FYI.

This story is over 5 years old.

Motherboard

Uma conversa com o diretor do novo Sci-Fi da Pamela Anderson

O filme "Connected", de Luke Gilford, força o público a lidar com a solidão na era moderna. É um novo amanhecer para a tecnologia, para o humanismo e para a ex-atriz de "Baywatch".

Foto: Tucker Tripp. Imagens fornecidas pelos artistas

Este artigo contém revelações do enredo de Connected, filme de ficção científica lançado semana passada na página da Motherboard. Assista ao filme aqui antes de continuar lendo.

Semana passada o Motherboard lançou Connected, curta metragem exclusivo de ficção científica dirigido pelo célebre fotógrafo de moda Luke Gilford. O filme, que se passa em um futuro próximo, é estrelado por Pamela Anderson, que interpreta uma instrutora de “AuraCycle” (um tipo de spinning) que, com a chegada da maturidade, luta para manter sua saúde física e mental.

Publicidade

Em entrevista exclusiva ao The Creators Project, Gilford fala sobre a produção de Connected e suas perspectivas para o futuro. Leia abaixo suas previsões e confira algumas das imagens etéreas dos bastidores do filme.

Foto:Tucker Tripp

The Creators Project: Como você gostaria que o público reagisse às ideias abordadas em Connected?

Luke Gilford: O filme é um curta-metragem, então a ideia é bem condensada. Passamos muito tempo explorando a fundo essas ideias e chegamos a considerá-las para um longa-metragem. O tema é muito vasto, mas a ideia é mostrar como a humanidade e a tecnologia estão se fundindo de maneiras muito interessantes. Espero que, apesar de ser um curta-metragem, as pessoas possam começar a pensar sobre algumas dessas ideias, sobre o que estamos fazendo com as redes sociais. Não se trata de um aviso, o filme é propositalmente ambivalente, porque eu mesmo sou ambivalente em relação a muitas dessas coisas. Faço parte dessa geração que está entre pessoas que são um pouco mais velhas que eu, e que têm muito medo da tecnologia, e pessoas um pouco mais novas que eu, e que estão completamente de acordo com isso tudoe nem pensam ou têm muitas reservas sobre o assunto. Acho que a minha geração tem uma relação interessante com a tecnologia que é um pouco ambígua. Vejo muitos dos aspectos interessantes da tecnologia e como estamos lidando com isso. As ideias de trans-humanismo são muito interessantes para mim.

Publicidade

Foto: Tucker Tripp

O que é o trans-humanismo para você?

O transgênero é aquele que transcende o gênero e faz a transição para seu gênero. No trans-humanismo, se transcende o humanismo e a humanidade para a tecnologia. É como o humano que vai se transformando em ciborgue. Tenho muito interesse nisso e me parece que esse é o nosso futuro próximo. Esse filme é sobre um futuro próximo, não é um filme de ficção científica. Costumo dizer às pessoas que esse filme fala sobre um futuro a cinco minutos do presente, e isso é algo no qual trabalhei muito para que as pessoas sentissem como algo palpável — que isso é agora.

Foto: Tucker Tripp

Por exemplo, originalmente a aula de SoulCycle era uma aula de verdade, com pessoas na sala e tudo, mas no último minuto decidi mudar para Peloton Cycle, que é uma outra marca que oferece esse tipo de atividade. Essa é a mais famosa que eu conheço, você basicamente compra a bicicleta e pode assistir a algumas aulas gravadas previamente, e tem toda uma interface de webcam. Achei muito interessante isso estar acontecendo agora, e que você pode estar na privacidade de sua própria casa e fazer uma aula de SoulCycle. Fiquei interessado na maneira com que sua personagem poderia ficar cada vez mais alienada. Ela não interage com pessoas reais, é sozinha a esse ponto. Só dá aulas através da tela do computador.

Foto: Tucker Tripp

Quando ela se conecta, no final, ela está sozinha? Ou está transcendendo a solidão?

Publicidade

É por isso que ela é tão desesperada por estar conectada‚ apesar de estar completamente em sua própria mente, ela está se conectando a uma rede. É como abrir uma conta no Facebook — você ainda está sozinho no computador, mas faz parte de uma rede de pessoas maior. Essa é a lógica, ela se sente conectada a essa rede maior, mas ainda está completamente sozinha. Essa é uma questão que trata sobre o uso de suas informações, onde ela vai com isso tudo e o que acontece depois que você se conecta.

Foto: Tucker Tripp

É interessante o fato de você mencionar diferentes gerações. Sinto isso comigo também, como se houvesse uma geração mais velha dentro de mim que tem medo da tecnologia, apesar de eu não conseguir dizer nada de essencialmente errado em relação a ela.

E é o que acontece com Jackie também. A tecnologia de fato se relaciona com as coisas que ela deseja. Acho que essa é sua função, a tecnologia existe para melhorar nossas vidas ou deixar as coisas mais fáceis. Fundamentalmente, ela é baseada na vida que já conhecemos, e é utilizada para tentar tornar as coisas mais fáceis e rápidas. Em termos de conexão, seu propósito é conectar pessoas que não se conhecem ou que têm interesses semelhantes. A princípio, tudo parece ótimo. Mas o que queríamos no filme era mostrar, além do lato positivo da tecnologia, esse lado um pouco assustador dela.

Foto: Tucker Tripp

Você mencionou antes que a Pamela Anderson foi de certa forma reinventada para esse filme. Como isso aconteceu?

Publicidade

Foi um processo. Já havia trabalhado antes com ideias de autopercepção, transformação e reinvenção, coisas assim. Era tudo meio conceitual, e com esse filme eu sabia que queria explorar alguns desses temas, mas de maneira mais narrativa. Sempre fui fascinado por sex symbols como Marilyn Monroe e Brigitte Bardot. Seus atrativos se concentram na superfície, e sempre me pergunto o que há além daquilo tudo. [Pamela Anderson] é o sex symbol da minha geração e ainda é um ícone dos Estados Unidos, em todo o mundo. Sempre tive curiosidade em relação a ela por causa de todo seu ativismo.

Foto: Tucker Tripp

Pensei, se ela tem tanta empatia por animais e outros seres vivos, isso pode fazer dela uma boa atriz. E nunca ninguém pensou nela como uma boa atriz — em Baywatch, Pamela me contou que diziam “finja que é real! Ação!” e, se a cena estava como foco certo, seguiam em frente. Ninguém estava ligando muito para as técnicas cinematográficas. Ela mesma conta que o que a salvava era o biquíni, era só ficar ali na praia, se divertindo, ganhando dinheiro e ter seus filhos. Mas depois que teve seus filhos, Pamela saiu de cena um pouco, cuidou de seus filhos sem babá e passou a se dedicar ao ativismo. Como a imprensa do mundo inteiro só escrevia sobre seus seios, Pamela escreveu uma carta ao PETA que dizia: “usem minha fama para levantar outras questões além dos meus peitos”. Ainda hoje ela é a porta-voz mais famosa deles. Isso sempre a tornou interessante pra mim. Quando nos conhecemos, eu vi um cuidado real, uma introspecção sobre sua vida, seu legado e a ideia de envelhecer. Quis trazer isso à tona e criar uma performance vulnerável que traçasse uma linha entre realidade e ficção.

Foto: Tucker Tripp

Clique aqui para assistir a Connected e acompanhe o trabalho de Luke Gilford em sua página.

Tradução: Flavio Taam