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Música

Discos: Homicide McBride

Se isto vos escapou, tentem não ficar ofendidos convosco próprios.

Ruff Jamz II

Roar Groove

8/10

Primeiro um episódio inédito do

Seinfeld

:

Ah, os técnicos de som do Cabaret Maxime: pessoas tão afáveis como curiosas. Sei disso, porque há alguns anos tinha acabado de passar discos, no Maxime, quando dois técnicos e um terceiro amigo embriagado me encurralaram na cabine de som para colocar uma pergunta que me havia de marcar para a vida: “Gostas de Camel?”. Ainda que, às quatro da manhã, a capacidade de pensar já escasseasse, presumi que não estariam a falar da marca de tabaco e sabia, por acaso, que os Camel eram uma banda de rock progressivo (e pouco mais que isso). Arrisquei dizer que não para que pudessem levantar a cancela sem mais perguntas. O que fui eu dizer… Não gostar de Camel era para eles uma das piores condições humanas possíveis e um deles até me avisou para nunca contar tal coisa a mais ninguém. Ainda me tentei redimir ao dizer-lhes que “curtia King Crimson”, mas nem isso me valeu naquele momento tão delicado em que fui banido da “esfera de bom gosto” dos técnicos de som do Cabaret Maxime.

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Agora a conversa do costume sobre uma cassete:

O episódio que acabei de contar mostra não só como a noite de Lisboa pode ser hostil, mas também como desconhecer determinada música pode provocar alguns embaraços. Pegando à sua maneira nesse último factor, a Roar Groove tem sido aquela

label

que aposta em

edits

de velhas canções de

boogie

,

disco sound

e

funk

, que tínhamos a obrigação de já conhecer (mesmo que isso possa não acontecer tantas vezes). O que se passa então, enquanto escutamos um disco da Roar Groove, é ficarmos quase ofendidos connosco próprios ao reparar que uma boa parte disto nos escapava até aqui.

Ruff Jamz II

é o segundo mix, numa série da Roar Groove, que coloca um anfitrião (neste caso Homicide McBride) em viagem fluída pela música negra durante aproximadamente uma hora (dividida em dois lados de uma cassete altamente coleccionável e quase a esgotar). É muita a ginga e o badalar do

cowbell

que podemos encontrar por aqui, mas há uma alegria especial em malhas soberbas como “Take Some Time Out for Love”, da Salsoul Orchestra acompanhada por Jocelyn Brown, ou “Dance Your Blues Away”, de Ivan Neville — as duas armadilhas perfeitas para meter uma festa a rolar ou para deixar à nora os técnicos de som do Maxime, que provavelmente também não conhecem Salsoul Orchestra ou Ivan Neville.