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Anus Horribilis: Faz um ano que alguém deu uma cagada tão cabulosa que o avião teve de voltar

Reflexões sobre o espírito da natureza humana, social e individualmente, no primeiro aniversário da mais marcante cagada do séc. 21, o verdadeiro avião brutal do scat.

De novo: este não é o avião em questão, é só uma foto do mesmo modelo de aeronave (foto via Aero Icarus ).

Às vezes no silêncio da noite, eu fico lembrando desse causo. Quando as luzes estão azuladas, meus olhos estão abertos, eu estou pensando nele. Me perguntando: o que será que aconteceu com você, Pessoa que Deu uma Cagada Tão Cabulosa que um Avião da British Airways Teve que Voltar pro Aeroporto? Quando será que vossos barrotes voltaram ao normal? Daí penso: "Estou pensando na Pessoa que Deu uma Cagada Tão Cabulosa que um Avião da British Airways Teve que Voltar pro Aeroporto, mas o que será que a Pessoa que Deu uma Cagada Tão Cabulosa que um Avião da British Airways Teve que Voltar pro Aeroporto está pensando? Será que ela está pensando merda? Mais importante: em algum momento ela consegue parar de pensar no fatídico cocô, naquele trôço que fez o avião ter que pousar? A pessoa ainda fica com as bochechas ardendo de vergonha? Ou a vida continua? Quanto tempo vai levar até que ela possa evacuar confortavelmente de novo?".

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Um ano atrás, a VICE publicou a minha manchete mais compartilhada da história: Alguém num Voo da British Airways Deu uma Cagada Tão Cabulosa que o Avião Teve de Voltar . Isso é um fato. Isso aconteceu. O avião estava indo de Heathrow para Dubai, mas 30 minutos depois de decolar, a aeronave teve que dar meia volta. Alguém tinha inutilizado definitivamente o banheiro do avião usando o toba. Por consequência do arrebento instentinal, o voo passou a ser considerado arriscado, já que o cocô podia envenenar o ar. Uma funcionária da BA, conhecida apenas como "Sarah", disse a BBC na época: "Quando você está nessa altitude, a cabine precisa ser pressurizada, então o problema é que qualquer coisa como essa é realmente um risco para a saúde, porque 50% do ar é reciclado". O político do partido conservador inglês Abhishek Sachdev, um dos passageiros que teve que esperar 15 horas pelo voo seguinte para Dubai depois do incidente, ficou eufórico com a bosta aérea: "É uma loucura. Nosso voo da BA para Dubai voltou para Heathrow por causa de um cocô fedido no banheiro". Foi uma merda que mudou a vida de muitas pessoas. Essa merda destruiu as férias de alguém e lançou carreiras na mídia. Essa merda foi muitíssimo falada.

No grande esquema das coisas, essa merda é mais significativa que muitos de nós, e sim, isso me inclui. E ainda assim, o nome do cagão continua um mistério.

Isso só me faz pensar ainda mais na pessoa que cagou, sobre quem ele é e o que ele sentiu. Isso foi o que me manteve ocupado por doze meses direto, tentando fazer o perfil dele na minha cabeça. A seguir, compartilho algumas das conclusões que alcancei:

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I. O cagão quase com certeza é um homem. Olha: sou um cara feminista, de verdade. E uma das bases do feminismo é: não assuma que os homens são a resposta pra tudo. A ideia de que é sempre um homem que está apto para fazer o trabalho x, ou comandar a equipe y, ou dar um cagão z num banheiro de avião α, e temos que combater esse tipo de suposição, temos que pensar além disso. Temos que considerar que as mulheres também estão envolvidas em tudo, e, em certas situações, até mais que os homens. Mas nesse caso, me recuso a acreditar que uma mulher poderia dar uma cagada tão nervosa que um avião teve voltar. Já entrei em banheiros depois de outros caras. Já entrei em banheiros depois de minas. Um cara fez esse cocô, com seu cu masculino;

II. Acredito que o cagão estava tendo um dia digestivo anormal. Alguém com um problema intestinal crônico — do tipo que pode fazer um banheiro de avião ser considerado um risco para a saúde em dez minutos — não ia pegar um voo de sete horas para Dubai. Ele ia pegar um trem para a França nas férias, nada muito mais exótico do que isso. Qualquer coisa mais longe que uma hora de casa é território perigoso. Ele ia trazer seu próprio suprimento de água, porque não confia na água da torneira da França. Mas o cagão do voo Heathrow-Dubai da BA, na minha opinião, não estava esperando que isso fosse acontecer com seu corpo. Ele estava de ressaca ou algo assim. Ele comeu um frango na casa de alguém um dia antes, e viu que o meio estava rosa, mas não quis ser mal-educado e comentar. Nada muito fora do normal. Mas aí, algo muito fora do normal saiu dele, em alta velocidade, e voou muito além do alvo principal da privada em que ele estava mirando, e fez um avião ficar no chão por 15 horas;

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III. Gosto de imaginar o momento de puro pânico que o cagão experimentou quando percebeu que o banheiro do avião não estava equipado para se livrar do que ele tinha feito. Tipo: Será que tinha alguém esperando no corredor? Sabe como são essas coisas: você tem que sair do banheiro, mas deu um cagote catastrófico e impossível de limpar, e alguém está esperando lá fora, mas a paciência da pessoa vai acabar em 8 minutos ou algo assim, então você fica sentado lá — em silêncio, uma gota de suor escorrendo pela testa — e você espera, na sua prisão de merda, no mais baixo momento da sua vida, até que a pessoa vá embora;

IV. Como você continua vivendo depois de um incidente dessas proporções? Como você chega a Dubai? Você aparece um dia depois do esperado e todo mundo que ia te encontrar ouviu falar sobre o cocô que fez o avião voltar. "Você estava naquele voo?", eles perguntam. "Você viu a merda?" E você ri nervoso e diz: "Haha, não". E você tenta aproveitar sua semana em Dubai com todo o sol, a areia e os excessos, mas não dá — não dá pra relaxar a menos que você esteja a 100 metros de um banheiro, você não consegue dormir sem relembrar do momento naquele cubículo. O voo de volta é um inferno do intestino preso. E aí você chega em casa, reencontra o seu banheiro, mas algo essencial está diferente. Você… você está com medo de cagar? Sim. A última vez que você cagou, um avião teve que pousar. Nada será como antes. Você vai carregar esse fardo para todo o sempre;

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Agora você pode pensar: "Calma aí, Joel, você não se encaixa perfeitamente no perfil do cagão? Você parece saber muito sobre essa pessoa mítica. Você não é um homem em pânico, capaz de dar o tal barrão assassino?" Sou todas essas coisas e muito mais. Mas não sou o cagão misterioso. Sou apenas um homem que passou um ano inteiro habitando o espaço mental onde o cagão poderia viver, tentando entender essa pessoa de dentro para fora, de todos os ângulos, da boca ao cu. Sinto que entendo o cagão misterioso mais do que ele entende a si mesmo. Se você fizesse uma fileira de reconhecimento com todo mundo que estava naquele voo de Heathrow para Dubai, e se eu olhasse todos eles nos olhos, eu poderia dizer quem cagou. Eu veria a dor, o medo, a fraqueza inerente dentro dele e diria: "É esse o cagão. Esse homem fez aquele cocô".

Se você está lendo isto, cagão anônimo, saiba que você já foi perdoado. Você cometeu um erro, mas todo mundo comete erros. Um ano atrás você fez um cocô. Um cocô que afetou o funcionamento de uma aeronave de milhões de dólares, mas nada além de um cocô. Todo mundo caga, todo mundo erra. Aquele que nunca pecou — aquele que nunca tomou seis latões de cerveja e comeu um dogão na noite antes de pegar um voo intercontinental — que jogue a primeira pedra. Fique em paz, cagão misterioso. Enterre aquele cocô .

@joelgolby

Tradução: Marina Schnoor

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