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Música

Vamos ao Serralves em Festa com: Stereoboy

E é já no próximo fim-de-semana, gente.

Stereoboy é o Luís Salgado, por definição, e o Luís Salgado, a Íris Rebelo e o Joãozinho, por necessidade, destino e contexto. Talvez se lembrem dele(s) da vossa sala de estar, por onde Stereoboy andou em digressão. É música electrónica sem pressas, em formato pop com variações sobre o amor. Vão estar, em trio (ninguém faz nada sozinho), na terra batida do Ténis, domingo às duas da tarde. Eu já vi a coisa no Maria Vai Com as Outras e se calhar não vou porque sábado vou estar a passar discos no Passos e, por isso, não sei bem como é que vou acordar. Mas aconselho vivamente.

VICE: Porque é que decidiste inventar o Stereoboy?
Luís Salgado: O Stereoboy nasce de uma necessidade minha de comunicação de música num âmbito mais instintivo e emocional, por oposição a outras coisas mais sistematizadas, frias ou cerebrais que já faço há uns anos. Que coisas sistematizadas, frias e cerebrais são essas que te ocupam há já uns anos?
Em música pop os U-Clic, outro projecto meu — está parado neste momento — e que tem uma componente electrónica muito vincada. Em termos académicos, composição ligada à área que estudo, que é o sound design e a geração automática de música. O formato ao vivo de Stereoboy é com a Íris e o João, em trio. Não ficas lixado por teres criado um projecto e depois veres a crítica e as pessoas a pensarem que é uma banda? Os Stereoboy.
Não fico lixado, é natural. Isto é um projecto muito mutante e já no primeiro EP houve essa confusão que se esbateu mais no segundo EP por ter uma série de convidados a tocar e a cantar. Agora que comecei a tocar ao vivo é óbvio que tive de contar com ajuda de amigos porque não sei cantar nem tenho quatro braços para tocar tudo. Voltou a acontecer. É natural porque em Portugal, e principalmente na música popular, não é muito frequente haver projectos em que há um compositor e vários vocalistas e músicos, especialmente quando o compositor não canta. Mas esta formação ao vivo também não é fixa, foi a ideal para esta fase, mas tenho a liberdade de a modificar, alargar ou encurtar conforme as necessidades do projecto. E com o tempo essa ideia vai ficar mais clara. Tendo em conta a acessibilidade aos meios de produção e distribuição, o que é que achas que pode melhorar a indústria musical? 
Sinceramente, acho que a indústria musical, tal como existe desde meados do século passado, morreu. Neste momento os músicos e criadores musicais não necessitam de editoras, promotoras, distribuidoras, armazéns, rádios e etc para fazer a sua música chegar às pessoas. Estamos a viver uma revolução tão grande como a que deu origem a essa mesma indústria que foi o registo fonográfico. Só eles é que ainda não viram isso. O que pode melhorar? Talvez uma adaptação em que essa indústria perceba as mudanças que aconteceram, nomeadamente que a música terá inevitavelmente de ser de distribuição livre e que o suporte físico tem de ser um objecto especial, quase de colecção para ser comprado. Vais ao extremo de achares que já não há espaço para compra e venda de músicas em formato digital? 
Eu gosto muito do formato físico, apenas acho que hoje em dia não faz sentido servir apenas como suporte físico de música, tem de ter alguma mais válida para ser comprado, o artwork, o vinil, disco-livro, etc. A venda em massa acabou. Quanto à venda do formato digital, é uma forma que a indústria encontrou de copiar o paradigma do "comércio tradicional" para a net, quando o que mudou foi o próprio paradigma. Por exemplo, aquela solução de cada um dar o que quer, acho muito mais adequada. Mas eu não sou merceeiro, apenas faço música. Não achas que as aplicações de geração automática de música podem vir a ganhar terreno no campo da produção e consumo de música? Tens ideia de desenvolver trabalho nesse sentido?
As aplicações de geração automática de música estão a ganhar terreno sim senhor, permitindo até a quem não domina linguagens musicais a possibilidade de estar em contacto directo com a criação musical, entre outras coisas. Desenvolvo trabalho nesse sentido todos os dias, já que é uma das minhas áreas de mestrado. O que é que gostas mais em Steroboy?
O que mais gosto em Stereoboy é a possibilidade de fazer o que me apetecer, traçar o rumo que quiser, convidar quem quiser para colaborar… A total liberdade do projecto, portanto. E se fosses rico o que é que fazias?
Se fosse rico fazia precisamente o que faço, mas com um grau de conforto elevado. Fotografia por Mariana Marques VICE: Qual foi o teu caminho até ao Stereoboy?
Íris Rebelo: Conhecemo-nos através do Emanuel Botelho. Estávamos todos no lançamento do EP dos Sensible Soccers. O Joãozinho e o Salgado estavam cá fora bêbados, eu estava cá fora. Eles comentaram com o Emanuel que andavam à procura de uma vocalista e o Emanuel, que é um querido, recomendou-me. “Aaahhhh, a Íris! A Íris é uma cantora do caraças! Mesmo, a sério!". E o Salgado olhou para mim meio vesgo, meio não estou bem a acreditar no que ele está a dizer. “Mas cantas mesmo? Mas… Mesmo? Agora a falar a sério…". Passados uns dias fui a casa deles com as letras num caderno, tocaram a “M1” e acharam que eu era a cena para a cena. E mais coisas assim profissionais às quais estejas agora a dedicar algum tempo? Na música ou fora dela.
Estou a tentar fazer uma revista. Miolo?
Sim, a revista vai estar em vários pontos do país quando sair. Vai ser baratinha e tem colaborações de pessoal fixe e bacano. Na música também tenho um projecto de originais com o Mário Mota-Veiga e tenho uma banda de covers onde sempre cantei, mas não tenho conseguido estar muito presente porque não tenho ido muito a Viseu. E se fosses rica o que é que fazias?
Se eu fosse rica, já tinha algumas revistas cá fora, tinha um negócio aberto e tinha lá os meus amigos todos a trabalhar. Na música estaria tudo a andar na mesma, mas "em lindo". E sem stresses de ter de contar trocos para ir ao Porto. E também não estava a cantar de calças de ganga em Stereoboy. Comprava a colecção toda à Joana Ferreira e cantava de Joana Ferreira. Se fosses obrigada a escolher uma actividade para os próximos dois ou três anos preferias design ou música?
Música, claro. Gostava de perceber a visão que tens sobre as várias vertentes do processo de criação e criação de cultura musical. O que achas que vai acontecer?
Depois de se voltar a exaltar o objecto, não faço ideia do que vai acontecer. Penso bastante sobre isso e ainda não cheguei a conclusão nenhuma. O que é que gostas mais no Steroboy?
Das bebedeiras do Joãozinho. VICE: Olá João, quando que começaste a tocar com o Luís? 
Joãozinho: Bem, quando ele decidiu transportar Stereoboy para o formato de concerto. Estávamos os dois em Castelo Branco, a tirar a licenciatura em música electrónica e produção musical, e acabámos por ter uma ligação e comunicação musical muito boa. Ele já conhecia o meu projecto e convidou-me para participar num tema do EP M. Depois começámos, juntamente, a trabalhar nos arranjos das músicas para o formato de concerto. A partir daí foi ensaiar, ensaiar, tocar, tocar. De que outros projectos fizeste parte?
Neste momento tenho o meu projecto a solo Daily Misconceptions, pelo qual já editei dois EPs. Também já editei pela Bor Land com o projecto Puget Sound e já trabalhei com os Norton onde fiz arranjos, composição e programação para o segundo álbum de originais Kersche, depois participei nessa turné como músico convidado. Por vezes, faço algumas remisturas, como para Blac Koyote, Lasers, entre outros. A indústria é uma actividade económica que tem por finalidade transformar matéria-prima em produtos comercializáveis, utilizando para isto força humana, máquinas e energia. Tendo em conta acessibilidade aos meios de produção e distribuição o que é que achas que pode melhorar na indústria musical?
Na minha opinião, a indústria musical está completamente desactualizada e fora do panorama musical que se vive já há algum tempo. Não acho que seja absolutamente necessária nos dias que correm. Já muitos músicos deixaram esta dita indústria e cada vez mais estão a encontrar outros caminhos. Na minha opinião não pode melhorar em nada porque as pessoas que estão à frente dela simplesmente não querem fazer nenhuma alteração. Com a evolução e alteração dos hábitos do consumo, os consumidores cada vez mais decidem o que querem ouvir e quando. Resta aos artistas criarem meios novos e imaginativos de fornecerem música, o que é um grande desafio. O que é que gostas mais no Steroboy?
O que gosto mais em Stereoboy é mesmo a música, mas o Luís também sabe fazer um atum à Brás maravilhoso! E se fosses rico o que é que fazias?
Se eu fosse rico passava os dias a fazer música com os meus amigos e não tinha aquelas preocupações do tipo “preciso de comprar aquele material, mas para isso tenho de vender o outro”.