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Palavras, Fotos e a Estética Capitalista

Rohan Schwartz mantém um projeto low-fi no Instagram que tenta descontextualizar a linguagem.

O artista de técnicas mistas Rohan Schwartz já trabalhou com praticamente tudo. No processo, seu trabalho foi celebrado e exibido em partes do globo onde eu não saberia usar a privada.

Seu novo empreendimento é um despretensioso projeto low-fi em andamento no Instagram que tenta descontextualizar a linguagem. Ele fotografa pedaços de linguagem que nos bombardeiam inadvertidamente todos os dias. Tirando essas palavras de qualquer contexto familiar – artístico ou linguístico –, ele revela seu papel estranho num mundo inundado de propaganda.

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O resultado é ousado, confuso e se destaca estranhamento no Instagram – justaposto com as imagens de #piscina #minimalista #verão #cafédamanhã #festival que formam 95% das postagens na rede social.

VICE: Você tem uma origem artística em técnicas mistas. Como isso influencia sua fotografia?
Rohan Schwartz: Geralmente, percebo que meios diferentes têm funções e limitações diferentes. Acho que isso tem mais a ver com se adaptar ao meio e encontrar uma nova maneira de me articular.

Acho que do que realmente gosto na fotografia é o imediatismo e o modo como os erros acontecem.

Você publica seus erros, ou sente que há menos consequências com a fotografia do que nos outros meios?
Tudo que publico é falho em sua natureza. O Instagram pode ser muito limitado e problemático: dados se desfazem muito rapidamente quando você está postando qualquer coisa fotografada com um celular. Mas isso é algo que aprecio, e meio que deixo isso me levar.

Há pouca consequência e custo na fotografia com celular. Não ter nada a perder pode ser muito libertador.
Acho que, sendo parte dessa plataforma, sua imagem se torna parte desse mesmo patamar de imagens. Isso é muito inconsequente e sem sentido de um jeito belo: você estar acrescentando algo mais a um oceano infinito de material.

Se você se afasta um pouco, pensa sobre todo o conteúdo que as pessoas colocam no Instagram e suas motivações, o absurdo disso se torna aparente muito rapidamente.

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As pessoas são estranhas, e é legal ser parte disso.

Sua fotografia com certeza tem uma natureza absurdista. Estética é algo que você evita conscientemente?
Não acho que seja possível evitar uma estética, mesmo se você não está disposto a participar.

Talvez passivo seja uma palavra melhor. Você usa o que sua câmera te dá e não força nada.
Adoro limitações, sinto falta das câmeras que vinham nos Nokias antigos. Mas, mesmo com essas, há informação em muitos níveis. E fica por sua conta arranjar isso e tirar algum significado.

Acho que a principal narrativa das suas fotos é informação. Seu trabalho lembra que estamos sendo constantemente bombardeados por linguagem. É nisso que você pensa?
Algumas vezes, sonho com como seria a vida sem linguagem.

Isso deve nos influenciar de uma maneira que nem compreendemos; não é nem uma segunda natureza, é da sua primeira natureza ler algo que é colocado na sua frente.
Há camadas infinitas e maneiras infinitas de se interpretar tudo que vemos, dependendo da própria experiência de vida até este ponto.

E, por baixo de todas essas camadas, você pode ver o brilho da estética capitalista, que é uma consequência não intencional feliz.

Quero mediar essa conscientização subconsciente de que você só está vivo por um curto período. Sem ser muito perverso sobre isso, nossa vida neste planeta é simplesmente absurda, o que torna a documentação constante no Instagram ainda mais absurda.

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E, da mesma maneira como tudo no Instagram, ela está em condição de igualdade. Tudo está na mesma condição de igualdade sob uma perspectiva absurdista. Tipo, por que a vida é considerada tão preciosa quando a morte é inevitável, etc.
Acho que a internet pode nos dar uma ilusão de infinito também, já que as marcas que deixamos nela podem durar para sempre.

Então, acho que seu trabalho é uma leve ruptura.
Só fico feliz em contribuir com essa grande sopa primordial de documentação constante. E, no melhor dos casos, posso fazer as pessoas terem pensamentos reflexivos – se elas puderem.

Entrevista por Ben Thomson. Siga-o no Instagram.

Tradução: Marina Schnoor