoje, mas preferi trabalhar em outra coisa e tocar meus projetos por conta própria.

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E quando a fotografia apareceu na sua vida? Quando começou a fotografar?
A fotografia nunca ocupou um espaço muito significativo dentro das coisas que eu faço. Da infância, lembro de uma máquina Olympus Trip 35 de um tio meu, mas não lembro de nada genial desta época. Depois com as bandas comecei a me interessar novamente e com os trabalhos de design gráfico as fotos começaram a servir como material de apoio, inspiração, texturas, sujeiras…

Mas, por exemplo, seu pai deve ter uma furadeira em casa. Por que nunca pensou em ser carpinteiro? Por que a fotografia te interessou?
Acho que pelo fato de eu não conhecer meu pai até hoje e minha mãe não ter muito a manha da carpintaria mesmo.

Ah, tá… Mas quando você começou, tirava fotos de quê?
Dos meus gatos.

Que equipamento usava?
Comecei a fazer algumas coleções de fotos há uns quatro ou cinco anos, sempre com a mesma máquina, uma Cybershot W55. Hoje ela está com uma fita segurando o botão de disparo, às vezes o flash enlouquece e trabalha por conta própria, mas eu não sei se consigo substituir ela. O zoom não rola mais também… Mesmo porque vejo um monte de gente comprando essas máquinas antigas, tipo Lomo, pra dar uns efeitos que na verdade aconteciam porque eram meio que erros da própria máquina ou da hora de revelar… Aí o pessoal fica tentano imitar uns estilos que eram de outra época e tirando tudo foto igual.

Tipo gente que compra Polaroid e acha que tá mandando bem só porque tirou foto de hipster bêbado na balada.
Isso aí.

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E hoje, o que te inspira?
A música, as coisas que vejo na rua, o lixo é inspirador também, coisas envelhecidas. A distorção sempre me atraiu bastante; distorção e sujeira. Tenho uma apego muito grande em registrar letreiros desgastados, fragmentos de cartazes, placas e principalmente aquelas lixeiras tipo “tele-entulho”. Tenho coleções delas de diferentes cores, empresas e partes do país. O último registro foi em Recife. Tirei uma tarde só para as lixeiras. Eu tento dar importância a coisas que podem não ser úteis, mas que para mim despertam algo, um sentimento, uma carga histórica, coisas que queria carregar junto comigo e compartilhar com os outros.

E sobre essa foto que você mandou pra nós e foi escolhida. Conta a história dela: de quem é a pelúcia, onde foi tirada, quando…
Essa foto é de 2007 e faz parte de uma coleção de brinquedos de infância da minha namorada. São bichos de pelúcia que hoje se encontram meio desgastados pelo tempo, mas que carregam muito significado. A foto foi tirada em casa, sem nenhuma produção ou composição mega, com uma Cybershot mesmo. Tanto que o bicho tem uma cara completamente diferente na realidade. Na foto parece que ele tem uma cabeça meio redonda, mas acho que foi o enquadramento.

E cara, são pentelhos aquilo na boca do bichinho?
[Risos] Não, não… Não tinha me ligado desse detalhe, vou ter mais atenção da próxima vez.

Foi a primeira vez que uma foto sua foi publicada em uma revista?
Foi, e foi uma surpresa. Nunca tinha mandado minhas fotos para uma revista. Fora eu, ninguém tinha dado importância pra elas até então…Mandei as fotos e deixei rolar. Gosto muito do papel que a Vice imprime a revista, é tipo o papel do encarte do Washing Machine do Sonic Youth.

Voltando: você disse que mandou mais fotos além dessa selecionada? A escolhida era a sua favorita?
Eu mandei mais de uma. Tinha umas que tirei de uns amigos, uma delas eu gostava bastante, até mais que essa do bichinho, mas vocês escolheram essa.

Seus amigos já estão mortos?
Não… Acho que eles ainda estão vivos.

Então.