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Os Estudantes da Bulgária Querem que o Governo Inteiro Renuncie

Semana passada, as notícias revolucionárias mais ambiciosas vieram da Bulgária, onde estudantes ocuparam suas universidades e exigiram “a renúncia em massa do governo atual”.

Manifestantes carregam uma faixa que diz, simplesmente, “RENUNCIEM”. (Foto por Plamen Stantchev)

Semana passada, as notícias revolucionárias mais ambiciosas vieram da Bulgária, onde estudantes ocuparam suas universidades e exigiram “a renúncia em massa do governo atual”. Pode parecer uma demanda exagerada — gabinetes inteiros não costumam deixar seus postos só porque estudantes insatisfeitos pediram — mas protestos generalizados contra a coalizão do governo vêm acontecendo desde a metade do ano. A taxa de aprovação do governo continua a cair, e agora está abaixo de 12%, deixando evidente que eles têm pouca gente a seu lado.

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A reação começou em 14 de junho, quando Delyan Peevski, o magnata da mídia, foi indicado como chefe da agência de segurança nacional da Bulgária. O primeiro-ministro Plamen Oresharski disse que, apesar de sua completa inexperiência, Peevski –— que, por acaso, é dono de 80% da mídia búlgara — era o candidato perfeito para pôr um fim no crime organizado e no contrabando no país. O presidente Rosen Plevneliev discordou, afirmando que a indicação de Peevski prejudicou a credibilidade do primeiro-ministro.

A comoção não parou por aí e, depois que milhares de pessoas saíram às ruas para protestar contra o nepotismo, Peevski renunciou, em 15 de junho, depois de somente um dia no posto, em 15 de junho. Mas isso não ajudou a diminuir os protestos — os búlgaros já estavam insatisfeitos com o governo há tempos e a decisão de Orecharski foi um mero catalizador para que eles começassem a manifestar seu descontentamento.

Uma estudante dentro do prédio ocupado de uma universidade búlgara. (Foto por Konstantin Pavlov.)

Depois de alguns meses de manifestações, as marchas começaram a minguar e, enquanto o movimento perdia força, os estudantes foram deixados para lutar sozinhos. No entanto, as ocupações de prédios das universidades têm estabelecido uma nova onda de dissidência antigoverno. Estatísticas divulgadas esta semana mostraram que 60% do público búlgaro apoia as ocupações e na sexta-feira passada, cerca de duas mil pessoas marcharam em Sófia para acusar o governo de ter laços com “grupos empresariais escusos”.

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Desde a queda do comunismo em 1989, a paisagem política búlgara não tem sido plácida — o sistema de partidos é instável, na melhor das hipóteses. Maarten Vonk, professor e morador de Sófia, afirma que dentro desse quadro instável, o governo se tornou corrupto: “Eles não têm um mandato real e são apoiados pelo partido fascista Ataka”, diz ele. O Ataka (ou “Ataque”, um bom nome para um partido fascista), um partido ultranacionalista popular (que ficou em quarto nas últimas eleições), é conhecido por ser antissemita, racista, anticigano e islamofóbico. Essencialmente, o partido não gosta de ninguém que não seja branco e búlgaro de nascença. Assim, fica fácil entender por que é do interesse público derrubar aqueles que estão no poder.

Policiais bloqueiam o acesso ao parlamento búlgaro. (Foto por Plamen Stantchev.)

O primeiro-ministro chamou os manifestantes de bandidos, mas Maarten me disse: “Claro, é o contrário — essas pessoas são a esperança do país no momento”. Ele continuou, explicando como um fracasso desse movimento pode prejudicar a Bulgária: “Se eles não tiverem sucesso, uma grande fuga de cérebros pode ocorrer, começando em janeiro”. Ele se refere aos jovens búlgaros com educação que vão trocar o país pelo Reino Unido ou um dos outros sete membros da União Europeia quando esses países abrirem as portas para cidadão búlgaros e romenos no primeiro dia de 2014.

Apoiando o que Maarten disse, outro manifestante — Konstantin Pavlov — disse: “O governo não vai responder à agitação civil. Jovens com educação, especialmente profissionais especializados que não veem mudança e que não conseguem achar empregos decentes, vão considerar sair do país se este governo não renunciar logo”.

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Com um salário médio equivalente a R$900 a R$1.150 por mês, morar e trabalhar no exterior já é uma perspectiva tentadora. Maarten ensina holandês e não pode falar por todos os seus estudantes, mas diz que há um consenso de que eles “irão para a Holanda ou Bélgica, independente do resultado dos protestos. Eles querem fazer algo da vida — querem ter um futuro. Se este país não pode dar essa oportunidade a eles, então eles terão que ir embora”.

Manifestantes seguram um cartaz que diz “Quero uma vida normal”. (Foto por Plamen Stantchev.)

Parece que os britânicos por trás da petição do Daily Express “diga NÃO aos novos migrantes da UE” não precisam sapatear por causa de um influxo súbito de europeus orientais invadindo o Reino Unido. A maior preocupação deveria vir da Bulgária — que, como a Irlanda, está prestes a perder boa parte de sua geração mais jovem e com mais educação.

No entanto, o primeiro-ministro Oresharski não parece particularmente preocupado com a perspectiva de perder as mentes mais trabalhadas de seu país e denunciou os protestos como uma farsa. “Eu esperava um tipo diferente de protesto por parte dos estudantes — um protesto profissional, sobre educação”, ele disse. “Porque a educação não está em seu melhor momento, mas as demandas deles são tipicamente políticas.” Algo estranho de se admitir quando quase 60% da população já está pedindo sua renúncia.

Nikolay Dyulgerov, um estudante de Sófia, disse que o governo, obviamente, “não parece inclinado a renunciar”, antes de me contar que a única ação direta que viu foi quando “um membro do partido no poder veio até a universidade com um bando de 20 ou 30 hooligans que atacaram os prédios ocupados”.

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Quando perguntei a Maarten se ele achava que os protestos teriam sucesso, ele respondeu: “Depois dos primeiros dez dias, achei que sim; depois dos primeiros 100 dias, achei que seria impossível. Agora, rumando para os 150 dias, acho que não há outra opção".

Seja qual for o resultado, as manifestações com certeza ressoarão por toda a UE no ano que vem. Mesmo se primeiro de janeiro não apresentar um êxodo em massa da Bulgária, protestos sem um final à vista nunca são um bom sinal do bem-estar de um país.

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