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Um australiano me mostrou evidências de viagem no tempo num CD-ROM de Windows 95

Conheci o chefe do Australian Time Travel Study Group que usa um ‘micro’ antigaço para compilar evidências de viagem no tempo nos mitos gregos, histórias da Bíblia, profecias de Nostradamus etc.

Eu sempre quis viajar no tempo. Tem alguma coisa nos filmes Kodachrome que me faz ter certeza que a vida era melhor no passado — o clima era mais gostoso, as cores eram mais brilhantes e os cortes de cabelo mais estilosos. Para mim, férias perfeitas seriam um final de semana no passado. Qualquer passado. E exatamente por isso, quando vi um carro com decalques que diziam "Evidências de Viagem no Tempo", fiquei muito, muito interessando.

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O Australian Time Travel Study Group é comandado por um australiano chamado Robb Pengelly. Segundo seu site (que por si só já é uma viagem aos tempos da web 1.0), o grupo organiza evidências que sugerem que humanos têm viajado no tempo há séculos. Ele diz que há referências de viagem no tempo nos mitos gregos, nas histórias da Bíblia e nas previsões de Nostradamus. Mas o site não explica muito mais do que isso. Então fui atrás do Robb.

Curioso, agendei a oficina gratuita, mas Robb me avisou que eu não poderia fazer perguntas ou entrar em debates filosóficos. Ele também não ia me deixar usar uma câmera. Em vez disso, ele tiraria as fotos e me mandaria por e-mail as que mais gostasse. E assim cheguei à casa suburbana de Robb em Adelaide.

A casa do Robb e o carro que mencionei antes.

O Robb era um cara alto e careca simpático, usando um blazer formal dos anos 90. Ele me levou do portão até uma entrada lateral, passando por algumas roupas secando na garagem. Ouvi música latina vindo da sala e o Robb me disse que dança latina era um hobby dele. Quando entramos, ele desligou a música e apontou para uma mesa.

Foi aí que vi o computador mais velho do mundo. Era o mesmo computador que eu usava quando moleque, que não rodava nem Age of Empires I. Era essa a evidência de viagem no tempo? Olhei para o Robb, mas ele estava completamente sério. Isso não era uma piada pra ele, e para provar, ele começou a me contar sobre um CD-Rom do Windows 95 que ele tinha certeza que foi levado de volta e deixado no meio do Egito Antigo. Sim, a proteção de tela do Windows e tudo mais foi mostrado para pessoas como Moisés, e eu estava prestes a ver provas disso em primeira mão.

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Robb me instruiu a observar certos detalhes enquanto eles apareciam, depois apertou o "enter". Um vídeo de introdução pixelado explicava que Moisés descreveu um "vazio e escuridão" em Gênese 1:2, aí a tela ficou escura por três segundo, como previsto. E aí, enquanto eu ouvi sons calmantes de praia pelos alto-falantes do PC, li que Moisés também profetizou "o alvoroço de uma massa crescente de água". Robb me perguntou se eu ouvia "o alvoroço de uma onda se formando". Eu disse que sim.

Robb apontou mais provas de sua lista e as coisas começaram a ficar estranhas. Apocalipse 5:1, no Novo Testamento, diz que um "livro antigo" será "fechado com sete selos". O número do sétimo selo, segundo a profecia, seria 144.000. O que isso podia significar? Rob me mandou conferir o tamanho do arquivo que lançava o programa. O arquivo tinha 143.442 bites. Robb me mostrou outro item.

Depois de muitas outras provas, decidi que já tinha visto o suficiente, já que eu não queria ficar preso eternamente naquela teia de inferências a viagens no tempo. Então paramos e o Robb me olhou, como se esperasse alguma coisa. Ele me perguntou para que tempo eu voltaria, e pensando em Meia-Noite em Paris, respondi os anos 20. Ele me olhou surpreso e me disse que seria melhor voltar para os tempos bíblicos, com tecnologia para impressionar os locais e alertar sobre as futuras guerras. Foi o mais próximo que chegamos de criar algum laço. Aí ele me disse que nossa sessão tinha acabado.

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Saí de lá nem um pouco mais perto de viajar no tempo, que nem era a questão àquela altura. Eu só queria conversar com alguém que curtia isso tanto quanto eu. Então mandei alguns e-mails para o Robb, tentando me conectar com ele, mas ele só respondia com links para mais evidências. Pedi o telefone dele, mas ele não quis me dar. Não tínhamos compartilhado algo especial, algo estranho pacas? Sentindo meu ceticismo, ele não ia responder, apesar de ter colocado uma foto minha em seu site. Eu queria poder voltar para um tempo em que as pessoas eram mais abertas.

Fiz algumas pesquisas e descobri que as "provas" não era realmente do Robb. Aparentemente, todas essas coisas foram compiladas por um cara de Queensland chamado Ronald Pegg. E segundo a Biblioteca Nacional da Austrália, Ronald Pegg escreveu um livro chamado Nostradamus Unsealed: the discoveries of Ronald Pegg. Mas o livro foi publicado por um "Study Group, S. Aust", o que faz parecer que foi o Robb quem o publicou. Outra coisa estranha é que Robb às vezes lista seu nome como Eddy Pengelly, dependendo do site em que você entra. E em todos os sites do Eddy, Robb está com uma barba gigante. Nesse ponto, resolvi desistir.

Mas a última coisa que descobri é que a primeira referência real escrita sobre viagem no tempo aparece na história hindu do Rei Raivata Kakudmi. O rei viajou brevemente para o paraíso e encontrou seu criador. Quando voltou para casa, percebeu que milhões de anos tinham se passado. E essa história aparece num poema sânscrito conhecido como Mahabharata, escrito por volta de 2.800 anos atrás. O que não é tão mal, considerando que o poema faz alusão à teoria geral da relatividade de Einstein. Ok, talvez Robb/Eddy/Ronald não esteja tão errado assim.

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