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Games

A incrível saga por trás da criação de 'Galaxy of Pen & Paper'

Novo jogo de um dos mais importantes estúdios brasileiros é lançado hoje para PC e mobile.
Imagem: Behold/Divulgação

Em 2012, uma ainda pouca conhecida Behold Studios lançou Knights of Pen & Paper, um despretensioso game mobile, mas com uma ideia bem da hora: controlar personagens que estão em uma partida de RPG raiz, daqueles de preencher ficha e um mestre narrando a aventura. Deu tão certo que alavancou o estúdio de Brasília a ser reconhecido até fora do Brasil.

Nesta quinta-feira (27), quase cinco anos depois, eles retornam pra série que os consagraram com Galaxy of Pen & Paper, o que pegou a gente de surpresa. Afinal, nesse meio tempo, a marca Pen & Paper passou pra produtora Paradox, que inclusive lançou uma continuação de Knights of Pen & Paper sem o envolvimento da Behold. Os devs brasileiros também estavam mais que ocupados com o seu simulador de Super Sentai, Chroma Squad.

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Para saber mais como foi esse rolê de volta às origens, batemos um papo com algumas das pessoas envolvidas na criação de Galaxy of Pen & Paper, que contaram curiosidades de um dos maiores lançamentos de games brasileiros neste ano.

Equipe da Behold na sua casa em Brasília. Imagem: Behold/Divulgação

Galaxy é um "sucessor espiritual" de Knights, mas começou como uma sequência

Saulo Camarotti, produtor do jogo na Behold, diz que o projeto inicial que se tornaria o jogo final começou em uma conversa com a Paradox para eles fazerem Knight of Pen & Paper 2, mas o que os brasileiros queriam não estava batendo muito com a ideia da produtora.

"A gente queria criar um novo jogo, do zero, e eles estavam interessados em uma continuação que basicamente só corrigisse os erros do primeiro e lançasse de uma forma melhor", afirmou o desenvolvedor. "A gente estava com umas ideias mais mirabolantes, daí surgiu o Galaxy."

A Paradox passou Knights of Pen & Paper 2 pra Kyy Games e a continuação foi lançada em 2015, enquanto Galaxy of Pen & Paper era produzido paralelamente.

Outro estúdio brasileiro começou o desenvolvimento do game

A produção do Galaxy of Pen & Paper começou em 2014, só que, na época, a equipe da Behold já estava bem ocupada com Chroma Squad. Por isso, os primeiros meses de desenvolvimento ficaram nas mãos da agora extinta Otus studios, com a Behold supervisionando.

O game designer Klos Cunha foi um dos primeiros "pais" do Galaxy, por ser líder do projeto nesse início. "A maioria do time da Otus já tinha jogado Knights of Pen & Paper e, por sermos jogadores de RPG de mesa e JRPGs, [entrar no projeto] foi uma excelente oportunidade", contou.

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O objetivo deles era criar um jogo com a cara da Behold e expandir o conceito apresentado no primeiro game. "Hoje até parece simples, mas o maior desafio foi traduzir o combate clássico do Knights, com a perspectiva de trás dos personagens, para um combate lateral", contou Klos. "A imagem do mestre sentado à mesa é a assinatura do Pen & Paper, a figura era muito forte para ser ignorada, ao mesmo tempo o combate lateral permitiu um novo nível de estratégia, como uma nova formação de combate e alcance das habilidades."

A Behold só assumiu mesmo o desenvolvimento depois que o time lançou Chroma Squad, quase um ano depois que a Otus havia iniciado o projeto. Com isso, a Otus se dissolveu e parte da equipe acabou entrando na Behold para continuar no desenvolvimento.

Equipe original da Otus. Imagem: Divulgação

A indie house de Brasília foi formada por causa de Galaxy of Pen & Paper

Em 2015 a Behold formou uma "indie house" em Brasília, uma casa onde desenvolvedores podiam morar e trabalhar juntos, uma ideia que é comum em países como EUA e Canadá. O local se tornou uma referência pra cena de jogos indies da região, com a realização de game jams e encontros entre desenvolvedores.

Porém, ela só existiu por causa de Galaxy of Pen & Paper. A Otus era um estúdio do Rio Grande do Sul e os devs tiveram que passar a morar em Brasília pra trabalhar no Galaxy e ficar mais perto da Behold. "Foi assim que começou a história da indie house", explicou Saulo Camarrotti.

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A Paradox resolveu sair do projeto com o jogo quase pronto

A produtora Paradox estava em parceira com a Behold para lançar Galaxy, mas isso durou até novembro de 2016, quando a Publisher resolveu que não valia mais a pena dar grana pro projeto.

Foi então que a Behold teve que decidir se iria deixar o jogo de lado ou tocar o barco por ela mesma. "A gente já tava há dois anos fazendo o game e jogar isso no lixo iria ser muito frustrante", contou Saulo Camarotti. A Behold sabia que estava com um game muito bom nas mãos e não queria perder a oportunidade. "Analisamos as nossas finanças e assumimos o projeto inteiro."

Para não rolar treta, como aconteceu com Chroma Squad e a Saban, o estúdio fez um acordo com a Paradox para poder lançar Galaxy of Pen & Paper de forma totalmente independente. A publisher ainda continua sendo a dona da marca Pen & Paper, só que a Behold agora possui uma licença pra usar e criar esse e outros jogos da série durante alguns anos.

A saída da Paradox, no final, acabou sendo positiva. Com o controle criativo só da Behold, eles cortaram alguns aspectos que não estavam achando tão legais, como um modelo de microtransações que haveria dentro do jogo. "A gente tirou isso porque não queria que o jogador pagasse pelo jogo e ainda gastasse mais dentro dele", falou Saulo.

Hoje o jogador só vai gastar grana comprando o jogo em si e nada mais.

'Galaxy of Pen & Paper'. Imagem: Behold/Divulgação

Galaxy of Pen & Paper é o maior jogo feito pela Behold até agora

Chroma Squad já era um jogo bem ambicioso da Behold, mas nem chega perto do que eles estão lançando agora. "O Galaxy é bem maior que o Chroma Squad, mas assim, MUITO maior", falou Saulo.

Pra exemplificar, ele diz que o roteiro de Chroma Squad possui 20 mil palavras. Já Galaxy tem mais de 91 mil. "São muitos diálogos e side quests, tem muito conteúdo."

Muitas ideias também ficaram de fora do jogo final e Saulo dá a dica de que elas serão utilizadas pra conteúdos de expansão pro game, que podem chegar no ano que vem. "Vai depender do resultado do jogo agora e de como o público vai receber o game."

Galaxy of Pen & Paper está disponível para PC (Steam) e mobile (iOS e Android). Versão pra consoles? Está nos planos, mas nada confirmado até agora.

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